Hati suava frio e a madeira do arco de Sir Varnell escorregava em suas mãos. A tocha estava plantada aos seus pés, as chamas querendo dançar para longe ao sabor do vento. Ele havia se juntado a Cornelia no campo terroso e os dois observavam o moinho de longe. Sir Maron buscava tratamento no Coro e Adrian e Sir Varnell iam atrás de Peoth e Verna.– Como você ainda consegue fazer feitiços depois de tudo que fez hoje? – ele perguntou, girando uma flecha comprida entre os dedos.
– Não consigo. – ela respondeu, deixando-o ainda mais intrigado. Hati tinha certeza de que vira seus feixes luminosos atingindo os genlocks durante a batalha recente. – Se está falando das minhas lanças arcanas, elas não são um feitiço. São mais como... abrir uma comporta e deixar a água fluir.
– Lanças arcanas. – ele repetiu. – Um nome interessante.
– É disso que se trata ser um mago: escolher bons nomes para seus poderes. – Cornelia riu do próprio comentário e Hati sorriu com ela, esquecendo-se por um instante que seus companheiros corriam perigo dentro do moinho. Entretanto, uma sombra tomou o rosto de Cornelia e ela apontou: – Ele está com Verna como refém!
A maga ergueu seu cajado, a ponta luminosa pulsante. Ao mesmo tempo Hati encaixava uma flecha na corda e a esticada, fazendo mira. As vozes que chegavam a eles eram indistintas, a iluminação era parca e a distância ainda complicava as coisas.
– Você vai atirar nele? – perguntou Hati, ele próprio apontando para as costas de Peoth que apareciam através de uma janela quadrada.
– Não sei se alcanço. – disse ela, insegura. – Você garante o tiro?
– Já cacei coelhos fugitivos mais difíceis que esse. – garantiu Hati, e liberou a tensão da corda. A flecha cortou o ar com um assovio, invisível na noite até atravessar a janela, desviou-se do caminho, passou rente à cabeça de Peoth e cravou-se no teto do moinho.
O assassino jogou-se para baixo com sua refém, saindo de seu campo de visão. Hati engoliu em seco e abaixou o arco devagar. Seu erro poderia ser uma sentença de morte para Verna Hank.
***
Peoth sentiu o vento junto ao rosto e ouviu o estampido antes de ver a flecha cravada nas tábuas inclinadas do teto do moinho. Adrian, de frente para o criminoso e de espada em punho, assustou-se tanto quando ele. Sir Varnell praguejou às suas costas, Peoth agachou-se e puxou Verna consigo, jogando-a no chão. Estava fora do alcance do arqueiro do lado de fora, e a faca longa ainda estava em seu punho fechado.
Adrian foi rápido em se aproximar e chutar a mão de Peoth para longe de sua mãe. O criminoso recuou como um animal ferido e raivoso, encurvado e apontando a faca para a frente. Adrian colocou-se entre ele e sua mãe, e Verna recuou o quanto pôde. Agora era ele que estava com a vantagem: ele e Sir Varnell estavam em maior número, os dois tinham espadas longas e escudos enquanto Peoth empunhava somente seu punhal.
– Vai fazer o quê com essa faquinha? – zombou, balançando a ponta de sua espada de um lado para o outro como uma cobra ameaçando dar o bote.
Peoth não respondeu. Seu rosto transparecia suas intenções assassinas. Ele avançou com um passo rápido e Adrian apontou a espada para a frente. Peoth, no entanto, dançou em volta da lâmina, dando um giro completo com o corpo a poucos centímetros da ponta afiada.
Adrian não tinha como golpeá-lo corretamente. A lâmina da espada das crias-das-trevas era longa demais para manobrar em um espaço restrito e, ao movê-la de lado, o atingiu com a parte chata. Ao mesmo tempo Peoth estocava com toda a extensão de seu punhal. Naquele momento Adrian soube que cometera um erro terrível, e essa noção veio antes mesmo da dor da punhalada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ossos Quebrados [Dragon Age] [Completo]
Fantasia*Baseado na série de jogos Dragon Age* O mundo esteve perto do fim quatro vezes, e o quinto Flagelo se aproxima. Hordas de crias-das-trevas abrem caminho pelas profundezas da terra trazendo consigo morte e desolação. Diante dessa ameaça uma maga, um...