temptatio

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Glasgow, Escócia, 1964

Camarim dos estúdios STV

-Quinze minutos, rapazes!

Brian Epstein já gritava do corredor a fim de fazer com que seus garotos parassem qualquer brincadeira e subissem para dar a entrevista ao programa Roundup, apresentado por Morag Hood e Paul Young. Seria algo bem rápido se todos cooperassem e seguissem suas ordens.

George e Ringo saíram do camarim aos risos, deixando Epstein curioso.

-Alguma piada boa, jovens? –Perguntou intrigado.

-Boa? –Indagou George. –Foi ótima! Paul cuspiu todo o refrigerante que estava tomando. Teve que refazer a maquiagem!

-Ah, meu Deus! –Retrucou Epstein procurando passagem entre os garotos, adentrando o camarim. Logo de cara só avistou Lennon sentado em uma cadeira massageando um dos pés. –Diga-me que Paul já está pronto, John.

-Pronto para a vergonha, só se for. –Prendeu um riso. –Entrou agora no banheiro.

-Paul! –Gritou de onde estava. –Está tudo bem?

-Tudo sob controle, Brian! É coisa rápida!

-Por favor, diga que vai levar menos de quinze minutos.

-No máximo dez. Podem ir na frente!

-Ótimo! Vamos, John?

-Vou calçar os sapatos. Vejo vocês lá.

-Apresse-se! –Apontou para ele antes de sair em disparada.

Calmamente Lennon calçou os sapatos dando laços firmes. Levantou da cadeira e se dirigiu até a porta. Olhou para fora e notando que não havia mais ninguém pelo corredor, fechou e passou o trinco com habilidade. Encostou-se na parede e aguardou o amigo sair do banheiro.

-Minha nossa, tinha refrigerante até no meu cabelo! –Exclamou McCartney, saindo às pressas do banheiro, dirigindo-se ao espelho gigante do camarim. –Maldita hora pra tomar isso. –Sentou-se rente à penteadeira, ainda secando o rosto.

-Na próxima tome água.

-Engraçadinho! –Olhou para Lennon de relance, apressando-se com a maquiagem.

-Você vai acabar errando tudo com essa pressa. É só pó. Ainda temos tempo.

-Eu acho que você não ouviu o Brian: quinze minutos, John! E era pra você tá lá em cima, por que ainda tá aqui? –Começou por passar um pouco da maquiagem na testa.

-Não posso esperar o meu amigo? –Desgrudou da parede e saiu em direção a ele.

Achando suspeita aquela movimentação, McCartney mirou Lennon pelo espelho, acompanhando cada um de seus passos. De pronto já sabia o que ele tinha feito.

-Você trancou a porta, não foi? –Perguntou atento. Ele já estava bem atrás da cadeira.

-Medida de segurança. –Agachou-se um pouco para que sua boca encontrasse a orelha do moreno. Seus olhares se cruzaram no reflexo. –Meu querido amigo não estava se sentindo seguro nesse camarim distante.

-Ótima desculpa, se não fosse pelo fato de estarmos a trinta metros da cadeira da apresentadora. –Voltou à atenção para o produto em sua mão, passando-o agora por toda a face.

-É, mas não preciso dar explicação alguma a ninguém, então... –Seus dedos adentraram naqueles fios negros.

-Então é só deixar todo mundo falando mesmo, né? –Disse irônico.

PARIS 61 - MclennonOnde histórias criam vida. Descubra agora