Melodias passadas - Aquilo que ainda ecoa

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Lúcio

A irmã e a outra garota de trejeitos masculinos, que descobriu, chamava-se Eva, haviam deixado o pátio para deixa-lo refletir. A baixinha havia mesmo soltado um "não vale o tempo" dirigido aos outros, ignorando Lúcio, ao sair caminhando livremente ao lado de sua comandante, com uma desenvoltura que tornava difícil a qualquer um perceber, a primeira vista, que ela era cega .

No entanto os outros ainda ficaram e interrogavam o piromante. Contudo era já um alívio a saída ao menos dessa "irmã" de quem pouco se lembrava. O que deveria ter dito? O que se dizia nessas horas?!

Para seu alívio, a conversa havia tomado um rumo paralelo e o único rapaz do grupo delas, que se apresentara Hiroto, encarava Lúcio com cara de quem desejava muito espancá-lo, enquanto Violante começou a questioná-lo se ia aproveitar a "grande chance" que acabaram de lhe oferecer, ou voltar a ser um rato de cela:

- Veja. Como você chegou a completar mais da metade dos seus estudos de magia, não precisaria voltar a R.E.M. Seria capaz de seguir conosco. Aceite a proposta da Verônica por hora. Veja como se sente. Quando quiser desistir, pode voltar ao seu buraco de cela. Mas meia liberdade pooode ser melhor que liberdade alguma - disse ela com mal disfarçada indução.

Violante certamente era a diplomata daquele grupo.

Haviam lhe proposto perder a condição de ego e ter seus crimes prescritos, contanto que permanecesse um leal, estando subordinado a qualquer ordem da Capitã Verônica, sua irmã, não por coincidência em um grupo formado apenas por conjuradores, sendo que só saberia mais sobre as missões e objetivos dos quais participaria conforme se demonstrasse digno de confiança. Uma baita oportunidade...

- E quem me garante que não vou preferir o buraco? Vocês estão me propondo uma queda no escuro. Talvez o buraco seja melhor ...

Viu quando Violante encarou Hiroto, como quem tem dúvidas, depois pondo a mão na testa , como que procurando palavras, ou mesmo paciência. Talvez o que pudesse dizer.

- Seu antigo companheiro...

Lúcio sentiu-se recebendo uma revelação. Hiroto pois a mão nas costas dela, um gesto de apoio, então continuou por ela.

_... nos foi dito que causou muita confusão com o artefato roubado por vocês, o qual nunca foi reavido, por sinal. E ele pareceu ter habilidades bastante interessantes quando te capturaram, sabia que ninguém mais havia conseguido usar aquilo?! Não me admira que só tu foi capturado - Hiroto completou o que Violante ia dizer, e então adicionou um tom mais irônico: - Devia ter mais cuidado ao andar com os teus ... Os mais espertos que ti podem te manipular - completou no pior tom que conseguiu, aquele jeito duro ao falar de quem vivera no extremo das Terras Frias.

Aquela fala de Hiroto trouxe algo à tona. Apesar de ficar mais inflamado com a provocação daquele balofo (que na verdade era mais troncudo que propriamente gordo), Lúcio sentiu um pensamento se formar. Algo ali pareceu verdade.

O ladrão já havia desistido de pensar em Donato. Esperava nunca mais ver o desgraçado, embora as vezes fantasia-se encontra-lo e espanca-lo, chuta-lo, até tortura-lo...! Mas como estava preso, seria impossível realizar tal vingança.

Também entendia o interesse dos novos conhecidos não só no artefato, mas também nele. Era muito habilidoso, não negava. Literalmente um manipulador...

Por algum motivo Lúcio começou a se lembrar de uma cena acontecida na cidade de Garoa...

Estavam ele e o bardo numa cidade chamada Garoa, ponto de pousada de romeiros que se dirigiam a Catedral Lunar da Fé, uma cidade montanhosa e pequena, construída na única parte não íngreme daquelas montanhas.

Cicatrizes da Magia - Memórias de OutremOnde histórias criam vida. Descubra agora