CAPÍTULO 18-JONAS ACREDITA QUE CARLOS FOI EMBORA

302 70 17
                                    


Jonas acordou apreensivo, no dia seguinte. Sonhara com Carlos o olhando muito sério e calado. Estavam num lugar estranho, parecendo um campo. No horizonte, as nuvens pareciam anunciar chuva próxima. Carlos olhava para o horizonte e depois mirava o rosto de Jonas. O gesto foi repetido várias vezes, mas o falecido não falava nada, apenas olhava Jonas calado e sério.

O professor resolveu contar o sonho à irmã, a caminho da escola.

_Bom, as pessoas dizem que sonhar com tempestade é indício de preocupações, mas eu não sei se podemos acreditar nisso. Aliás, você não tem preocupações futuras e sim presentes, meu irmão. O que pretende fazer quanto ao Beto? Irá conversar com ele?

Jonas revirou os olhos:

_Ah, tá...chegarei perto dele e direi: oi, eu sou o Jonas, marido do cara morto que você tem incorporado.

Joice riu:

_Isso é o que eu chamaria de ir direto ao ponto.

_A vovó falou que há diversos tipos de mediunidade e que as pessoas que as têm podem unir sinais do mundo material com o desencarnado.

_Mas será que o Beto está consciente ou inconsciente do espírito do Carlos, Jonas?

Aquilo ainda dava um nó na cabeça de Jonas: saber que Carlos tinha usado o corpo de Beto para tocá-lo na garagem dos barcos era uma coisa, mas saber que Beto estava consciente do que estava acontecendo era outra totalmente diferente!

_O vovô disse que o médium inconsciente perde o controle de suas faculdades e deixa o controle para o guia. Mas se ele for um médium consciente, ele tem total controle sobre o modo de agir de quem o possui. Na verdade, eu precisava me aproximar deste Beto a fim de saber qual é a desse cara, Joice. Preciso saber se ele está se lembrando de tudo o que ele fez e não quer contar para a família, porque a namorada deu a entender que ele diz não se lembrar de nada da noite em que me resgatou de moto.

Jonas não conseguia acreditar que uma pessoa poderia fazer sexo com a outra e não se lembrar de nada!

_E como pretende fazer isso? Vai chamá-lo para uma conversa em particular ou vai tentar descobrir através da namorada língua solta dele?

_Nem uma coisa e nem outra, Joice. Vou ficar na minha e esperar pra ver pra que lado a situação irá pender...de repente, como disseram lá em casa, Carlos só veio matar a minha saudade, mostrar que está bem  e nem voltará mais pra me visitar.

Jonas tentava enganar a si mesmo imaginando que poderia voltar a viver sem Carlos e continuar bem.

O professor tinha que admitir para si mesmo, pelo menos, que a chama do amor entre os dois parecia estar ainda pulsando em seu peito...talvez, como Carlos dizia, o amor deles não acabasse jamais e durasse eternamente.

Quando chegou na escola, naquela noite, o professor logo percebeu que Beto não estava presente.

Ansioso para saber se ele já estava chegando, fez logo a chamada e levou um banho de água fria quando a namorada informou que o rapaz tinha viajado com a mãe e a tia para a casa de parentes.

_O pai dele decidiu que seria melhor ele viajar para espairecer as ideias. Pensou que talvez o Beto estivesse estressado por causa do acidente, sabe...por isso deu aquela louca nele no dia que ele fugiu de casa de moto._esclareceu Beatriz.

Beatriz continuou a falar, mas Jonas já não mais a ouvia, sentindo-se desolado e confuso.

Uma frase da moça chamou a atenção do professor:

_Sabe, fessor, os pais do Beto não vão muito com a minha cara...o pai e o irmão, porque a mãe dele é super gente boa e  fala que se o filho dela estiver feliz, ele que namore com quem ele quiser. Aí o senhor precisa ver, fessor, quando o pai dele implica comigo, como o Beto me defende. O senhor vai ver, fessor...o Beto pode ficar o tempo que for nesta viagem que eu tenho certeza de que a gente vai se falar o tempo todo pelo celular.

_Então ele pretende ficar muito tempo?_Jonas não resistiu.

_Parece que umas duas semanas ou mais, fessor...ele até me falou que vai fazer questão de voltar antes da festa...ah, em falar nisso, gente, eu estava pensando que Arlete poderia cantar pra gente. 

A garota virou-se para os colegas e mudou de assunto.

Jonas preferiu não insistir sobre o namorado dela, mas reconheceu que aquela notícia o deixara deprimido: queria descobrir mais sobre o rapaz que tinha lhe devolvido Carlos.

As semanas seguintes foram monótonas para o professor. Ao contrário da época em que ele sentia-se incomodado com a presença de Beto, agora era totalmente diferente e, vez por outra, ele se pegava tentando ouvir de Beatriz algum novidade do rapaz.

Foi assim que Jonas ouviu da garota o desabafo que havia rumores que Beto não voltaria mais para casa...que decidira ficar na casa dos avós...até que tinha arranjado outra namorada.

_Ele que pensa que eu vou ficar aqui chupando o dedo, fessor...Ele vai ver! Adoro o Beto, sabe, fessor, mas ganhar par de chifre é prova de amor muito acima da minha capacidade.

Os dias viraram semanas e logo já havia se passado um mês que Beto não comparecia às aulas.

Jonas acreditou que, realmente, tudo não passara de uma visita de Carlos para lhe dar notícias e um último carinho. Tentou conformar-se, mas percebeu que a tristeza voltava a invadi-lo como se fossem os dias seguintes à perda de fato.

Enquanto isso, Ema organizava o tradicional festival de talentos que era feito todos os anos pela escola para angariar fundos para a caixa escolar. Os lucros sempre tinham um objetivo e, naquele ano, ela prometia trocar o teto da quadra de esportes da escola, que estava dando problemas.

Emanuele estava tranquila com o sumiço de Beto e mais ainda com a possibilidade dele não retornar a Ubiratipanga do Sul.

A diretora ficara sabendo de alguns alunos, inclusive, que parecia que o professor de português não  simpatizava com Beto, o que a deixou mais tranquila. Acreditou que, talvez, Jonas tivesse falado a verdade e que o motoqueiro não tivesse se identificado realmente. 

Emanuele acreditou que o seu amado ainda não se interessara por outra pessoa e, assim, ela ainda tinha chances de conquistá-lo.

O AMOR SEMPRE DÁ CERTO-Armando Scoth Lee-romance espírita gayOnde histórias criam vida. Descubra agora