Prólogo

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Cepheus
  O fogo invadiu os olhos dos guerreiros como uma explosão de caos e terror. Os homens lutaram contra os invasores daquela madrugada, o chão antes verde e vivo, se tornou vermelho e fúnebre. A cada estação, ocorriam ataques dos bárbaros em busca de uma possível vitória para tomar nosso porto e terra fértil. Nenhuma vez eles foram vitoriosos. Seus ataques eram sempre da mesma forma. Ferozes. Selvagens. Desesperados, caóticos. Não havia nenhum traço de disciplina em suas abordagens. E enquanto mantive nossas defesas ordenadas, eles não tiveram a mínima chance, fora a questão de serem absolutamente previsíveis. Atacavam o ponto onde sabiam que haveria menos guardas durante a noite. Mas nós também sabíamos onde estaríamos mais vulneráveis, e era sempre para lá que nossa atenção era voltada. Porém, até eles passarem pela vegetação densa ao redor da aldeia para encontrar o ponto vulnerável, nossas lâminas já estavam em seus pescoços. Naquela noite, não era esperado aquele número de bárbaros para atacar a aldeia, era quase o dobro do que normalmente costumava ir até lá. Defendemos nosso lar a partir dos limites da floresta, e vencemos os bárbaros antes mesmo que eles conseguissem adentrar mais a linha das árvores, só não conseguindo evitar as flechas em chamas, que causaram alguns incêndios pequenos que rapidamente foram controlados pelos moradores.
  Voltamos para a aldeia banhados em sangue e glória. Os bárbaros jamais conseguiriam vencer os thoranianos em batalha. Meus homens auxiliaram as famílias cujas casas foram incendiadas e ajudaram os feridos, carregando-os para os curandeiros. Nenhuma morte. Caminhei ao redor da aldeia, averiguando as sentinelas quando um deles correu até mim vindo de dentro da floresta escurecida pela noite.
  "Cepheus! Você precisa ver isso!", ofegou o jovem sentinela.
  Acompanhei o rapaz floresta adentro, onde havia mais três deles, olhando atentamente para o chão, algo que meus olhos ainda não conseguiam captar através da escuridão. Aproximei-me e empurrei seus ombros para que abrissem espaço.
  "O que, pelos Céus vocês..." minhas palavras morreram quando consegui ver o que eles encaravam. Um bebê adormecido na grama. Franzi o rosto, olhando com desconfiança. "É dos bárbaros?"
  "Dificilmente, Cepheus. Aqueles animais valorizam suas crianças" respondeu- me um dos homens ali.
  "Ainda mais as saudáveis." Falou outro, com a voz levemente trêmula.
  "Então de quem é essa criança? Alguém reportou sequestro após a invasão?", perguntei com minha voz se elevando devido à irritação.
  "Ninguém, senhor. Os bárbaros não fazem prisioneiros."
  Olhei mais uma vez para a criança, e seus pequenos olhos se abriram, virando- se diretamente na minha direção. Verdes como a grama na qual estava deitado. Conscientes. Como se visse através de mim. E aquele olhar ateou fogo em meu coração e alma.

Beldarrien - A Coroa AmaldiçoadaOnde histórias criam vida. Descubra agora