Justiça - Parte I

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Uma procissão barulhenta acompanhava os templários e seus dois prisioneiros para fora de Lothering. Peoth, empurrado por Sir Varnell, arrastava os pés preguiçosamente. Adrian Hank, por outro lado, pisava forte ainda sem acreditar que estava sendo preso.

– Eu tava tentando parar a briga! – esbravejou, mas continuou andando com o incentivo da mão enluvada de Sir Bryant apertando seu ombro até doer. – Eu nem mesmo tenho uma faca! Por que vocês não me escutam?

– Quieto, Hank. – disse Sir Varnell, ríspido. – Só vai piorar sua situação.

– Escute Sir Varnell, Adrian. – O comandante era mais ameno do que seu companheiro da Ordem, mas não o suficiente para ser piedoso. – Vamos investigar e tenho certeza que a verdade vai prevalecer, como é a vontade do Criador.

Cabeças apareceram através das janelas ao passarem pelo Refúgio de Dane. Adrian ouviu os murmúrios sobre os "assassinos do sapateiro", mas não se dignou a olhar. Logo que deixaram a estalagem para trás, viraram à esquerda e postaram-se diante de uma grande jaula suspensa. Sir Bryant retirou do cinto um aro metálico repleto de chaves e destrancou a portinhola.

– Colaborem conosco, vocês dois. – disse Sir Bryant, indicando a abertura na grade com a mão.

Relutante, Adrian ergueu-se e entrou na jaula. As barras grossas de metal estavam geladas e ele foi forçado contra elas quando Peoth entrou. Tentando encontrar uma posição confortável, Adrian passou as pernas por entre as barras, deixando-as balançando a quarenta centímetros do chão. Peoth entrou logo atrás dele e se posicionou de costas, empurrando Adrian até encontrar sua própria posição. Assim que ele se acomodou Sir Bryant bateu a porta, passou a chave e puxou a grade para garantir que estava bem fechada.

– Está feito. – anunciou o comandante dos templários. – Voltaremos pela manhã.

Adrian observou a multidão que não se movia. Encaravam-nos com olhares de raiva e piedade, e o rapaz não sabia dizer para qual dos dois cada um dos sentimentos era dirigido. Havia muitos rostos desconhecidos entre os familiares moradores de Lothering. Harn, seu amigo de longa data, mirava-o com a boca semiaberta, mas sem ter nada para dizer. O sangue de Adrian fervia por ver a apatia de seus conhecidos frente a injustiça cometida contra ele.

– Nenhum de vocês viu nada? – perguntou em voz alta. – Não tem ninguém pra testemunhar ao meu favor?

Os murmúrios cessaram entre a multidão. Adrian estendeu as mãos para fora da grade, gesticulando com as palmas abertas. Sir Varnell golpeou as barras metálicas com sua espada, criando um estrondo que sobressaltou os dois prisioneiros e fez uma onda de medo percorrer a turba.

– Andem! – Ele os dispensou em seu tom agressivo. – Vão para suas casas, isso não é nenhum espetáculo. E se eu ver qualquer um jogando frutas podres nesses dois...

Nem os moradores de Lothering nem os refugiados precisaram de outra ordem para irem embora. Ninguém gostaria de pisar no calo de um templário. Os dois cavaleiros assistiram a multidão se dispersar rapidamente, dirigindo-se para suas casas ou para as barracas do outro lado da vila. Assim que o povo comum se afastou os templários também foram embora, levando a luz de suas tochas e deixando os dois enjaulados na escuridão.

***

Cornelia não enxergava nada ao ser carregada para dentro do Coro, nem mesmo os rostos de quem a ajudava. Sua visão estava turva, transformando cada foco de luz em um ponto difuso como se estivesse submerso, e os sons chegavam a ela abafados e se perdiam antes que os compreendesse. Sentiu ser deitada em uma superfície dura e plana e a água sendo colocada em sua boca. Tentou engolir e acabou se engasgando, mas a lucidez foi retornando rapidamente.

Ossos Quebrados [Dragon Age] [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora