Profundezas - Parte IV

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Raízes grossas projetavam-se para fora do chão e, na escuridão, os faziam tropeçar a cada passo. Folhas e espinheiros cercavam-nos dos dois lados, arranhando seus braços e rostos, drenando aos poucos energia que os impulsionava adiante. Forçados a deixar a carroça e suas montarias para trás, Adrian, Hati e Cornelia percorriam a trilha a pé, carregando Sir Maron nos braços. Sem armaduras, escudos ou qualquer outra ajuda, estavam vulneráveis. Ninguém falava, e Hati sentia em cada sombra a presença de uma cria-das-trevas, um assassino espreitando atrás de cada tronco, uma possível ameaça depois de cada curva. A luz que haviam visto à distância desaparecera, e se não a reencontrassem em breve, não conseguiriam salvar Sir Maron.

– Como está a respiração? – perguntou Cornelia. Ela seguia na frente, iluminando o caminho com a luz pura que emanava da ponta romba de seu cajado. Atrás dela, Hati e Adrian carregavam o templário inerte pelas pernas e braços, respectivamente.

– Fraca. – respondeu Adrian, a voz dando indícios de seu cansaço. – Mais do que antes. Já não devíamos ter chegado?

Hati compartilhava dessa opinião. O tênue facho de luz avermelhado de uma lanterna os atraíra há vários minutos, mas, desde que entraram na trilha não o viram novamente.

– Aquela luz não parecia estar tão longe da estrada, mas essa trilha faz tantas curvas que...

– Nem mais um passo. – ordenou-lhes a voz de uma mulher, e eles pararam onde estavam. Cornelia apontou o cajado para a frente na tentativa de encontrar a pessoa, mas não viram nada além dos pinheiros e arbustos que cresciam entre eles.

– Prepare-se para lutar. – Adrian murmurou entredentes, e Hati precisou conter o impulso de alcançar a machadinha em sua cintura.

– De quem é esse cadáver? – ela quis saber. Sua voz vinha logo à frente, mas, ao mesmo tempo, um movimento entre a folhagem à esquerda deixou claro que alguém – ou algo – se esgueirava para cercá-los.

– Ele não está morto, está ferido. – Cornelia respondeu rapidamente. – Atingido por uma flecha envenenada. Precisamos de ajuda para tratá-lo.

– Foram atacados enquanto vagavam de noite? Não posso oferecer ajuda pra gente suspeita assim.

– Podemos pagar. –disse Cornelia, e, frente ao silêncio da mulher, pegou a sacola em sua cintura e balançou, fazendo as moedas dentro tilintarem.

Foi suficiente para convencer a mulher a sair de seu esconderijo e se revelar.

A mulher de queixo quadrado e com uma lâmina larga na mão saiu do meio dos arbustos à sua frente, endireitando as costas e franzindo o cenho diante da luz mágica. Ao mesmo tempo, um cão enorme saltou entre Hati e Cornelia, e os dois se afastaram sem pensar duas vezes. Era uma fêmea de orelhas curtas, pelo marrom e com um padrão espiralado pintado de branco em suas costas, quase como uma tatuagem. Ela rosnou baixo, olhando para cada um dos desconhecidos.

– Calma, Mabel – a mulher mostrou a palma para a cadela. –, eles não são perigo. Meu nome é Bjarka. Mabel, nos leve até Sara, por favor.

– Uma mabari! – Hati exclamou, olhando-a trotar à frente do grupo e ao lado de Bjarka. – Nunca vi um mabari fora do canil de um nobre. E esses kaddis, o que será que significam?

A mabari relanceou para trás e bufou.

– Acho que eles realmente entendem o que dizemos. – disse Cornelia, divertindo-se por um momento mas logo sendo suprimida por um senso de urgência: – Estamos muito longe?

– Não muito. Os meninos aí atrás ainda conseguem carregar seu amigo ou precisam de ajuda?

– Meninos? – Adrian sussurrou para Hati, incomodado. – Ela deve ter a mesma idade que nós.

Hati balançou a cabeça, rindo por dentro de Adrian, que se incomodava com esse tipo de coisa. Bjarka percorria a trilha adiante a passos largos, e, contanto que ela os levasse até um lugar seguro, ele não se importaria em segui-la, fosse qual fosse sua idade. E, além do mais, ela parecia ser bastante experiente, abrindo caminho com sua espada curta e protegendo-se dos espinheiros com os braços protegidos por um casaco de couro cru.

– Quem é essa Sara, afinal? – Hati perguntou em voz alta, e emendou: – E a lanterna que vimos da estrada era sua?

– Sim, era minha, e Sara é uma curandeira. Agora guarde seu fôlego pra subida.

Hati fechou a boca, e não tornou a abri-la ao longo do restante da trilha, que ascendeu uma colina pedregosa e exigiu toda a sua energia. A cada minuto Sir Maron parecia ficar mais pesado, e seus braços ardiam cada vez mais, e foi com alívio que, ao chegarem no topo da colina, finalmente reencontraram a luz. A mabari já havia se adiantado, e esperava junto com sua dona diante da porta.

– Eu sonhei com sua chegada. – disse a mulher com longas tranças e um olhar cansado, mas não sonolento. – Entrem. A cura para seu amigo já está borbulhando em meu caldeirão.


***

Olá, leitores! Espero que tenham gostado desse capítulo, e que continuem acompanhando.

Até a próxima semana!

Ossos Quebrados [Dragon Age] [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora