Ossos Quebrados [Dragon Age] [Completo]

Justiça - Parte III

Cornelia e Verna passaram bastante tempo conversando à luz da vela. A mulher contou sobre o desejo do filho de tornar-se templário e quis saber sobre a vida dos cavaleiros da Ordem. Cornelia falou de tudo que sabia sobre os votos dos templários de protegerem as pessoas, sobre suas habilidades para lidar com magias e sobre a fé inabalável em Andraste. Ela não sabia, porém, se aquilo servira para contentar ou preocupar ainda mais a mulher. A conversa terminou com Verna parada na porta da casa com uma vela na mão a lhe iluminar o rosto pensativo.

Foi quando ouviram o grito, um lamento de morte que fez suas espinhas gelarem e a vela ir ao chão, apagando-se e as deixando na escuridão completa.

Cornelia instintivamente fez uma luz irradiar da ponta do cajado. Verna cobriu os olhos, ofuscados pela luz súbita. Cornelia, que desviara o rosto por antecipação à luz forte, virou-se na direção da saída da vila, o coração batendo sonoramente no peito.

– Tranque a porta. – ordenou para a mulher atônita.

– Veja se Adrian está bem, por favor.

Cornelia assentiu com firmeza e começou a correr. O ar fresco da noite era revigorante e, somado à adrenalina que sentia, impulsionava seus pés. As casas em volta estavam todas escuras porém uma movimentação inquieta vinha de dentro, um burburinho dos que escutaram o grito. Cornelia tentou se orientar na direção do som mas só tinha certeza de que viera de fora de Lothering. Podia ter sido de onde Adrian e Peoth estavam presos, e o pensamento a fez acelerar ainda mais, erguendo a barra do manto com uma mão e tentando não tropeçar.

***

Adrian se pendurava no teto da jaula, tentando dar espaço para Peoth esticar o braço e alcançar sua ferramenta de arrombar fechaduras. Os três homens que se aproximavam na escuridão ainda estavam distantes demais para serem reconhecidas, mas Adrian enxergava o que parecia ser uma arma nas mãos de cada um, e pelo menos um deles portava escudo.

– Peguei! – disse Peoth, levantando com a haste metálica na mão. Ele imediatamente passou as mãos para o outro lado da grade e enfiou o objeto dentro da fechadura. Adrian desejava que ele fosse rápido com aquilo. Ele sentia a pele toda eriçada de medo e, apesar de não poder ver, tinha certeza de que Peoth sentia-se como ele.

Em poucos segundos a fechadura fez um clique alto e a porta da jaula balançou para fora, com Peoth se precipitando para a liberdade na mesma hora. Ele não olhou para trás para ver se Adrian o estava acompanhando. Recuou além da jaula em um movimento treinado de um gatuno, saltou uma cerca próxima e tratou de desaparecer sem dar um pio.

Adrian estava tão ávido para deixar sua prisão para trás quanto Peoth, mas se perguntava o que Sir Bryant acharia da fuga, mesmo que tivessem um bom motivo. Teriam eles um motivo válido para escaparem do cativeiro? Havia três pessoas na escuridão dos campos se dirigindo para Lothering, caminhando na escuridão e com armas desembainhadas. Lembrou das histórias de crias-das-trevas trazidas pelos refugiados, mas ele sabia que era o medo que o fazia pensar assim. Poderiam ser parte da patrulha que organizaram na vila, mas não havia motivo para caminharem sem tochas ou lamparinas. Poderiam ser os próprios templários...

Adrian não teve tempo de concluir o pensamento, nem de sair da jaula. Um grito estridente veio do oeste, à sua direita, tirando sua concentração. Havia terror contido naquele grito, e o que se seguiu foi o som de algo pesado caindo dentro d'água na mesma direção, e um grunhido baixo vindo da sua frente.

O som na água só podia ter vindo do rio Drakkon, mas não havia tempo para pensar nele. As três pessoas que caminhavam em sua direção passaram para uma corrida célere, revelando as feições cinzentas à luz das estrelas. Eram homens saídos de pesadelos. Suas bocas abertas revelavam mais presas do que qualquer lobo. Suas mãos brandiam machados denteados de aspecto cruel, fazendo amplos arcos acima de suas cabeças. E, de suas gargantas, emergiam urros que anunciavam um massacre.