convivium

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1966

-Pronto?

-Pronto.

Paul McCartney em seu Mini Cooper seguia com John Lennon para a residência de Brian Epstein na 24 Chapel Street em Londres. Primeira festa do ano. Epstein adorava festas -mais do que gostava de admitir- principalmente por todas as pessoas que vinham brincar. A solidão que acompanhava ser empresário da maior banda do mundo era algo que lhe tirava o sossego. A companhia de canetas e papéis não era lá algo alucinante... Bem diferente das festas que dava.

-John, os garotos já estão lá?

-Ringo está desde ontem por lá organizando. Maureen chegou hoje pela manhã. George e Patty foram no final da tarde, devem estar começando a esquentar a festa.

-E Cynthia? -Perguntou numa falsa preocupação.

-Quis ficar descansando. Um pessoal da família dela chegou de surpresa lá em casa e a gente teve que se virar. Preferiu ir dormir. Eu também queria o mesmo, mas é a primeira festa do Eppy esse ano e achei melhor dar uma passadinha... Ah, e sobre Jane? Por que não veio?

-Estados Unidos. Ainda está em temporada com a companhia de teatro.

-Entendo...

-Presumo que você não vai beber nada... -Tratou de mudar de assunto.

-Presumiu errado. Irei beber, mas só um pouco porque não quero acordar pra arrumar a bagunça da festa.

-Tudo bem, Mr. Lennon. -Sorriu divertido. -Pode me dizer a hora?

-22:30h.

-Chegamos em uns 5 minutos. Mas você não acha que já é muito tarde?

-Não para os que irão sair amanhã de manhã.

Uns minutos mais e deixaram o carro devidamente estacionado do outro lado da rua. A parte da frente da casa já estava completamente lotada com uma fileira de carros coloridos e de todos os tamanhos. Os dois amigos se entreolharam.

-Vai ser uma festa de arromba. -Disse Paul calmamente surpreso.

-Aposto todas as minhas fichas. Vamos lá...

Antes que pudessem bater na porta, um casal já saía muito contente de dentro da casa. Mal tiveram o que dizer ao avistar a dupla de compositores mais famosa e extraordinária do século, no auge da sua perfeição. Esperaram por horas para vê-los e já haviam desistido depois de umas tantas doses de rum. Nunca agradeceram tanto por serem vizinhos de Epstein. Entretanto, como não puderam reagir propriamente, apenas acenaram para os dois, que entraram amistosamente na casa acenando de volta.

-As pessoas estão cada vez mais estranhas. -Disse Lennon adentrando no lobby.

-Somos únicos, John. Por isso aquelas caras.

-Você é o único que confere o cadarço dos sapatos três vezes e não fico te olhando como uma aparição de Jesus Cristo. -Parou de repente, pondo as mãos na cintura.

-Nosso status hoje não tá muito longe disso.

-Primeiro: teu ego me assusta. Segundo: isso tá me lembrando aquela entrevista da qual eu quero esquecer.

-Não está mais aqui quem falou. -Sorriu dando de ombros e indo em direção ao hall. -Aproveite a festa! -Acenou sumindo de vista.

Respirando fundo, John foi também em direção ao hall. Uma música alta tocava próxima. Já havia uma pequena quantidade de pessoas lá. Acenou para todos, conversou brevemente com duas ou três pessoas, e continuou calmamente até a sala de estar. Ali sim se encontrava a pequena multidão multicolorida. Seus irmãos de banda com suas respectivas mulheres, amigos músicos de outras bandas, algumas carinhas desconhecidas, e por fim, o anfitrião.

PARIS 61 - MclennonOnde histórias criam vida. Descubra agora