Só faz alguns dias que você se foi... De mim, do mundo.
A dor é dilacerante e as memórias perpassam cortantes pela minha cabeça, como a lâmina afiada que cruzou meu coração ao receber a trágica notícia da sua partida.
Eu choro todos os dias desde então. Choro pela sua ausência, pela saudade. Choro pelo meu erro. Choro por não ter cumprido a minha promessa de nunca te abandonar. Tenho raiva de mim, penso em partir também para te ver e contar que até depois dessa vida estaremos juntos. Mas não tenho coragem. Sim, sou covarde... Assim como fui com você quando te magoei com todas aquelas coisas.
Então eu bebo, desolado, esperando me afogar em uns tantos copos de uísque. Sentindo o gosto amargo do arrependimento. Torcendo para que minha vida se esvaia desse planeta e poder assim finalmente te encontrar e dizer tudo o que não consegui dizer todos esses anos. Eu te devo isso! Foi por minha causa que você não ficou. Não consegui impedir e assim, te deixei ir... Ver você cruzar aquela porta rumo a uma outra vida. Uma vida sem mim. Eu... Eu te perdi ali.
E de imaginar que a dor de tudo o que estava entalado em mim, não se compara a dor de hoje. A dor que será pra sempre. Meu orgulho foi maior e esse é o preço que tenho de pagar. Eu mereço, e uma vida será pouco para isso.
Você descansa em paz por tentar por nós dois por tanto tempo. Eu padeço pelos meus pecados. Você não teve dívidas. Sua história está aí para provar.
Meu amado John. Meu Johnny.
Tenho fotografias suas espalhadas pelo meu quarto. Minha cama cheia de recordações. Nossos primeiros anos compondo, nossas apresentações com a banda, nossas viagens... Paris. Duas vezes Paris. O nosso lar. O mundo apenas como um mero detalhe. Somente nós e as confissões bobas embaixo dos lençóis. E depois, seu sorriso. Sempre o mais lindo. Depois que contei que seu sorriso me desarmava, todas as vezes que você me encontrava sempre me presenteava com o sorriso de Paris. Eu corava. Ficava sem jeito e torcia para que ninguém mais notasse. E bem, na verdade você inteiro me desconsertava... A sua presença inevitavelmente fazia meu coração acelerar, minhas mãos suarem e meu olhar sair perdido por aí.
E agora carrego comigo a lembrança dos sentidos. Do seu gosto, do seu toque, do cheiro do seu cabelo e do som da sua voz, esta, que sussurrava meu sobrenome depois de um beijo entre uma gravação e outra, em seguida olhando pra mim como se implorasse que eu pedisse pra você ser meu por toda a vida. Mas você sempre foi... E nunca deixou de ser. Eu apenas nunca cheguei a dizer... Talvez por não ter noção de tempo e achar que seríamos eternos, vivendo um sonho atrás do outro. Mas a vida nunca foi assim, não é? Que ingenuidade a minha... Aprendi do pior jeito.
Eu falo tudo isso para as paredes enquanto beijo uma fotografia sua. Elas são as testemunhas da minha dor. A dor que tento pôr pra fora sem sucesso. Ando me sentindo não só destruído como tonto. Deixo meu copo vazio rolar pela cama até a cabeceira, me fazendo então mergulhar entre as lembranças suas, mas muitas delas caem no chão. Minha visão está escurecendo e o quarto gira devagar. Dou um sorriso esperançoso, talvez eu esteja indo até você afinal... Johnny... Um breve caminho até sentir seus braços em volta de mim novamente. Não sei o que me espera nessa estrada, mas quero me perder nela pra te encontrar.
E assim, não te deixar ir nunca mais.
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PARIS 61 - Mclennon
FanficColetânea de one shots McLennon. Histórias diversas entre 1957-1980.