Connor

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- Do que está falando, garoto?

- Sei que é muita coisa para absorver, mas é verdade, Connor.

 Não podia ser verdade.

Emília estava aqui, eu não conseguia acreditar. 

Depois de todos esses anos...

Não bastando tudo isso, eu ainda tenho uma neta... Uma neta que está doente.

- Jason, tem certeza do que está falando?

-  Tenho, tenho toda certeza do mundo.

- Mesmo que seja verdade, garoto, você mesmo disse que ela não quer que eu chegue perto.

- Mas Connor... Ela não sabe a verdade, essa é sua chance de contar pra ela! Você ainda pode ter seu final feliz.

- Talvez eu não mereça.

- Connor...

- Eu estou atrasado, meu plantão começou há alguns minutos... É melhor eu entrar.

Eu tinha que entrar naquele hospital e isso não era nenhuma novidade, sou reumatologista aqui há muitos anos e nunca tinha me atrasado um minuto sequer em todo esse tempo, só que passar por aquela porta estava sendo a coisa mais difícil de se fazer em toda minha vida.

- Você não vem? - Perguntei.

Ele abriu um grande e esperançoso sorriso, mas logo depois desanimou.

- Não posso, eu... Digamos que a Emília também não quer me ver.

- Ela não quer me ver e você insiste que eu entre nesse hospital, insiste que mereço meu final feliz... E quanto ao Jason? Ele também não merece?

- Bom... Ele também já errou bastante, e também já sofreu e fez pessoas sofrerem... E ele não entende o motivo de estar falando na terceira pessoa.- O garoto riu triste.

- Ele está é perdendo tempo... Vamos logo.

Seguimos então para dentro, onde imediatamente uma das enfermeiras disse que eu estava atrasado... Como se eu não soubesse.

- Doutor temos uma paciente que necessita urgente de atendimento.

- Já estou ciente, enfermeira Marie.

- A questão é que... A avó dela... Ela não quer que você seja o médico responsável pela garota.

- Enfermeira Marie, quase três minutos se passaram e você ainda não me disse nada que eu já não saiba.

Ela me encarou confusa, mas continuou, mesmo eu tendo a certeza de que aquela conversa já tinha acabado.

- Doutor, eu sinto muito.

Dessa vez quem a olhou confuso foi eu.

- Calma, Marie... Ser incompetente é algo humano e até que tem dias que você é útil.

Falei rindo, obviamente era uma piada e Marie sabia disso, mas mesmo assim ela não riu, pelo contrário, estava um pouco triste.

- Marie? Está tudo bem?

- Senhor, eu realmente, realmente sinto muito.

- Não estou entendendo.

- O senhor foi demitido.

Eu tive que rir, não sei... Acho que foi um mecanismo de defesa.

- Só porque atrasei uns minutos?

- Não senhor, a senhora avó da paciente... Ela comprou o hospital e fez questão de te demitir em seguida.

Emília... Emília. Não mudou nada.

- Onde ela está?

- Lá dentro.

Eu estava indo pra dentro, quando Marie entrou na minha frente.

- Doutor, ela também proibiu sua entrada.

Ah! Só podia ser uma piada.

- Ah sim, ela me barrou, não é mesmo? Viu só, Jason! Ela me barrou! Isso não é engraçado? - Perguntei gritando.

- Senhor, está causando uma cena.

- Estou criando uma cena? Jason, estou criando uma cena! Que loucura! - Olhei para o garoto e ele estava rindo. - É que grito porque já sou velho, sabe? Não é mesmo, Jason?!

- Sim, verdade! - Concordou rindo.

- Sou velho! Um velho surdo! Muito, muito surdo! Está ouvindo isso Emília? Porque eu não estou, já que sou surdo! - Ela iria ter que arcar com o preço da minha demissão. 

- Hank, para!

Acho que o tempo parou... Parou assim que escutei aquela voz...

Quando a Hora ChegarOnde histórias criam vida. Descubra agora