Uma coruja apupou no escuro, fazendo Meir ter um sobressalto. Seu filho primogênito, aninhado em seu peito, sentiu a agitação da mãe e se remexeu dentro dos cueiros. À luz das estrelas, a jovem tentou discernir sombras na noite – uma raposa, um lobo, uma pessoa –, qualquer coisa que justificasse o estado alarmado em que ela se encontrava. Mas a coruja ficou em silêncio, e não havia nada por perto.
Meir ajeitou o xale em torno de si para se proteger de uma brisa fria. Uma vela queimava no parapeito da janela, ao lado de sua cadeira na varanda, mas a chama dançava com o vento a despeito do protetor de vidro, e sua luz era fraca demais para fornecer calor. A noite não era particularmente fria, considerando que ainda estavam nas primeiras semanas da primavera, mas havia algo no ar que a fazia sentir frio por dentro, como se seus ossos soubessem de algo que ela própria não sabia.
Aquela sensação a fizera levantar da cama no meio da madrugada. Stevan, seu marido, rolou no colchão de palha mas não acordou. Pelo contrário, aprofundou-se no sono e começou a roncar, o ruído acordando o pequeno Eryl. Meir o tirou do quarto antes que o marido acordasse, antes que brigasse com ela por não deixá-lo dormir, e foi sentar-se na varanda para fazê-lo dormir. Em uma noite comum, sentar-se sozinha para olhar as estrelas teria sido reconfortante, mas havia algo errado dessa vez. Mal conseguia enxergar o quintal do vizinho da frente na escuridão da lua nova e, naquela noite, qualquer ruído era capaz de deixar os pelos dos braços em pé.
Meir afagou o filho e tentou se acalmar. Imaginou a coruja empoleirada entre as folhas novas, com penas castanhas e pretas camufladas na escuridão e olhos brilhantes e inquisitivos, à procura de um rato ou esquilo para transformar em jantar. Se a ave estava em silêncio, concluiu, era porque devia ter avistado alguma presa. Ou alguma ameaça.
Meir virou-se na direção do som de passos se aproximando – passos discretos de alguém que não queria ser ouvido. O barulho vinha de sua direita, além da varanda, justamente na direção onde a chama da vela ofuscava-lhe a visão. Ela se ergueu da cadeira e virou o corpo para esconder Eryl, o coração tentando saltar pela garganta . Uma sombra moveu-se rápida no limite entre a luz e a noite, indistinda, contornando a cerca da varanda e indo para a entrada da casa. Meir recuou, esbarrando na cadeira e levando-a ao chão com um estrondo, e não caiu somente pelo instinto de proteger seu bebê. Sua boca se abriu para gritar por ajuda, mas o ar lhe faltava, como em um pesadelo. Meir deu uma golfada, a sombra cruzou seu quintal e, inesperadamente, pediu desculpas.
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Ossos Quebrados [Dragon Age] [Completo]
Fantasia*Baseado na série de jogos Dragon Age* O mundo esteve perto do fim quatro vezes, e o quinto Flagelo se aproxima. Hordas de crias-das-trevas abrem caminho pelas profundezas da terra trazendo consigo morte e desolação. Diante dessa ameaça uma maga, um...