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Fim de mais um show no The Cavern. Muita gente, calor que chegava a alterar pressões, mas tudo com grande entusiasmo para aquela pequena grande plateia, afinal, estavam começando a fazer seus nomes, principalmente depois de uma temporada cansativa em Hamburgo. Passando de horas para pouco mais de uma hora nas apresentações em Liverpool, todo show era explosivo. Marcados por um potente beat, soltavam e rasgavam suas vozes, liberando uma energia geral. Aquilo tudo dava um gás extra, fazendo com que cada exibição fosse única.

Agradecendo a participação de todos com uma rápida reverência, foram desligar os amplificadores e guardar seus respectivos instrumentos. Ainda atenderam alguns tantos curiosos e recentes fãs que esperavam ansiosamente pelo fim do show para conseguir um autógrafo ou uma fotografia. Tudo era uma pequena prévia da histeria que começariam a enfrentar um pouco mais de um ano depois.

Suor e calças de couro faziam sua participação especial naquelas noites em 61 nos backstages. Jogando suas jaquetas de couro no chão e balançando os cabelos molhados, sentaram-se em pequenas cadeiras de madeira nos fundos daquele clube; ali, em um círculo, quatros garotos tentavam descansar os pés depois de mais uma potente apresentação.

-Quase hora de ir pra casa, pessoal... Não perca o ônibus de novo, McCartney.

-Acho que podemos sonhar, Pete. E deixe que eu me preocupo com o ônibus, ok?

-Uh, não está mais aqui quem falou! –Disse levantando-se da cadeira.

-Fica aí, palhaço. –Falou George aos risos. –Relaxa.

-Já que a decisão é unânime, eu fico. –Voltou a sentar-se. –Mas tenho que ir ao banheiro, então... –Levantou-se novamente, saindo para um corredor.

Todos gargalharam.

-Só tem doido nessa banda, olha só! –Lançou Lennon.

-E olha o sujo falando do mal lavado! –Bradou McCartney para Lennon na mesma intensidade, fazendo todos rirem novamente.

Instantes de silêncio até George fazer caretas de dor, chamando a atenção dos outros dois colegas.

-O que houve, George? –Perguntou Lennon, cruzando as pernas.

-Essas botas, cara. Tá um calor desgraçado e esse couro todo junto com o meu suor não anda fazendo um trabalho legal nos meus pés. Já é a quarta noite seguida.

-Tira essa porcaria. Eu já mandei as minhas pro inferno.

-É isso mesmo que vou fazer. Mas primeiro eu vou ver se acho alguma coisa na mochila pra passar aqui antes de, talvez, colocar de novo.

-Corra por sua vida, meu amigo George!

Harrison saiu em direção a uma mochila onde guardava remédios e algumas guloseimas. Era precavido demais para não organizar uma bolsa com as coisas necessárias para deixá-los mais revigorados e em pé tarde da noite –ou no caso, da manhã. Foi enfim se livrar das malditas botas, deixando os outros dois amigos conversando.

-Ei, Paulie! Posso de perguntar uma coisa? –Aproximou-se do amigo aos sussurros.

-Você acabou de perguntar.

-Há há! –Sorriu amarelo. –Que engraçado ele. Há há!

-Vai, pergunta. –Disse prendendo um riso.

-Qual o segredo?

-Segredo de que? –Perguntou voltando-se meio confuso.

-Da sua beleza.

McCartney havia não só de desconsertado como dado um sobressalto da cadeira, olhando para os lados, procurando saber se alguém havia escutado alguma coisa.

PARIS 61 - MclennonOnde histórias criam vida. Descubra agora