A ruína era a mais antiga que qualquer um deles jamais vira. As rochas erigidas em um semicírculo estavam tão corroídas pelo tempo que demoraram para identificá-las como uma obra de engenharia, e não mera formação geológica. Ainda assim, nem mesmo Cornelia era capaz de dizer quem seria o responsável por aquela obra de propósito indecifrável – elfos, humanos, anões ou outro povo ainda mais velho e esquecido. As rochas poderiam ser colunas, mas o que quer que elas sustentassem já havia se perdido há muito tempo.
– Isso não é obra anã, com certeza. – falou seu mais recente companheiro de viagem, um anão mercador itinerante chamado Legnar. Ele puxou seu cinto para cima, até a metade da barriga. – Pela deterioração, essas pedras estão em pé desde antes de Orzammar.
– Também não parece Tevinter. – disse Cornelia, tocando a pedra porosa e áspera com a mão. – Teriam usado outro material, talvez mármore extraído do Dorso Frio.
– É aqui que vamos acampar? – Adrian a cortou no meio da frase. Cornelia, ainda com a boca entreaberta, calou-se com um gosto amargo subindo de suas entranhas.
Fazia dias que ele não lhe dirigia a palavra, não mantinha contato visual e recuava ao menor toque. Ela sabia o motivo, e sabia que era a culpada. A ferida no pescoço de Adrian agora não passava de um hematoma esverdeado. Para Hati e Sir Maron era apenas uma pancada sofrida enquanto lutavam por suas vidas, mas aos olhos dela – e dele também, desconfiava –, era uma mácula em sua própria alma. Ela não tinha certeza sobre o quanto acreditava no Criador, mas sabia que, se fosse um deus vigilante e punitivo, ela nunca teria um lugar em sua Cidade Dourada.
Seus pensamentos foram interrompidos quando alguém a puxou pelo ombro. Ela se virou rápido, desequilibrando-se, e enrubesceu ao dar de cara com Hati. Como uma reação ao seu movimento brusco, o rosto do rapaz também parecia assustado.
– O que foi? – perguntou, soando mais ríspida do que gostaria.
Hati se afastou, bufando.
– Só ia pedir ajuda para acender o fogo, nada mais. Desculpa se atrapalhei sua... introspecção.
Ela estendeu a mão, puxando a manga de sua camisa para que ele não fosse embora.
– Hati, me desculpe. Eu não estou no meu melhor estado. Minha cabeça não está funcionando bem.
– Desde o dia do ataque. – completou, confirmando que notara uma mudança. – Nenhum de nós está. Nem eu, ou você, ou Adrian...
– Ou Sir Maron. – disse ela, quando parecia que ele não terminaria a lista. – Não com você, pelo menos.
– Você não deixa nada passar, não é? – Soltou um riso com mais cansaço do que humor.
– Eu não tenho culpa que você seja praticamente um livro aberto. É só olhá-lo que consigo dizer o que se passa pela sua cabeça.
Hati cruzou os braços e se inclinou para trás.
– Eu não estaria tão certo, se fosse você. Ninguém nunca vai entrar na minha cabeça dessa forma, a não ser que tenha magia envolvida.
E, tão subitamente quanto desaparecera, a bile voltou à sua garganta.
– Se eu conhecesse esse tipo de magia, eu teria evitado... – ela precisou engolir em seco antes de continuar. – ... teria evitado o último confronto.
– Não vão nos ajudar? – Adrian disse em voz alta, bastante irritado. Ele e Sir Maron estavam armando as barracas ao lado da carroça de Legnar, uma estrutura alta e colorida sobre quatro rodas maiores que o anão. O templário não pareceu aprovar o tom de seu aprendiz, mas não fez nenhum comentário.
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Ossos Quebrados [Dragon Age] [Completo]
Fantasy*Baseado na série de jogos Dragon Age* O mundo esteve perto do fim quatro vezes, e o quinto Flagelo se aproxima. Hordas de crias-das-trevas abrem caminho pelas profundezas da terra trazendo consigo morte e desolação. Diante dessa ameaça uma maga, um...