Ossos Quebrados [Dragon Age] [Completo]

Profundezas - Parte VI

– É melhor você começar a se explicar! – Adrian apontou um dedo acusador para Bjarka. Ao mesmo tempo, sua outra mão puxou um pouco da espada, revelando uma polegada de sua lâmina.

Bjarka não deu sinal de se deixar intimidar. Pelo contrário, parecia somente aborrecida com a explosão de Adrian.

– Seja um bom menino e pare com a gritaria. — respondeu com o tom de quem estava educando uma criança. — Ester teve bebê mês passado e ele custa a pegar no sono. Se você continuar gritando desse jeito vai acordar a criança, aí sim vai ter problemas.

Hati esfregou o rosto com as mãos, sentindo-o amortecido. Estava exausto, incapaz de formular pensamentos claros, e sabia que Adrian também devia estar. Depois do confronto com o assassino, da busca por um refúgio e de carregar Sir Maron por tanto tempo, levantar uma espada e lutar seria um esforço descomunal. Bjarka, em forma muito melhor que a deles, certamente sairia vitoriosa.

– Vamos resolver isso com a cabeça, não com os punhos, por favor. — ele suplicou.

– Não podemos ignorar uma apóstata!

Adrian avançou para cima de Bjarka e Hati precisou se colocar entre os dois antes que o pior acontecesse.

– Você não sabe disso! – Ele o empurrou para trás com força, mas Adrian era maior e não cedia facilmente. – Nós não sabemos se Sara é ou não uma maga, mas sabemos que ela está tentando salvar Sir Maron, e isso é bom, não é?

Adrian não deu nem um passo atrás, mas ao menos tirou a mão da espada. Ele encarava sua inimiga por cima do ombro de Hati, bufando, até ser vencido pelo cansaço. Com um suspiro longo, Adrian deu-lhes as costas, murmurando:

– Nós realmente sabemos isso? — E, com isso, caminhou para longe da casa de Sara e em direção ao vilarejo.

Hati deixou os braços caírem, sentindo-se impotente. As pessoas que há poucos dias eram seus amigos iam se tornando estranhos diante de seus olhos. Na verdade, eles nunca chegaram a realmente conhecer um ao outro, e talvez não tivessem chance de fazê-lo.

Adrian desapareceu na escuridão conforme descia a estrada em direção à vila, da qual eles nem ao menos sabiam o nome. Com a única luz às suas costas, contudo, seus olhos se acostumaram à noite e ele voltou a enxergar o vulto de seu companheiro. O que havia à sua volta, contudo, trouxe à tona sentimentos desagradáveis.

Casas simples, algumas elevadas do chão, agrupavam-se em torno da estrada. Uma delas tinha uma rede pendurada na varanda, outra tinha o telhado mais inclinado, com telhas de barro ao invés da palha usual. Um cão latiu em algum lugar entre as casas, mas a quietude logo retornou e tomou conta da noite. Era uma vila ordinária, parecida demais com Pedralar, e era isso que o deixava desconfortável. Assim como em Pedralar, essa vila dormia em paz enquanto o perigo rondava seus lares.

Mas havia algo de diferente ali. A estrada retilínea descia a encosta de um morro e terminava em um muro, baixo e curvo, e não parecia haver nada além dele. Não era um pasto ou um descampado, mas um fragmento de vazio em torno do qual a vila parecia ter se expandido.

– Deixe-o esfriar a cabeça. – disse Sara, aparecendo atrás dele e ao lado de Bjarka. Acompanhava o percurso de Adrian com os olhos antes de direcioná-los a Hati. – Vocês todos precisam descansar, antes que façam algo de que se arrependam.

Era verdade que precisavam descansar, mas Hati não confiava em Sara tanto quanto queria que Adrian pensasse. Era melhor que ficassem todos juntos em um momento como aquele, para que pudessem ao menos vigiar as costas uns dos outros.

– Sim, tem razão. – foi sua resposta. – Vou chamá-lo.

Hati não perdeu tempo e começou a descer a estrada de terra batida. Conseguia divisá-lo lá embaixo, junto ao muro, contemplando além dos limites das trevas profundas. Ele passou diante da primeira casa da vila e reparou em como parecia a casa de Meir em Pedralar, com sua varanda elevada onde ela embalava seu bebê na noite do ataque. A cada nova casa, mais lembranças daquela noite mostravam-se como vívidas, ameaçando trazer de volta os pesadelos que, graças ao Criador, cessaram ao deixar Lothering para trás.