vita

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Era uma terça-feira nublada naquele mês de novembro de 60. Tudo muito calmo na 20 Forthlin Road, onde Paul McCartney, junto com seu companheiro John Lennon conversavam seriamente sobre os caminhos que iriam trilhar juntos. A partilha de sentimentos era algo forte demais para ser pequeninamente compactada pelas paredes daquela casa, de qualquer casa. Ainda que "bisbilhotassem" o passado que estavam prestes a deixar, tinham em seus corações que: almejavam bem mais do que o agora que viviam, queriam tudo, queriam o mundo de alguma maneira, e queriam que o mundo também fosse deles. Juntos, sempre, para sempre.

-Então tá decidido. Vamos embora. Sem olhar pra trás e todas essas coisas. -Disse um Paul sorridente mas um pouco preocupado com a saudade.

-E viver do que a gente gosta: música... -Disse John guardando sua gaita de boca e segurando sua guitarra no colo.

-E da companhia um do outro. -Completou Paul, mirando-o nos olhos.

Uma pausa foi feita, acompanhada de sorrisos mútuos. Sem jeito, mas cheios de amor.

Sabiam de todos os riscos, mas o que sentiam era maior do que tudo o que pudesse passar pelas suas jovens cabeças. Adrenalina, felicidade, a certeza de viverem juntos para sempre. Nada os afastaria. Eram inseparáveis, logo, imbatíveis. Ninguém podia mudar isso.

-A gente devia escrever uma música sobre isso. -Sugeriu John.

-Uma música sobre como vou deixar toda minha vida pra trás e sair da cidade contigo? -Perguntou um McCartney sarcástico.

-Sei lá, algo pra registrar. Começar de novo.

-Hm. -Paul girou a cabeça, mirando as cordas de seu baixo. -Por que não?

-O que acha de um blues?

-Melhor, impossível.

McCartney rapidamente rastejou seu gravador que estava debaixo da cama para bem perto dos próprios pés. Checou aquela máquina e a afinação do seu violão. Tudo pronto.

-E vamos lá... -Disse ele concentrado. -Um, dois, três...

Nos primeiros acordes da guitarra de Lennon, Paul fez sua introdução:

"Well oh Johnny, oh Johnny, oh god Johnny boy

How are we gonna tell him

Why don't we go somewhere where he don't own me

Where can i go?

Oh Johnny boy you wore me out

Oh Johnny, oh Johnny, oh Johnny boy"

John logo acompanhou:

"Hey little boy, I'm packing my shoes, and I'm leaving you

I told my Mama I'm going to see my sister

She don't see me, I don't know what I'm going to do"

E Paul seguiu:

"A long time ago I called you Johnny boy

I don't know what to tell the fellas

Please, oh please, Johnny"

Lennon animado cantou:

"Well I'll tell the fellas that I do love you"

Para McCartney completar:

"I don't know what I'm gonna do

I don't know what I'm gonna do when I tell my father

You love me Johnny, I love you Johnny

I'm not gonna let you go

..."

Ao fim, com seus instrumentos descansando e gravador desligado, McCartney suspirou fundo. A felicidade, o medo, a emoção e a saudade viravam naquele momento, um redemoinho estranhamente confuso. Tudo era incerto, exceto o sentimento devoto que carregava. O futuro os esperava, era apenas uma questão de se deixar ir.

O redemoinho se dissipava ao se deparar com os olhos que o miravam extasiantes.

Desconcertou-se um pouco até elaborar alguma sentença que fizesse sentido. Ele tinha esse poder. Tinha e detinha. Ele sabia. Apenas concordo sem objeções.

-Bem, Johnny boy... -O dia de amanhã dependerá apenas de nós. Nós e o mundo lá fora. -Mirou o tempo nublado pela janela. -Dá pra imaginar?

Com um amor que não cabia no peito, contemplando a vida em sua frente, Lennon já tinha suas certezas. A certeza. O mundo era apenas o background daquelas duas vidas protagonistas. E docemente, por fim, respondeu com um sorriso de orelha a orelha:

-Completamente, Paulie.

PARIS 61 - MclennonOnde histórias criam vida. Descubra agora