"Espero que saiba o que está fazendo, Ghurab. Você disse que não poderíamos estragar essa missão. Sair de fininho para se embrenhar na floresta com a princesa me parece uma ótima maneira de ficarmos com merda até o pescoço.", Manva falava baixo comigo dentro da cabana naquela manhã.
Não respondi. Fitei o teto em silêncio, ainda deitado no chão. Havíamos acordado um pouco antes que o resto dos homens para podermos conversar em voz baixa sem parecer suspeito. No começo, Manva achava somente engraçado a aparente aproximação que eu tinha da princesa, soltando piadinhas lascivas e levando um ou dois murros por conta delas. Mas agora, a graça estava começando a passar, depois que lhe contei o que havia acontecido na noite anterior. O que ela me dissera. Não entrei em detalhes, claro. Ele não precisava saber sobre como eu havia cheirado o cabelo de Alioth, e como aquilo pareceu me incendiar.
Eu não pretendia procurá-la naquela noite, pretendia me manter afastado, determinado a odiá-la. Saí da cabana silenciosamente, a fim de ver as estrelas naquela noite. E a encontrei sorrindo enquanto olhava o céu, meus pés se moveram sozinhos na direção dela antes que eu tivesse algum controle sobre meu corpo. Mesmo com os grilhões, eu ainda conseguia ser absolutamente silencioso. Havia sido treinado para aquele tipo de situação. E quando aqueles olhos se voltaram para minha direção, ainda brilhantes por olhar as estrelas, eu me perdi completamente dentro deles.
Senti algo se apertando em meu peito, tão forte que não contive o impulso de esfregá-lo com a mão. Alioth era como eu, descobri naquela noite. Uma thoraniana, mas... Algo mais.
"Ghurab, pare de sonhar acordado com a general e me responda, maldito."
Virei a cabeça devagar em sua direção e bufei baixo, me sentando em seguida. Passei a mão sobre os cabelos para afasta-los do rosto.
"O que você quer?""Quero você tire a sua mente de dentro das roupas íntimas de Alioth e pense sobre o que planejamos para esse lugar."
"Eu não me esqueci do nosso plano. Nem no nosso povo."
"Não é o que demonstra."
"Eu disse que precisávamos nos manter nas graças da princesa, é o que estou fazendo."Ele ergueu uma sobrancelha e exibiu um leve sorrisinho. "Parece que está gostando muito da tarefa. Talvez eu também devesse..."
Um grunhido escapou por meus lábios, o que fez o sorriso de Manva se ampliar.
"Não seja egoísta, Ghurab. Deve sempre dividir com seus irmãos."
"Se quiser montar na princesa como um maldito animal, vá em frente. Eu não me importo. Só estou seguindo o plano."
"Bom ouvir isso, porque, sinceramente, depois que a resgatou no lago, ao vê-la com aquela roupa, as pernas expostas, a camisa molhada tão colada naquele corpo magnífico, eu..."Saí da cabana logo após deixar um Manva de olho roxo lá dentro, indo na direção da fogueira ainda acesa, com o café da manhã sendo preparado pelo sentinela que estava ali de vigia. Me sentei do outro lado do tronco e fitei as chamas.
"Bárbaros acordam cedo, não?", comentou o homem."Muitas pessoas acordam cedo, não é um privilégio exclusivo de ninguém."
Ao perceber meu humor, ele sabiamente não tentou puxar mais assunto. Não se passou muito tempo quando as abas da tenda de Alioth se abriram e ela saiu de lá com o rosto corado. Os cabelos negros estavam desgrenhados, ela carregava uma muda de roupa e seguiu na direção do lago. Olhei para o guarda sentado do outro lado do tronco.
"Seria bom manter alguém por perto quando ela entra na floresta."
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Beldarrien - A Coroa Amaldiçoada
FantasíaHá mil anos uma maldição foi lançada no continente de Beldarrien, onde haveria aquele que traria o caos e reinaria juntamente da feiticeira para libertar uma criatura tão antiga quanto a Terra. Porém a maldição trouxe também, em forma de equilíbrio...