Paris 66

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E pela segunda vez estávamos em Paris.

Eu ainda não conseguia acreditar. Depois de tantos anos... E pra comemorar meu aniversário novamente! Uns dias atrasado, mas isso nem importava. Eu iria ganhar o melhor presente (de novo).

Não vou mentir que desde que desci do avião não parava de suar frio. Uma mala em cada mão, pobremente disfarçado. A quem eu queria enganar com um corte de cabelo, um penteado para o lado e um par de óculos de armação simples? Se bem que... Talvez nem houvessem percebido. Da última vez que soltaram alguma notícia minha eu estava com um penteado totalmente diferente, cabelo desgrenhado, sujo. O filme que terminei de gravar a poucas horas só será lançado daqui a um par de semanas, talvez um mês! Então, tudo ocorrendo muito bem até aqui.

Dentro do táxi eu estava indo até Montmartre, mais especificamente para o pequeno hotel que ficamos da última vez, perto da Avenue des Anglais. Quase nada por lá havia mudado. O misto de nostalgia, excitação e ansiedade percorriam meu corpo todo. Por uns instantes jurei não me reconhecer pelo nervosismo e frio na barriga, mas era apenas eu quando estava perto de encontrá-lo. Sempre assim, nem que fosse por breves segundos. Quem me conhece com um humor afiado e temperamento por vezes explosivo, nem se quer pensaria no quão romanticamente clichê eu era quando de tratava dele.

Depois de percorrer alguns pontos conhecidos, percebi que estava próximo do hotel. Deixei prontamente o dinheiro no bolso e esperei. Admirei novamente as pessoas de Montmartre caminhando pelas calçadas, sorridentes, por vezes brincando, por vezes se amando. Por um instante me imaginei feliz assim... Gente de sorte.

E finalmente lá estava eu, em pé fora do carro, olhando para o hotel mais comum dali, e mais realizado do que se estivesse em qualquer hotel luxuoso que o Brian pudesse arranjar. O táxi partia enquanto eu pegava minhas malas, uma em cada mão, já dando passos pequenos até dentro do edifício. Cheguei na recepção com meu melhor sorriso.

"Bon après-midi, madame." Arranhei um francês fazendo uma voz levemente alterada.

"Bon après-midi, monsieur." Disse ela mais sorridente do que eu. "Vous désirez?"

"Désolé, je ne parle pas français." Isso certamente foi a única coisa que aprendi com o Paul da última vez.

"Inglês então?"

"Perfeito!" Quase gritei animado. "Agradecido." E ela sorriu novamente. "Bem, um amigo meu fez uma reserva mais cedo aqui e eu gostaria de saber em qual quarto ele está. Acredito até que ele tenha deixado um aviso."

"Já até sei quem seja. Mas deixe-me só confirmar, sim? Pode me dar o nome dele?"

"Sim. É James Winston." Quase solto uma gargalhada alta falando aquilo. Só para constar: isso não foi ideia minha, mas acatei.

"Pois bem, é ele mesmo. Quarto 06. Pode subir por ali. Primeiro quarto à esquerda."

"Merci."

"De rien."

Segurei firme as malas, indo em direção à escadaria. E a cada degrau que ia subindo, meu coração batia mais forte. Eram doze. Doze gigantes degraus. Mas por fim, bem no último, deixei um longo suspiro, e tudo pareceu leve.

Girei os calcanhares e dei mais três passos. Estava de frente ao quarto. Bati na porta com o pé.

Ouvi o trinco duas vezes e em seguida o vi abrindo a porta com um sorriso gigante. E bem, eu tinha um pensamento antes de vê-lo; depois, eu só consegui invadir o quarto numa velocidade espantosa, avançando em direção a ele e jogando imediatamente as malas no chão enquanto ao mesmo tempo fechava a porta com um empurrão de pé.

PARIS 61 - MclennonOnde histórias criam vida. Descubra agora