Patrick

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Estava empacotando minhas coisas, quando escutei uma batida na porta.

Era Emilia.

Ela entrou em meu apartamento e se sentou de frente à mim, só que diferente das outras vezes, minha velha amiga não disse uma palavra sequer.

- Gostaria de uma xícara de chá?

Tentei quebrar o gelo que de repente surgiu entre nós dois.

- Não, obrigada.- Disse sorrindo.- Eu apenas queria te ver.

Dessa vez quem sorriu foi eu.

Emilia se levantou e começou a admirar uma velha fotografia onde eu e Olivia estavamos cobertos de bolo, uma verdadeira bagunça, sorri novamente ao lembrar desse dia.

- Esse dia foi um desastre.- Disse ela sorrindo e colocando a foto no lugar.

- É, e pensar que aquela guerra de comida só começou porque quando a Olivia foi soprar as velinhas...

- Seu cabelo encostou no glacê e um certo alguém mergulhou seu rosto inteiro no bolo.

Levantei as mãos sem graça.

- Culpado.- Admiti dando uma risada timida.

- Vocês dois eram dois diabinhos, nunca me escutavam e ainda me desafiavam as vezes.- Nós dois estavamos começando a ficar nostlgicos.

- Bons tempos que já se foram.

- Naquele tempo você não era tão chato.

- É. Naquele tempo você não era tão velha.

  Gargalhamos como dois idiotas, mas então  o silêncio se instalou na sala novamente.

- Vai mesmo fazer isso, não vai?

- Emilia, esse é o melhor caminho para todos nós. Acredite.

Ele se aproximou e colocou as mãos em meu rosto.

- Melhor caminho para quem?

As vezes fugir pode ser a melhor opção, mesmo que pareça covardia.

Sei também que estou sendo covarde
e egoista... É só que... Olívia é meu ponto forte e meu ponto fraco, tudo de uma só vez e isso me deixava com raiva e ódio e também com uma dor que não consegui mais me conter, tudo o que eu tinha sufocado aqui dentro de mim se explodiu em uma chuva de lágrimas.

- Eu não aguento mais, Emilia. Eu não consigo assistir essa situação toda em silêncio, vou acabar ficando louco! Talvez eu já seja um.- Respirei fundo.- Não quero ver seu sofrimento e ficar calado, não quero que ela morra, não aceito isso! Eu sei que... Sei que não tem mais nada que possamos fazer, no entanto, ficar, vai me matar também.

  Ela apenas assentiu e me abraçou e Deus, como eu precisava daquele abraço.

Durante um tempo eu me recusei a aceitar a doença dela, quer dizer, eu nunca entendi realmente a grande razão de uma pessoa tão boa, sofrer algo tão ruim.

Mas acho que a vida é o que ela tem que ser, não importa a vontade de mudar as coisas, por mais que acredite nisso, esse poder nunca nos pertenceu.

Quando a Hora ChegarOnde histórias criam vida. Descubra agora