Capítulo 18

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Foi diante da necessidade de estar próximo a Deus que me vi apegada ao Salmo 124 todos os dias eu recitava ele para mim mesma ao acordar

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Foi diante da necessidade de estar próximo a Deus que me vi apegada ao Salmo 124 todos os dias eu recitava ele para mim mesma ao acordar. Com o pai de Guilherme no vilarejo, tudo se tornou um tormento, andar pelas ruas era praticamente impossível. Era tanta carruagem entrando e saindo da cidade que parecia que a cada cinco minutos havia um baile para acontecer.

Soube depois por Ryan que Gui havia apanhado do pai de uma forma cruel, fiquei imaginando o sofrimento dele por estar mais uma vez subjugado às ordens do pai. Ryan também disse que o pai não pretendia soltá-lo do quarto até o dia do baile de apresentação e que estava trabalhando para nesse dia já apresentar a noiva do mesmo.

Dalila resolveu debutar no nosso vilarejo mesmo, dessa maneira poderia ficar perto de Gui e do Pastor Paul. Eu não poderia ir ao baile dela pois ainda não havia dado meu nome para debutar então ela decidiu fazer um baile a fantasia, onde todos permanecem de máscaras até meia noite. Dessa forma, com a ajuda de Ryan, Gui estaria no baile conosco sem seu pai o reconhecer.

Tia Karla não andava muito bem de saúde e por vezes passava o dia no quarto sem querer ser vista por ninguém. Foi pensando nisso que decidi tomar minha decisão.

"Querido e amado papai.

Estou decidida a ser aquela pessoa que todos esperam de mim, não para agradar ao senhor ou minha mãe, mas por saber que nossa vida é feita de decisões e essas decisões que tomamos podem interferir em nosso futuro. Diga à mamãe que mande fazer meu vestido para que eu venha a debutar próximo mês. Sinto muito ter feito algo que magoasse direta ou indiretamente o senhor e ela. Eu os amo e pretendo aceitar a vida que escolherem para mim. Mas papai tenho alguns pedidos a fazer, se o senhor puder me conceder, lhe garanto que serão os últimos em toda minha vida.

1 - Minha amiga Dalila, vai debutar neste sábado e está infeliz pois o pai dela quer casar ela com um velho rico. Por favor papai interfira de alguma forma nisso, ela e Paul se amam e merecem viver esse amor.

2 - Sei que minha amiga Rebeca está sob guarda do Rei Augustus pai de Guilherme, mas se tiver como comprometer o futuro dela com Ryan, sei que ele a ama pois vejo os olhares dos dois, embora, não tenham confessado ainda.

3 - Falando no Rei Augustus. Esse homem é um carrasco agressor, vive de bater e prender Guilherme, que o senhor conheceu e viu que é um amor de pessoa. A mais nova que o pobre rapaz está preso em um sótão até o dia de ser apresentado e ter que aceitar casar com uma princesa da escolha do rei. Pai não é justo meu amigo não poder casar-se com sua escolhida, embora eu não saiba quem é.

4 - Por último, a tia Karla não anda bem de saúde e não queria deixar de morar com ela após debutar. Não ligo se me casar com alguém que não seja da realeza, nem que seja rico, pobre, bonito ou feio, mas por favor me permita ficar aqui com ela.

São esses os pedidos que tenho a lhe fazer, em troca acatarei tudo que o senhor e mamãe escolheram para mim.

Sua filhinha, Naty."

Após eu ler umas duas vezes decidi enviar essa carta ao meu pai o quanto antes. Ele poderia ajudar, pois era amigo direto do imperador César desde da época de escola real. Só poderia agora torcer para que tudo desse certo. Sou interrompida com batidas na porta.

- Com licença mademoiselle a senhorita tem visitas. - era um dos criados.

- Obrigada, diga que já estarei na sala. Ah, pode enviar isso com urgência?

- Com toda certeza. - ele disse se retirando e saindo.

Ajeitei meu vestido que estava um pouco amarrotado, eu ficava deitada no sofá lendo a Bíblia e esquecia dos protocolos que mandam minha vida. Desci curiosa para saber quem estaria aqui que precisava ser anunciado.

- Bom dia. - disse ao descer as escadas.

- Bom dia. Precisamos conversar teria um minuto?

- Gui, você aqui? - Fiquei tão feliz que não resisti ao ato de o abraçar.

- Em carne e osso minha cara. - ele disse retribuindo o abraço. - Onde está tia Karla?

- Ela amanheceu um pouco indisposta. Está repousando mas o médico disse que não era nada de alarmante. Venha vamos até a sala de música, nos sentiremos mais à vontade.

Ao chegar na sala de música eu tinha muitas perguntas, gostaria que ele me contasse tudo. Mas tinha vergonha do que pensaria de mim.

- Seu pai sabe que está aqui? - consegui perguntar.

- Não. Aproveitei que ele precisou viajar por dois dias e Ryan junto com a governanta me ajudaram chegar aqui. - ele sentou e baixou a cabeça.

- Não se envergonhe de me contar. Pelo contrário, eu já sei alguma coisa fica mais fácil de entender.

- Eu não suporto mais Naty. Ele age como se eu fosse um animal.

- Ele te bateu? - senti vergonha de perguntar.

- Com chicote de boi. - ele baixou a cabeça. - Na noite que ele chegou de surpresa, nós estávamos jogando lá em casa e ele entrou me fazendo vergonha com seus gritos e já me puxando para cima. Me jogou no sótão e pediu o chicote. Rasgou a roupa que eu estava e começou a me bater, quanto mais eu tentava me defender mais ele me batia. Quando vi o chão já tinha marcas de sangue. Ele só parou quando eu desmaiei.

- Então ele não te tocou mais?

- Não, mas não me deixa sair do sótão e nem me deixa ... - ele baixou a cabeça e senti que ia chorar.

- Não precisa dizer se não quiser.

- Tudo bem, é bom conversar com você. - ele levantou caminhou pela sala e voltou a sentar em outro lugar que ficava de frente para mim. - Naty eu estava sem comer, sem tomar banho e fazendo necessidades no mesmo lugar que dormia. - ele disse rápido me fazendo piscar várias vezes.

- Meu Deus! Como pode um pai agir assim?

- Ele me odeia, disse que vai me casar a qualquer custo com a princesa que ele escolheu, também me fez assinar um documento que não quero assumir o trono. Não me importo pelo trono, mas eu quero ser livre. Por isso tomei a liberdade de vir aqui dizer a você que vou fugir.

- Fugir? - eu estava chorando e não havia percebido até ele secar uma lágrima.

- Sim amiga, não poderei viver assim muito tempo. Vou embora pela manhã.

- Para onde irá? Como irá? Guilherme tenha calma. - estava desesperada.

- Quero ir para qualquer lugar que seja longe dele.

- Mas já pensou no seu reino? No povo que depende de um rei? - levantei e comecei andar pela sala.

- Ele está perdido em dívidas, talvez não tenha reino para eu herdar. O secretário dele queria que eu tentasse interditá-lo. Mas sou menor, não tenho voz ativa e assinei o documento que ele me obrigou.

- Temos que arranjar um jeito. - eu disse voltando a me sentar.

Ficamos ali conversando muito tempo ainda, até que Ryan mandou chamar ele para ir para casa pois temia o pai dele chegar derrepente. Era tão bom conversar com ele, era reconfortante estar perto dele.

 Era tão bom conversar com ele, era reconfortante estar perto dele

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