De olhos fechados e dentro de sua tenda, Adrian estranhava a demora de Hati em retornar. Ele ainda ainda não estava pronto para dormir – na verdade, estava agitado com a mudança de ares pela qual estava passando, e não parava de pensar sobre como a parcela do mundo que conhecia era pequena: Pedralar fora o limite de suas viagens, e sempre acompanhado de algum parente. Mas, ainda deitado e olhando para o céu, começou a se preocupar com o companheiro de viagem. Será que decidira fazer uma caminhada noturna pela Estrada Imperial? Ou quem sabe tivesse ido até o acampamento dos quatro guerreiros para espioná-los? Provavelmente sua preocupação era infundada, e ele não queria fazer alarde à toa, por isso permaneceu imóvel e em silêncio.
Contudo, mais alguns minutos sem sinal de Hati o deixaram realmente preocupado, e seu sono desapareceu completamente. Hati estivera agindo estranho, ele tinha que admitir, mas ele não teria ido embora, teria? Haveria motivo para abandoná-los? Era melhor procurá-lo, só para garantir que não havia nada de errado.
Adrian levantou em silêncio, calçou as botas e começou a andar pelo perímetro do acampamento, até onde alcançava a irradiação quente da fogueira. Não havia sinal de Hati por ali. Olhando em sua barraca, seus pertences ainda estavam guardados, então descartou a possibilidade do rapaz ter partido sem eles. Precisava ir mais longe, então pegou de dentro da fogueira um galho cuja ponta estava em chamas, mas a outra extremidade, fora do fogo, era suportável de segurar. Com uma tocha improvisada em mãos, afastou-se da segurança do acampamento.
Uma trilha o levou por baixo dos arcos da estrada, por entre rabiscos nas paredes feitos por aqueles que estiveram lá antes dele. Mais além, a clareira dar lugar a um mato baixo, e então, com relva batendo nos joelhos, a uma encosta que terminava no Calenhad. Ainda assim, nenhum sinal do rapaz.
– Hati? – chamou, mas a voz custou a sair, inibida pela quietude noturna. Ele pigarreou e falou mais forte: – Hati?
Nenhuma resposta.
Ele retornou ao acampamento por onde viera, ainda receoso em acordar os companheiros. Tentou refazer os passos de Hati, seguir suas pegadas, mas havia muitos rastros na clareira e todos pareciam levar até a rampa. A única coisa a fazer era subir até a Estrada, e foi o que fez: galgou os tijolos brancos e, diante da via que se estendia indeterminadamente para os dois lados, achou ter encontrado a resposta para o desaparecimento de Hati.
O acampamento dos quatro guerreiros não estava mais lá. Não havia mais o brilho da fogueira, ou a silhueta das barracas erguidas. Não havia sinal dos quatro, mas também nenhum sinal de Hati, e Adrian teve a certeza de que as duas coisas estavam relacionadas.
Olhando para o acampamento abandonado, um calafrio o desestabilizou. Desceu correndo a rampa e acordou Sir Maron, chacoalhando-o pelos ombros.
– O que foi? – O templário soou como se já estivesse em sono profundo, esfregando os olhos. Olhou então em volta, confuso a princípio, mas então reconheceu Adrian e se endireitou. – Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa?
– Hati sumiu. Acho que foi embora junto com aqueles guerreiros que vimos mais cedo.
Mesmo tentando modular a voz as palavras saíram rápidas e alarmantes, e Sir Maron despertou num piscar de olhos, agarrando a espada ao seu lado antes mesmo de compreender completamente o que acontecia.
– Acorde Cornelia, depois me ajude a me armar.
A maga tinha sono leve, e abriu os olhos assim que Adrian se aproximou de seu saco de dormir.
– Temos problemas, Hati desapareceu. – explicou sucintamente, e ela logo saiu de seu abrigo. Dormira com o manto azul do Círculo no corpo, e o cajado ao alcance da mão.
– Quando? Que horas são agora?
Ele olhou para cima, procurando pela lua.
– Já passa da meia-noite, então faz uma hora que ele saiu do acampamento.
– Como assim, ele saiu? – quis saber ela. – Simplesmente foi embora?
– Eu não sei. – respondeu Adrian, preparando-se como Sir Maron. Jogou o camisão de malha de aço por cima de suas roupas e prendeu o cinto da bainha. – Ele me substituiu na vigília mas foi embora.
– Você os viu? – perguntou o templário enquanto atava apressadamente as placas da armadura no corpo. O processo todo levaria quase dez minutos, mas Sir Maron não parecia querer iniciar uma perseguição sem estar devidamente protegido. – Os guerreiros, você os viu?
– Não, na verdade. – admitiu, sem entender a pressa de seu tutor.
– Então já devem estar longe, ou escondidos. – conjecturou o templário. – Não vamos alcançá-los se não partirmos agora. – Ele se virou para o lado e ordenou: – Cornelia, sele Mordred. Ande com isso, Adrian. Eu já lhe ensinei que primeiro deve prender o peitoral, depois as ombreiras!
Cornelia havia terminado sua tarefa e Mordred resfolegava na base da rampa, tão inquieto quanto eles, quando o templário e seu aprendiz finalmente ficaram prontos.
– Cabeça, Adrian. – disse Sir Maron, e seu pupilo pôs o elmo de seu pai, escondendo o rosto atrás de uma camada de metal que pesava sobre seu pescoço, mas que o protegeria de praticamente qualquer agressão. – Vocês dois vão até o acampamento e vejam se realmente está abandonado. Se não estiver, voltem até aqui, não tentem enfrentá-los. Vou cavalgar por alguns minutos na outra direção e retorno para cá. Repito: – enfatizou, olhando-os sério. –, não os enfrentem em menor número.
– Fizemos isso em Lothering. – argumentou Adrian. – Contra as crias-das-trevas.
Sir Maron montou em Mordred, o escudo em suas costas e a espada na bainha.
– Crias-das-trevas são a encarnação do pecado humano, e mesmo elas não são capazes de igualar a perversidade humana. Agora vão, com a bênção do Criador.
Dito isso, Sir Maron estalou as rédeas e Mordred disparou pela rampa e ganhou a Estrada Imperial, deixando-os rapidamente para trás.
Adrian encarou Cornelia com confusão. Não entendera todo o alarde por Hati ter ido embora. Ele não era obrigado a acompanhá-los até a Torre do Círculo, fazia-o porque queria. A maga, contudo, tinha os olhos vidrados e parecia não notá-lo ao seu lado.
– Pra onde você acha que ele foi? – perguntou, fazendo-a sair de seu transe.
– Acho que Hati foi sequestrado. – disse ela, fazendo Adrian sobressaltar com a estranheza da ideia. Ela balançou a cabeça. – Vamos andando, explico pra você no caminho.
Mas, antes de darem um passo sequer, a floresta em volta da clareira agitou-se, e seus predadores saíram de seus esconderijos. Estavam cercados.
***
Olá, leitores!
Espero que tenham gostado desse capítulo de Ossos Quebrados. Se gostaram, deixem seu voto e me contem nos comentários o que acharam mais legal :)
Espero por vocês na semana que vem o/
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ossos Quebrados [Dragon Age] [Completo]
Fantasía*Baseado na série de jogos Dragon Age* O mundo esteve perto do fim quatro vezes, e o quinto Flagelo se aproxima. Hordas de crias-das-trevas abrem caminho pelas profundezas da terra trazendo consigo morte e desolação. Diante dessa ameaça uma maga, um...