O corpo inteiro de Adrian doía pela posição desconfortável na qual estava já há algumas horas. A jaula para prisioneiros em Lothering fora feita para ser pequena para apenas uma pessoa. Com ele e Peoth um de costas para o outro, Adrian era obrigado a esticar as pernas para fora por entre as barras, o rosto grudado na grade e a circulação restrita, fazendo os membros formigarem. Atrás dele, Peoth estava tão imóvel que podia ter pego no sono. Com a escuridão sob as estrelas e a temperatura amena, ele próprio poderia dormir se o desconforto não o acordasse.
Havia anos que ninguém era preso em Lothering, pois a justiça na vila costumava ser aplicada imediatamente. Quando havia uma briga na taverna os culpados eram jogados para fora sem demora. Se quebrassem algo, os templários garantiam que pagassem. Os poucos ladrões que foram pegos afanando bolsos ou furtando os comerciantes tiveram a mão cortada e foram proibidos de porem os pés novamente para dentro do cercado que delimitava Lothering. Diziam que um inimigo do rei tinha sido enforcado na cidade, mas Adrian era pequeno quando isso aconteceu portanto não poderia lembrar. A última prisão, até onde sabia, tinha sido de um homem acusado de apostasia – um mago ilegal, fugitivo do Círculo. O sujeito realmente parecia ser um fugitivo, porém ninguém tinha certeza se era realmente um mago. Afinal, que tipo de mago seria pego por três viajantes comuns na Estrada Imperial e ficaria preso por dois dias inteiros naquela mesma jaula, sem nem mesmo tentar escapar? Mago ou não, os templários lhe deram uma morte rápida pelo fio da espada.
Adrian se perguntava se Peoth teria uma morte como aquela: uma espada na garganta e os olhos arregalados perdendo a cor, as mãos sem força tentando agarrar a barra da túnica de seu executor. Isso, claro, se realmente tivesse sido ele o assassino. Na confusão da briga Adrian perdera a visão de Delen por alguns segundos, e havia pelo menos três pessoas por perto para desferir a punhalada. Claro que Peoth era o mais suspeito: fora ele que começara a briga, ele era acusado por Delen e ele ainda tinha uma cicatriz no rosto que remetia a um passado violento. Colocados lado a lado, era surreal ele ter sido preso junto com Peoth, como se fosse um desconhecido. Sir Bryant gostava de ensinar lições sobre humildade, justiça e fé, mas era desagradável quando essas lições tinham consequências tão drásticas. Adrian esperava que as testemunhas da briga esclarecessem os fatos e que o tirassem dali em breve. Esperava que...
– Pode chegar um pouquinho pra lá?
– O quê? – Tomado de surpresa por Peoth estar falando depois de tanto tempo, ele não entendeu uma só palavra do que disse.
– Vá pra direita, só um pouco. Eu preciso de um espaço aqui.
Adrian se irritou com o pedido. Peoth era o menor dos dois e mesmo assim achava que lhe faltava espaço?
– Não tem lugar pra onde ir. Já estamos amassados aqui, não consigo ir pra lado nenhum.
Peoth bufou, ele também começando a se irritar.
– Olha, eu tô esse tempo todo tentando tirar a gente daqui. Você bem podia colaborar um pouco, né?
Adrian se virou como pôde para trás. Peoth passara as mãos para o outro lado da grade e, usando uma ferramenta comprida e fina, mexia na fechadura da jaula, tentando abri-la.
– Ei! O que você acha que tá fazendo?
– Quer morrer tanto assim, garoto?
– Eu não vou morrer. Sir Bryant me conhece e sabe que não sou o culpado. Mas se fugir, não serei mais inocente.
– E você vai ficar sentado esperando os templários decidirem sobre sua inocência? Mesmo que seja seu queridinho, eles não são conhecidos por pegarem leve com as punições.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ossos Quebrados [Dragon Age] [Completo]
Fantasy*Baseado na série de jogos Dragon Age* O mundo esteve perto do fim quatro vezes, e o quinto Flagelo se aproxima. Hordas de crias-das-trevas abrem caminho pelas profundezas da terra trazendo consigo morte e desolação. Diante dessa ameaça uma maga, um...