Um entediado John Lennon se jogava pela grama de um parque próximo de casa. Estava acompanhado de seu então melhor amigo. Há quanto tempo conhecia Paul? Um ano talvez? Quase... Estamos em maio.
-Ficar deitado na grama é coisa que se vê em filme. Todo mundo acha bonito, mas não é legal.
-Por que não? –Perguntou o amigo intrigado.
-Você nunca foi atacado por formigas?
-Seu sangue deve ser doce, Lennon. –Jogou-lhe um punhado de grama na cabeça.
-Ei, nada de me sujar!
-Desculpe-me. –Disse irônico. –Não quero deixar tia Mimi chateada porque deixei seu sobrinho sujo.
-Engraçadinho... –Atirou um pouco de grama de volta.
O dia estava mais do que agradável. O sol havia dado trégua naquela tarde e eles puderam estudar mais de suas recentes composições. Haviam alcançado um progresso e tanto durante o período que passaram a andar juntos. Como se as letras encontrassem suas melodias, resultando assim em belas canções. Certamente eles eram uma bela canção, mas que não tinha um fim; cantada com vigor, cheia de ritmos, numa harmonia única.
-Já chega por agora. –Disse Lennon. –Você quer comer alguma coisa?
-Não. Na verdade eu só queria um refrigerante.
-Então espera que eu volto já. –Saiu correndo.
Depois de ter comprado duas garrafinhas de refrigerante, Lennon sentou-se pela grama e entregou uma delas ao amigo. Brindaram e ali conversaram por mais um par de horas antes de voltar a ensaiar. Perceberam o dia longo; ainda estava claro, então demorariam a voltar pra casa. Gostavam de dias assim quando passavam juntos. Era muito... Bom.
Por que isso só acontece com você? Bem, talvez eu... Saiba...
Tentando vencer o cansaço, Lennon não aguentou muito e desabou na grama. Ela agora parecia bem mais fofa do que no começo da tarde, e realmente não estava mais se importando com o fato de formigas traçarem seus caminhos por dentre suas roupas. McCartney o acompanhou, deixando o violão de lado.
Ambos estavam em lados opostos, com a cabeça como único ponto de encontro. Ficaram em silêncio uns instantes até que de repente McCartney lançou:
-Se estivesse apaixonado por alguém, quais palavras bonitas você diria?
Claramente Lennon não esperava uma pergunta, muito menos sendo aquela, mas sorriu, como se já tivesse a resposta na ponta da língua. Concentrado, olhou para a boca de McCartney dizendo:
-Diria: "Eu não estava procurando por nada, mas quando você surgiu na minha vida mais pareceu que eu havia encontrado tudo o que precisava. O mundo passou a ser o melhor lugar para se estar; meus dias acontecem em cores mais vivas; meu coração bate de um jeito diferente, mais alegre. Passo o dia a te esperar, porque ver o seu sorriso traz sentido à minha existência. Se um dia eu me apaixonei tão perdidamente, não me recordo, pois você me faz esquecer todos os casos que já vivi, resignificando todos os meus sentimentos. Infinitas palavras são poucas para descrever o que sinto e talvez nunca consiga de alguma forma; só sei que quero sentir junto de você."
-Uau! –A surpresa inevitável. –Isso foi... Profundo. Você realmente tem o dom com as palavras. –Bateu palmas.
-Que nada, gentileza sua, senhor. –Fez graça.
-Você se expressa muito bem.
-Nah, sou todo sentimento, um desastre para explicar com palavras.
-Talvez o que importe no fim de tudo isso seja a reciprocidade, não acha?
-Ah, o elemento mais importante da equação.
Curioso, Lennon olhou para o céu e passou a mão pelo cabelo. Não pôde se conter com tamanha oportunidade. Passou os dedos pela grama e sem pensar muito lançou para o amigo:
-E você? Se estivesse apaixonado por alguém, quais palavras bonitas você diria?
McCartney se sentou e olhou nos olhos do companheiro dizendo:
-"Não me interessam tanto as palavras, pois só quero que saiba que te amarei por toda a extensão dos meus dias."
-Isso foi lindamente objetivo.
-Eu tinha que ter uma resposta à altura. –Sorriu orgulhoso, levantando-se.
-E não decepcionou. –Observou-o com admiração.
-Vamos? Já está na hora. –Estendeu a mão.
-Hora de jantar e tocar gaita. –Levantou-se prontamente. –Te vejo amanhã?
-Se a extensão dos meus dias assim me permitir... –Fez uma singela reverência antes de deixar o amigo surpreso no meio do gigantesco parque.
-Er...
-Tchau, John! –Acenou já de longe.
Lennon pôde apenas acenar de volta boquiaberto.
Ele falou mesmo aquilo?

VOCÊ ESTÁ LENDO
PARIS 61 - Mclennon
FanfictionColetânea de one shots McLennon. Histórias diversas entre 1957-1980.