Olívia

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 - Então quer dizer que você salvou a minha vida.

- Bem, tecnicamente ainda não salvei, mas sim, basicamente sou eu o sou seu salvador.

 Jason estava em uma cama hospitalar, o que fazia sentido dado aonde nos encontrávamos, mas até pouco tempo quem se encontrava nesse estado era eu e não ao contrário.

- Eu conversei com a minha vó e nos dois vamos ser transferidos para o hospital Santa Virgínia amanhã, voltaremos pra casa- Fiz uma pequena pausa.- A cirurgia vai ser na quarta a tarde, mais precisamente às 15h, o que vai ser tempo suficiente pra pensar se realmente está disposto a me doar um pedaço de você.

 Ele se ajeitou um pouco, estava deitado, mas meu comentário o fez se sentar para me encarar melhor.

- Live, do que é que está falando?

 Respirei fundo, enquanto acredito eu, ele ainda processava o que eu acabara de dizer. 

- Jason, a doação em vida... pode conter riscos...

- A função renal pode ser realizada adequadamente por um único rim, sem que isso cause prejuízos à saúde do doador.- Disse ele sem hesitar. - Connor me garantiu que os únicos riscos que realmente corro são riscos normais ao de se submeter a uma cirurgia com anestesia geral, mas antes do procedimento serão feitos exames a fim de minimizar os riscos, e não a muito tempo atrás eu já realizei alguns.

 Respirei fundo novamente e não consegui evitar uma lágrima que escorria no meu olho esquerdo.

- Você tem certeza de que quer fazer isso, Jason?

 Ele franziu a testa por um momento, talvez não estivesse gostando do rumo da conversa, mas ela era necessária.

- Como assim se tenho certeza? É claro que tenho! Live, você está morrendo, pelo amor de Deus!- Ele fez uma pausa, estava se exaltando, porém conseguiu manter a calma.- Eu tenho a chance de salvar a sua vida, eu, quer dizer eu nunca me senti merecedor de sequer estar vivo, talvez por esse motivo eu tenha vivido da forma vazia que você presenciou naquele bar de karaokê, isso porque naquela noite eu ainda estava bem, não havia nem começado.- Ele engoliu em seco e respirou fundo. - Todas as noites eu bebia e fazia outras coisas, coisas ruins das quais eu não me orgulho nenhum pouco... tudo isso era tão vago, e nunca me fez me sentir melhor, no entanto, noite após noite a rotina era a mesma, mas então eu te conheci e algo em mim mudou e pode soar como um clichê, mas me mudou para melhor.- Ele finalizou com um sorriso.

Eu não soube exatamente como reagir aquilo, sua palavras eram verdadeira e tristes.

- Jason, eu...

- Não acho que eu tenha te contado isso, na verdade acho que não tive muito tempo pra contar de qualquer forma... - Por um momento ele ficou em silêncio. - Se lembra do dia em que fiquei absurdamente bêbado e Patrick te ligou para me buscar?

Confirmei com a cabeça, é claro que eu me lembrava, no dia seguinte dançamos e tivemos um ótimo tempo juntos, Jason tinha me feito esquecer dos meus problemas e esquecer era tudo o que eu mais queria nem que por apenas um segundo, e por aquilo sempre serei grata a ele, há também o fato daquele também ter sido o dia que entrei no estúdio de balé da minha mãe pela primeira vez depois de anos.

- Como esquecer, não é mesmo? Você vomitou em mim naquele dia.- Falei com um tom divertido para tentar diminuir a tensão que aquela conversa tinha trazido e deu certo porque ele sorriu, envergonhado, mas sorriu.

- Bem, eu havia exagerado aquela noite, mas tinha um motivo, quer dizer, na minha cabeça era um bom motivo.- Ele riu acho que debochando de si mesmo.- Olhando pra trás agora, percebo que foi idiotice, mas vindo de mim não é nenhuma surpresa.- Ele respirou fundo mais uma fez e sorriu triste.- Eu bebi daquele jeito, porque vi o meu pai, e eu sei que isso não deve parecer tão importante para fazer alguém surtar, mas fez isso comigo, na verdade, nem foi o fato de vê-lo que me chateou, mas ver sua bela família, aquela por quem ele me trocou.

Quando a Hora ChegarOnde histórias criam vida. Descubra agora