Jonas sabia que a notícia da sua doação de sangue para Beto não seria segredo, porém, a recepção que teve na escola realmente o deixou constrangido por dois motivos. Primeiro porque ele não fizera aquilo por gostar do rapaz, pelo contrário, parecia que os anjos da guarda dos dois não combinavam, como costumava dizer a mãe. Segundo porque ele fora forçado pela situação e de longe aquilo poderia ser chamado de uma doação voluntária, ele teve que reconhecer pra si mesmo.
_E aí, fessor...salvando a vida do futuro prefeito, hein?!_foi o primeiro comentário inconveniente que ouviu.
_Gente, a Beatriz disse que o fessor até passou mal durante a doação, mas se manteve firme até o fim para salvar a vida do Beto._foi outro comentário.
"Definitivamente firme é que eu não fiquei até o fim...eu nem queria ter ido e queria sair correndo a todo momento", pensou o professor.
Jonas já estava irritado com os comentários, porque sabia que seria falso se ele falasse "foi um prazer"...porque não tinha sido...ou "não foi um sacrifício tão grande assim"...
Queria dizer a verdade, que fizera por obrigação, por pressão dos alunos, mas, novamente lembrou-se das sábias palavras de sua mãe que dizia pra ele nunca dar munição ao inimigo que, naquela situação, seriam os alunos.
_Tá bom, pessoal. Graças a Deus o Beto vai se recuperar e eu não fiz mais do que a obrigação de todo cidadão apto a fazer a doação._torceu para ter soado sincero.
As palmas foram estrondosas e ele foi ovacionado pela turma que se levantou visivelmente entusiasmada. Ficou imaginando se o receptor de seu sangue fosse outra pessoa, se ainda assim o seu ato teria aquela repercussão toda. Ele sabia a resposta: claro que não! Tentou minimizar:
_Gente, nem sabemos se ele recebeu foi o meu sangue mesmo. Vocês sabem que estas doações só servem para repor o estoque e...
_Não, fessor! A Beatriz disse que só havia o seu sangue disponível. O Beto recebeu foi o seu sangue mesmo!_o aluno estava entusiasmado.
Ele achou que a situação não poderia ficar pior, mas, daí a pouco, Ema em pessoa veio até a sala não para xingar os alunos que incitavam a bagunça nas outras turmas com toda aquela comemoração ao "professor herói", mas para acompanhar um entregador que trazia uma encomenda pra ele.
Jonas torceu para não ser o que ele estava pensando, mas Ema teve a péssima ideia de mandar o rapaz entregar a caixa na frente dos alunos.
_Com os cumprimentos do senhor Elvécio ._disse o rapaz sorrindo em alto e bom tom.
O professor teve que admitir que, se fosse um buquê de rosas vermelhas com um cartão amarelo gema de ovo teria chamado menos a atenção do que uma caixa misteriosa, de madeira ricamente decorada.
_E aí, fessor...ganhando presente...tá de namorado novo?_um aluno alto e magrelo soltou.
Uma risadinha foi ouvida vinda do fundo da sala.
_Ema, o que significa isso?_disse fechando o senho e cochichando com a diretora.
_O que você queria que eu fizesse? Você virou herói nacional!_ela teve a péssima ideia de achar que aquele comentário o faria rir.
_Abre! Abre! Abre!_os alunos começaram a gritar batendo na mesa.
Jonas queria que Ema tivesse repreendido os alunos pela algazarra, mas não, pra piorar, lá estava ela elegantemente vestida num conjunto de saia e blusa marfim, os cabelos soltos pelos ombros, muito bem maquiada, cheia de joias e com um sorriso capaz de iluminar a metade da Região Sudeste!
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O AMOR SEMPRE DÁ CERTO-Armando Scoth Lee-romance espírita gay
RomansaJonas acreditou que Carlos tinha partido, mas quando o amor é tão forte, nem a morte pode nos afastar! Agora, guiado pelo espírito de Carlos, o professor de português terá uma nova chance de se apaixonar e de ser feliz. Porém, uma ameaça ronda Jonas...