Convite ao sonho - O chamado do novo

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Lúcio

Lúcio abriu os olhos como se acordasse de um sono muito longo, e viu o infinito azul-marinho coberto de estrelas. Estava tão claro que, não fosse o frio da noite, a fogueira improvisada, que ardia ao lado, teria sido dispensável. Devia ter dormido por muitas horas, estava com frio nos joelhos e pés e acordou numa posição desconfortável. Ainda assim sentia-se estranhamente descansado. Estava confuso demais para pensar em onde estaria.

- Hum! Até que enfim acordou, você é baixinho mas até que é bem pesado. Deu um trabalho do caramba te trazer até aqui, espero que tenha sido uma boa decisão.

A figura sentada a sua frente tinha olhos pretos astutos e maliciosos, e cabelos soltos extremamente lisos, compridos, bem escuros mas com reflexos acobreados (excesso de Sol?), um tanto bem cuidados para um viajante, o que lhe causava uma certa estranheza. Não tinha barba e nem parecia que um dia tivera. O que mais o desconcertava era seu sorriso, irônico e largo, que o fez querer soca-lo. Tinha uma boca maliciosa de dentes brancos meio desiguais nos caninos, um pouco protuberantes. Tinha a pele escurecido-avermelhada pelo Sol e parecia uns bons 8 centímetros mais alto que ele, mas talvez fosse porque usava botas de couro; estava com uma camisa de tecido vagabundo bege, com cordões no peito, apesar de folgada pareceu ter um peito e braços fortes, já que o arrastara até ali... (ou teria utilizado alguma magia para isso também?).

Pareceu a Lúcio que era mais velho que ele uns cinco anos, devia ter uns 25 anos. Se saíssem no braço será que estaria em alguma desvantagem? - refletiu. Questionava ainda se o mesmo possuía alguma habilidade mais combativa quando o outro pareceu adivinhar no que pensava:

- Calma ai. Não sou seu inimigo, se é o que pensa, e se quisesse matá-lo teria feito enquanto dormia, certo? - O disse sem alteração alguma na voz.

A segurança com que aquilo foi dito o pôs em ira e o fez erguer-se instantaneamente. Sabia que aquilo era verdade. Sempre odiara ser subestimado ou alvo de piedade, e naquele instante sentia um misto dos dois.

O outro ficou em pé e em prontidão também, atrás da fogueira, quando o viu fazer aquilo. Irei gostar disso.

- Bom... Talvez tenha perdido sua única oportunidade, eu poderia ouvir suas últimas palavras, mas ocorre que eu não me importo! - terminou, com um pé a frente do outro, as mãos idem, se preparando pra conjurar uma esfera de fogo, caso ele corresse, ou sair na voadora se viesse pra cima.

- Ora, mas pra que palavras quando se tem isto? - Arremessou-lhe o saco, que pegou, incerto. O barulho deixou claro que estava cheio de moedas. Reparou na mania que o outro tinha de estreitar mais ainda os olhos (que já eram estreitos), enquanto falava. Irritante.

- Muito bem, agora que já tenho o seu dinheiro, vou ser grato e te dar uma morte bem rápida, talvez você nem se dê conta quando sua cabeça tiver explodido do pescoço.

Era uma ameaça decorada, que Lúcio usava bastante, mas ainda gostava dela. Começou a lentamente andar em volta da fogueira, ao que o outro começou a fazer o mesmo , mantendo a distância. A distância entre eles era de alguns metros. Ele certamente era um Cancioneiro, alguém que tira magia da música. Reparou que tinha na mão esquerda uma flauta pequena, depois reparou que havia mais uma, presa em seu cinto. Muito precavido.

- Então você é desses, não me admira ter o tipo de poder que tem, é bem impressionante... - disse o outro com admiração que Lúcio achou bajulatória, erguendo a mão, em sinal de diplomacia - E se eu te dissesse que isso que te mostrei é uma parte muito ínfima do que pode te esperar... Se você me ajudar a chegar onde desejo...? Ei, e não faça essa cara de quem não precisa, se não precisasse não estaria roubando um forte semi-abandonado!

Cicatrizes da Magia - Memórias de OutremOnde histórias criam vida. Descubra agora