Demônios - Parte III

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— Você o vê? Onde está Adrian, onde está?

Cornelia encolheu-se frente aos gritos do templário, exaltado, fora de si. Molhado, tremendo e sangrando, parecia apesar de tudo capaz de saltar de volta e ir atrás de seu aprendiz.

Tensa, a maga esticou seu cajado para baixo e canalizou a energia do Turvo, fazendo com que ponta de madeira se iluminasse como um cristal translúcido sob o sol do meio-dia. A rocha úmida das paredes e a água agitada refletiram de volta sua luz. Um rastro deixava a água e adentrava o túnel profundo, uma trilha de água, sangue derramado e pálidos ossos quebrados. Aquele era o único sinal de Adrian. A sombra que o puxara para a água o arrastara rápido demais para que os olhos acompanhassem. Agora ele estava desaparecido, tragado para as entranhas de Poçofrio, além de qualquer ajuda que pudessem fornecer.

Os aldeões afastaram-se do poço um a um, finalmente percebendo o perigo da situação. Arregalavam os olhos para o templário descontrolado e caminhavam vacilantes para trás. Nem mesmo aqueles que viam como heróis haviam sido capazes de derrotar a Coisa Faminta, e pior: talvez a tivessem irritado e em breve sofreriam as consequências.

— Adrian! - O templário inclinou-se por cima da borda, apoiando o peito no muro de pedras para gritar dentro do poço. — Adrian!

Cornelia ergueu uma mão para tocá-lo, para puxá-lo para longe antes que caísse e fosse mais uma vítima da Coisa, mas desistiu, os dedos a poucos centímetros da roupa encharcada de água e sangue. O desespero abateu-se nela com a terrível realização do destino de Adrian. Olhando em volta não pôde encontrar Hati, mas também não sabia o que pediria ou sequer diria a ele. Se Hati estivesse lá com seu arco e flecha talvez Adrian tivesse escapado, ou talvez não tivesse feito a menor diferença.

Bjarka, com o olhar vidrado e caminhando inquieta de um lado para o outro, era a única que permanecia ao seu lado. Segurava a espada em mãos, pronta para defender-se ou talvez atacar a primeira ameaça que encontrasse.

— Ele não vai voltar, cavaleiro. Ele já se foi, a Coisa o pegou.

— Cale-se! — Sir Maron virou-se com um dedo em riste e a voz alterada. — Vocês têm um demônio vivendo sob suas casas e não denunciaram ao Coro nem fizeram nada para nos ajudar! Cornelia, onde está Hati?

— Eu não sei... Sara disse que ele estava me esperando sair da casa, mas não o vi quando saí.

O templário voltou-se para Bjarka.

— Onde ele está?

Ela recuara um passo enquanto ele estava virado e agora assumia uma postura combativa.

— E por que eu deveria saber? Não o deixou dentro do poço?

Para Sir Maron, aquela foi a gota d'água. Ele avançou não com um soco, mas um golpe de espada, uma estocada diretamente contra o ventre de Bjarka.

Cornelia não teve tempo de reagir ou ao menos piscar, mas Bjarka, sim. Uma pessoa provocativa como ela estava sempre atenta a represálias e conseguiu esquivar, virando o corpo de lado para que a espada de Sir Maron passasse rente à sua barriga. Ao mesmo tempo, sua espada curta saiu da bainha e empurrou para longe de si a lâmina templária. Sir Maron ainda se movimentada e deu-lhe um encontrão com o ombro. O cavaleiro era maior que Bjarka, mas a força dela ficou aparente quando ela não só se manteve em pé, mas devolveu uma cotovelada contra a cabeça de Sir Maron.

O golpe jogou sua cabeça para trás e parou sua investida. O corte em sua testa cobriu seus olhos de sangue, e o golpe seguinte foi amplo e desajeitado. Antes que pudesse partir novamente para cima dela, Cornelia o agarrou pelos ombros e o puxou para trás.

— Já chega! Chega de mortes, chega de desperdiçar nossas forças, por favor.

A guerreira deu um sorriso vitorioso, mas que desapareceu ao ouvir a voz de Sara:

— Isso vale pra você também, Bjarka.

— O quê? — ela protestou, indignada ou talvez fingindo.

Sir Maron desvencilhou-se de Cornelia com um puxão e foi para cima de Sara.

— Você é a apóstata responsável por isso tudo. — Sua espada cintilou na luz do dia quando ele abriu os braços e a pôs ao lado do corpo. — Da vila até a morte de Adrian.

Sara ergueu a palma da mão. Seu semblante estava sério porém tranquilo.

— Você não sabe nada sobre nosso problema nem sobre Adrian. Ele ainda pode estar vivo, mas pra continuar assim você não deve me atrapalhar.

— Vivo? Você mente. Como saberia isso?

— Por que é assim que a Coisa Faminta faz. Eu posso atrasar o banquete, distraí-la enquanto você dá um jeito de buscar seu pupilo. Cornelia, vem comigo.

Sir Maron a barrou quando tentou se aproximar de Sara. Encarava Sara como o próximo oponente a ser abatido, olhando-a por cima dos ombros de Bjarka, que se postara entre os dois.

— Não se meta nas profanidades desta mulher, Cornelia. Mantenha sua alma pura e deixe que eu lide com a apostasia.

O aperto voltou ao seu peito, o mesmo estrangulamento do dia em que usara magia de sangue.

— Mas e se salvar Adrian...

— Não é uma barganha! — o templário rosnou. — Não é uma escolha que você possa fazer, não é sequer uma opção.

Cornelia empurrou a mão de Sir Maron para longe de si com o cajado. Ele a olhou confuso.

— Não será a primeira vez, Sir Maron. Me perdoe.

Sara não assentiu quando ela aproximou, mantendo os olhos no templário que Cornelia deixava para trás. A curandeira pôs uma mão no ombro de Cornelia e a conduziu enquanto se afastava. Sir Maron continuou imóvel onde estava, incapaz de uma palavra sequer.

— Bjarka, pegue Mabel e encontre Hati. Sir Maron, esteja pronto pra salvar Adrian.

***

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Até a próxima!

Ossos Quebrados [Dragon Age] [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora