Cicatrizes da Magia - Memórias de Outrem

Encontrar das resistências - Um novo alvorecer

Miríade

" Ao terceiro dia do ano um deste recém formado Império de Cerne, antes Reino de Cerne, em frente a sede do Palácio Carmesin, antes Castelo da Geada, sob a benção da Fé e dos deuses do Sol e da Lua, e em presença dos quatro Sábios membros da comissão de apoio ao novo Imperador, Vossa Majestade Imperial Úbira Falcão, o Firmamento, fica decretado que todo conjurador ou pessoa com os chamados dons mágicos, independentemente de idade, devem se apresentar ou serem apresentados ao Império para jurarem lealdade e receberem a devida educação e aplicação de seus dons mágicos a serviço de Cerne, por meio da figura de seu Imperador, sendo qualquer um detentor de tais dons que não se apresente, considerado a partir de então um Ego, a ser julgado e condenado de acordo com as aplicações cabíveis, a saber (...) "

- ...Infelizmente pouco mudou em relação ao Centro e ao Sul. O que eles mais temem é a disseminação desse conhecimento. A única esperança para eles seria a Insurreição - finalizou o humano Hiroto, espião infiltrado da organização anti-imperial denominada Insurreição, trazendo os pensamentos de Miríade de volta à mesa. Possuía um cabelo muito liso, escuro e brilhoso. Olhou novamente a mecha de cabelo rebelde e espetada que tinha, mais uma vez estranhando a ausência de chifres dos humanos, mesmo após tantas semanas ali.

Havia se distraído, lendo novante a cópia do documento oficial daquele Império chamado Cerne. Não possuía a mesma capacidade de leitura da língua humana que Donovan, sentado agora ao seu lado, uma vez que ele tivera acesso a tal conhecimento quando ainda era um espião na corte do Rei-Juíz Lúmerus, enquanto ela só havia se dedicado a tais estudos pouco antes de decidirem ir atrás deles.

No entanto, surpreendentemente, a língua humana não lhe era tão difícil de aprender. Muitas palavras pareciam ter certas raízes comuns com sua própria língua, como se num passado muito distante todos falassem o mesmo idioma, ou ainda, como se fossem línguas irmãs.

Ao que havia entendido, há quatro gerações o humano Ázura Falcão, herdeiro de uma das famílias mais influentes daquele país, e que mais tarde seria elevado ao posto de Imperador do então Reino de Cerne, havia traído o último rei, comandando uma rebelião que prometia acabar com toda a pobreza e miséria que assolava aquele país continental.

O bode expiatório foram os conjuradores da plebe, que segundo uma religião baseada no Sol e na Lua que cresceria bastante nas periferias de suas Terras Centrais, deveriam utilizar seus dons para promover o bem comum, mas por não o fazerem, praticamente seriam os grandes responsáveis pelas mazelas daquele mundo. Teria tido início então, a pratica de identificar pessoas com dons mágicos, colocar um selo mágico rastreável nelas, e leva-las à escolas de magia onde aprenderiam não só a desenvolver seus dons, como a filosofia moral e religiosa do Império.

O documento que lia ali já era assinado pelo segundo imperador, Úbira, formalizando a prática, estendendo-a até os confins mais distantes dos territórios que foram sendo anexados durante a rebelião. Curiosamente, décadas mais tarde, isso custaria ao Imperador a perda do território onde se encontrava agora, às chamadas Terras Quentes.

Encontrava-se em uma enorme sala na costa da região de Mocambos, uma região autônoma, pesqueira e extrativista, onde aportaram, e que décadas atrás não só resistira às investidas do Império Central à captura de suas proles com talento mágico, como fora gradualmente expandindo seus ideias rebeldes de independência do imperador até a quase totalidade das Terras Quentes, tendo suas diversas regiões se unindo e conquistado a separação do Império Cernal.

Quando o terceiro imperador, Arquimedes Falcão, assumiu seu trono, já bastante idoso, dezenove anos atrás, aquelas terras já não se viam pertencentes ao restante de Cerne, uma barreira mágica apoiada por ambos os lados hoje em dia se encontrando erguida em separação às duas partes. Esse imperador já teria sido o morto após se aproximar das terras dominadas por Lúmerus, que estava no Sul. Ouvira que o mesmo atualmente se encontrava a Oeste do centro do Império e do quarto imperador, o tal Ghali.