Quarenta e um

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Meus olhos subiram desde meus pés percorrendo cada pedaço de pele marcada. Eu não gostava muito disso, na verdade ficava muito confusa em relação a isso e a ele. Eu o amava e sabia que ele também, mas não de como ele agia comigo.

Mordidas, chupões, tapas; minha pele branca deixava muito evidente as marcas, teria que as esconder.

Eu nunca havia namorado para saber como era.

Suspirei e ele soltou um riso pelo nariz. Inclinei a cabeça pousada em seu peito o encarando.

— que foi?

— vamos ter um bebê.

Franzi o cenho.

— o quê?

— você está grávida.

Minha única reação foi rir.
Owen tirou os braços antes repousados em mim e se levantou nú andando até onde sua bermuda estava jogada. De lá, tirou uma embalagem de algo que eu não pude identificar e jogou sobre a cama.

— Owen..— encarei a embalagem onde continha dois testes de gravidez. Meu coração acelerou e engoli em seco.

— não sei como não notou que sua menstruação está atrasada dois meses. Quase três. E os enjoos, as tonturas... Você não come por estar sempre vomitando.

Senti o suor frio aumentar em meu corpo e cada célula dele tremer. Encarei o garoto a minha frente tentando fazer as lágrimas não aumentarem.
Neguei.

— não, não, não… você só pode estar maluco. Eu não estou grávida, Owen!

— meu amor, calma.— ele sentou na cama tocando meus cabelos curtos, que o mesmo havia cortado.— nós vamos criar nosso bebê.

Eu corpo inteiro tremeu e então as lágrimas caíram. Eu havia passado por muitas coisas nesse ano, mas isso, ele não seria capaz. Ele não podia!

— Owen..— tentei engolir o bolo em minha garganta.— nós sempre, sempre…usamos— me interrompeu.

— eu achei melhor deixar para agora. Veja, meu amor. Estamos nos formando agora, fica melhor para nosso bebê. É só atrasar um pouco a faculdade e—

— VOCÊ NÃO FEZ ISSO!!— o empurrei o derrubando no chão.— VOCÊ NÃO TOMOU ESSA DECISÃO POR MIM, OWEN, VOCÊ NÃO.. não!

Neguei com a cabeça a apertando contra as mãos. Já nem me importava se estava nua, todo o sofrimento passado nesses anos por uma paixão doentia passou em minha frente.
Humilhações públicas, a forma violenta e possessiva que me tratava,o ciumes, bullying como tomava decisões por mim e agora isso?!
Todos haviam me avisado. TODOS!
Eles falavam sobre relacionamento abusivo e eu nem queria acreditar.
Eu achava que era apenas amor excesso de proteção e ciumes. Mas não!
Owen mais uma vez havia passado por cima de mim mas dessa vez não.

— você não está feliz?

— FELIZ?!— o encarei me virando rápido em sua direção. Seu corpo alto e forte era muito maior do que eu, mas a dor, e o ódio que sentia era maior do que tudo.— EU NÃO VOU TER ESSE BEBÊ! NUNCA!

Seus olhos foram um misto de terror e raiva.

— está louca? Claro que você vai ter meu filho.

— quero ver alguém me obrigar.

Encarei no fundo de seus olhos, o medo que sentia dele havia dissipado e em seu lugar, estava a revolta, a dor e o ódio de tudo o que passei nesse relacionamento abusivo e doentio.
O arrependimento.

— Meu deus, o que eu tinha na cabeça? O que eu via em você, Owen?— o encarei com nojo e desespero. Minha mente reagia como um computador danificado por vírus.

Eu havia sofrido por quase um ano e sofrido ainda mais com os enjoos, as tonturas... Eram noites sem dormir bem, sem comer e acabou até referindo em minha aparência.
Eu via aquilo tudo, eu sabia, no fundo eu sabia que não era normal, mas meu amor cegava.

— eu amo você e você me ama. Você é minha, e vamos ter nosso bebê.— suspirou.— meu amor, eu sei que é difícil, é assustador, mas eu pensei em nós.

— PENSOU EM NÓS?! EU ODEIO VOCÊ, OWEN!

Ele negou com a cabeça e seus olhos se marejaram.

— Kath..

— você é doente. Você me manipulou, me chantageou. Você gritava comigo e sabe o que eu sentia? Medo. A princípio eu pensava que podia te amar e que você iria mudar, e eu até amei, só que você transformou aquilo em algo doente. — ele se aproximou.— você não pode amar Owen. Você machuca todos a sua volta. Você os intimida com tudo o que pensa que é, mas sabe o que mais? Você é um doente. Você é obcecado. Tem alguma psicose e eu não vou ficar aqui. Vou tirar essa criança, porque é um direito meu já que você passou por cima da minha autoridade. E eu quero que você sofra no inferno que me colocou.

Peguei minhas roupas no chão começando a me vestir enquanto o encarava petrificado. Owen se aproximou chorando e o empurrei com toda a força que tinha até ele cair.

— você não vai embora.

— você não vai mais me impedir.

Eu não iria mais ficar aqui e se fosse necessário eu iria fugir para ter minha liberdade. Eu iria resgatar meu tempo perdido e me amar antes de qualquer um. Isso já não era mais assustador e sim, libertador.
Eu sabia que dona Helena me ajudaria, e ainda tinha meus amigos, Broke...
Eu queria ficar longe dele, de sua família e tudo o que me lembraria a ele.

Tentei passar mas ele me empurrou sobre a cama caindo sobre mim quando o puxei. Segurou meus braços enquanto tentava soca-lo, me pedindo para parar, e então um primeiro tapa foi deferido em meu rosto e a vermelhidão do local apareceu tão rápido como minha raiva.

— me solta!

— você e minha! Eu fiz esse bebê exatamente para que não me deixasse. Você não pode me deixar amor.

Ele parecia outra pessoa.

— Owen.. para! — as lágrimas borraram minha visão.

Meu corpo o rejeitava assim como minha mente. Eu já havia passado por muito. Não o iria deixar me tocar novamente. A única coisa que ele me trazia era dor.

O empurrei e corri para a porta ouvindo seus gritos em minha direção. Com todo o barulho no exterior, eles não me ouviriam, mas eu procuraria meu amigo. Ele me ajudaria.
Meu corpo doía; lantejava de dor assim como minha cabeça... Minha alma. Eu o sentia perto de mim, mas dessa vez eu iria fugir. Eu iria desaparecer Hampton Hill e tiraria de mim tudo o que me lembra dele.
E eu espero que ele queime no inferno.


Fim

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