Emília

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- Connor, eu não quero ouvir nada que possa possivelmente sair dessa sua boca, odeio ter que pedir mais de uma vez, sempre odiei e você sabe disso.

- Sim Emília, eu sei bem como o seu temperamento pode ser, mas não estou te procurando para discutir sobre nosso passado, quero falar sobre a situação da nossa neta.

- Minha neta! Ela é minha, minha! Minha Olívia, Connor, minha. Você não tem o direto de chamar ela assim.

Ele estava claramente exausto.

Sei muito bem como a rotina de um médico pode ser cansativa, porém eu não conseguia sentir nenhum pingo de empatia por esse homem, não mais.

- Nossa net... A Olívia, a doença dela, avançou em um estágio no qual  acabou afetando os dois rins...

- Não que isso seja novidade para você, Connor, mas está atrasado, aliás não devia nem ter aparecido, no entanto a questão aqui e que não está informando nada que eu já não tenha conhecimento.

- Emilia, ela vai morrer, e dessa vez não acredito que terá um milagre que possa salva-lá, infelizmente.

Era uma tortura, apesar de sermos família, eu não era compatível para ser a doadora da minha neta e isso me matava, me fazia me odiar por não ter a capacidade de salvar sua vida.

- Eu fiz alguns testes, Hank, mas não sou compatível. Patrick até era, mas já havia doado um dos rins para uma paciente com o mesmo diagnostico, mas não foi eu que contei isso para você. Devido a sua expressão acredito que nem você seja compatível, não é mesmo?

 O silêncio dele confirmou meu questionamento.

- Mas e nosso... mas e o pai dela?

Nicholas infelizmente tinha puxado ao pai, porém sinto que não podia culpa-lo por ter feito o que fez, a esposa morreu aos 27 anos por causa dessa droga de doença, então, anos depois acaba descobrindo que a filha também havia sido diagnosticada com o mesmo mal.

 Foi demais pra ele.

 Não sei do que exatamente ele estava fugindo, mas conseguiu.

 E a pobre Olívia que havia perdido a mãe por causa do Lúpus, de certa forma perdeu o pai pelo mesmo motivo.

- Ele não está disponível.

- Como assim?

- Connor, é complicado e tem um outro detalhe também, mas não consigo me lembrar qual é, não sei se é a idade, deixe-me ver se me lembro... Ah é mesmo, isso não é da sua conta!

 - Emília, eu... ele... onde ele está, além de poder salvar a vida dela, eu... eu gostaria muito de conhecê-lo.

- É claro que quer, não é mesmo?- Disse debochando desse senhor à minha frente.

 Era muita cara de pau mesmo, agora ele quer conhecer o meu filho, tivesse esse sentimento há quarenta e trés anos e não agora.

- Posso ao menos perguntar o nome que deu a ele?

- Não.

- Emília...

- Você perdeu qualquer tipo de direito quando fugiu da responsabilidade, Hank! Você acha que eu ligo para o fato de que meu pai tenha sido o motivo de ter partido? Ah o pobre Hank Connor, não era bom o suficiente para ajudar a criar o bebê, tadinho! Você foi um fraco, Connor! Como acha que eu me senti? Hein? Você não abandonou só a mim, você abandonou o seu filho! Sabe quantas vezes ele me perguntou o que tinha feito de errado para que tenha ido embora? Ele se culpou tanto, nunca tinha te conhecido, mas amava você mesmo assim! Ele escrevia cartas pra você, cartas, Connor! Para um pai que nunca apareceu. Um pai que ele nem sequer conhecia.

 Ele estava boquiaberto, estava chorando.

 Espero que esteja sofrendo muito...

Connor quebrou o coração do meu filho, eu não ligava por ter feito o mesmo com meu, eu não ligava, mas talvez tudo o que Nicholas queria era amor, o amor do pai, o amor da família, queria tanto que acabou não querendo mais.  

- Connor! 

Nos assustamos com o grito de Jason ecoando desesperado pelo corredor.

- Jason, o que foi?

- É a Olívia... ela, ela... ela estava bem, estávamos nos divertindo, eu... eu não sei... eu não sei... ela...

- Jason, o que aconteceu com a minha neta? - Perguntei aflita.

- Eu não sei, mas não é nada bom.

Quando a Hora ChegarOnde histórias criam vida. Descubra agora