Estavam sob ataque novamente. Depois de enfrentar crias-das-trevas, de lutar contra mercenários e presenciar o poder profano da magia de sangue, Adrian já devia estar acostumado com sua vida correndo perigo. Mas o medo dentro dele crescia junto com a violência a que estava cada vez mais imerso. Quando era mais novo e sonhava em ser templário, não pensava no que isso significava: matar ou morrer, impor a vontade do criador com sangue derramado. E, no meio da madrugada, o chamado para derramar sangue chegava mais uma vez.
Um vulto disforme cruzou o limite do acampamento. Corcunda, grunhindo, arrastando uma massa pesada atrás de si. Adrian já estava em pé quando seus olhos adaptaram o suficiente para enxergar com nitidez: Hati arrastava Legnar, e a longa haste de uma flecha despontava do peito do anão.
– Não fique me olhando – Hati esbravejou. –, venha ajudar!
Adrian se juntou a ele e pegou o anão pelas pernas. Seu olhos estavam virados para trás, com veias pulsantes em sua esclera branca.
– Você é mais pesado do que parece.
– Atredun nal tunsha... – respondeu Legnar. Seus braços flácidos pendiam ao lado do corpo, quase arrastando no chão.
– O que ele disse?
– Está delirando. – explicou Hati, a voz saindo com esforço. – Vamos levá-lo até a fogueira.
– O que aconteceu? – Sir Maron surgiu ao lado dos dois com sua espada e escudo, e se postou entre eles e a escuridão, fazendo do próprio corpo uma barreira. – De onde veio essa flecha?
– Não faço ideia. Escutei a flecha e fui até onde estava caído, as calças arriadas e tudo mais.
Pousaram Legnar ao lado da fogueira, e Cornelia logo se juntou a eles. Ela tocou a pele em volta da flecha.
– Não sente dor, ou pelo menos não reage. Rasgue a camisa dele, Hati.
– Adrian, escudo. – ordenou Sir Maron.
Ansioso para se juntar ao templário, Adrian correu até seus pertences e pegou seu escudo pesado. Afivelou-o ao braço enquanto voltava.
– O que faremos...
Um silvo e um impacto o interromperam no meio da frase. Sir Maron cambaleou em sua direção, atingido por uma flecha na coxa.
– Busquem cobertura! – o templário gritou. Ele e Sir Maron juntaram os escudos e dobraram os joelhos, mas o cavaleiro arquejou e trocou o apoio para a perna são. Hati e Cornelia se juntaram para carregar Legnar na direção da Estrada Imperial às suas costas.
Outra flecha atingiu o flanco de uma das mulas de Legnar, fazendo-a empinar e forçar sua corda. Relanceando para trás, Adrian viu Hati e Cornelia colocaram o anão para dentro de sua carroça e entraram logo atrás dele.
– Pule para dentro, Adrian. – disse Sir Maron. Ele obedeceu, pondo um pé entre os raios da roda e impulsionando-se através da abertura na cobertura de lona. Lá dentro, Cornelia e Adrian estavam deitados por cima do corpo de Legnar, entre caixas de mercadorias e sacos de suprimentos de viagem. – Agora me ajude a subir.
Sir Maron virou se de costas para a carroça e apoiou a perna boa na roda, como ele fizera. A flecha balançava com cada movimento, por pouco não enroscando e piorando a ferida. Ele deixou que Adrian o puxasse por um braço e caiu de costas do lado de dentro. Um segundo mais tarde, outra flecha cravou-se na carroça, no exato lugar onde estivera.
– Não estamos seguros aqui. – disse Hati, ofegante. – Essa cobertura não vai impedir as flechas.
– Por isso precisamos deitar. – falou Sir Maron. O som de madeira partida indicou que ele quebrara a flecha em sua perna, mas Adrian não conseguiu ver por conta da escuridão ali dentro. – Cornelia, preciso de ajuda. Andraste, me... – sua voz saiu carregada de dor, como um ganido. Sir Maron fez uma longa pausa antes de prosseguir: – Preciso mais do que Legnar.
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Ossos Quebrados [Dragon Age] [Completo]
Fantasy*Baseado na série de jogos Dragon Age* O mundo esteve perto do fim quatro vezes, e o quinto Flagelo se aproxima. Hordas de crias-das-trevas abrem caminho pelas profundezas da terra trazendo consigo morte e desolação. Diante dessa ameaça uma maga, um...