Judhak
Na planície aberta, Judhak observava a chegada dos humanos. Eram em número maior que sua pequena comitiva, localizada atrás de si, mas aquilo não o impressionou. Estavam em uma parte um pouco mais alta do pasto aberto e livre de árvores. O tempo ameaçara chover, mas mudara de ideia e agora havia um fraco sol.
Quando Rúben o alertou para a chegada de um exército de humanos ao leste, resolveu se antecipar e encontra-los na parte limpa acima da planície, favorável a eles. Judhak desmontava seu lagarto de raio, ladeado por mais doze ínamos de confiança montados, dois metros à frente dos demais, demônios da colônia que chegaram a pouco, a pé.
Já um terço do humanos que os atacariam estavam em cavalos, montarias interessantes de sangue quente, embora frágeis como seus cavaleiros. Ao longe podia-se ver que dividiam-se em 6 retângulos, três na frente e três atrás.
O exército havia parado quando os viu, e um homem de armadura de metal, algo raro entre os humanos que vira até ali, passava a frente de todos e gritava ordens indecifráveis de seu cavalo.
- O que acha Malfos? - perguntou Judhak ao líder de sua guarda á esquerda, seu melhor observador. Nada escapava a seus olhos desiguais.
- Rúben me mandou uma imagem de cima, projeção de sua asas. Percebi dois conjuradores em evidência apenas, um em cada ponta, em cavalos. São os únicos que não usam um arco, nem lança, ou uma arma do tipo machado, o que parece serem as armas da maioria, mas parecem carregar itens estranhos. Estavam mais ou menos um aqui e um ali, acho que são eles, vê? - apontou a direção.
- Sequer tentaram esconde-los e os deixaram nas fileiras da frente, suspeito...- Judhak concordou - Provavelmente foi para desviar nossa atenção de outros mais poderosos, que devem estar melhor escondidos em meio aos homens comuns. O comandante da tropa certamente não é um conjurador.
- E muitos usam arcos e lanças de arremesso, nossa posição em um nível mais acima é bastante favorável - acrescentou Demétrius que estava com eles, a direita, como sempre tentando não ser deixado para trás nas analises.
- Esse foi o motivo da escolha de terreno do Príncipe, Demétrius. Todos os arqueiros e lanceiros estão nas fileiras da frente, sobre os cavalos, o que é bem inusitado para nós. Pelo formato dos arreios, ao invés de celas, tornando possível se segurar só pelas pernas, deve ser comum a eles a arte de atirarem montados... Usam roupas leves de couro, e quase sem metal, acredito que foquem mais em velocidade. De qualquer forma, provavelmente subestimam nosso número reduzido e pretendem vir para cima com tudo, atacando de longe primeiramente, depois a média distância com as lanças e machados, finalizando de perto ao final.
- Exato - concordou Judhak. Não esperava menos da capacidade analítica do ínamo, Malfos reparou em tudo em apenas segundos. Haviam pelo menos cinco humanos para cada ínamo ali, mas Judhak permanecia tranquilo. Observou o céu, que estava especialmente azul naquele dia.
Um estrondo foi ouvido, o líder humano ao longe apontou sua lança.
-Me permite meu honrado príncipe? - perguntou Malfos pegando o cabo de seu sabre curvo, seu fetiche material, em reverência, ao ver que todos os humanos das fileiras da frente disparavam em corrida. O cabo de seu sabre era muito bonito, com o fio dourado a frente do punho fazendo o formato de uma serpente em "S", o olho sendo um rubi vermelho.
- Faça as honras- disse, observando o exercito se aproximando ainda ao longe.
O sabre de Malfos brilhou, magicamente dourado, quando o desembainhou. O ínamo fez um corte amplo no ar, da esquerda para a direita, finalizando com o braço totalmente esticado, cortando o nada em sua frente em um movimento gracioso, quase afetado. Um desenho de luz acompanhou o corte.
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Cicatrizes da Magia - Memórias de Outrem
FantasyE se a queda do mundo houvesse criado uma era medieval mágica, onde existe um império repleto de elementos brasileiros? E se nesse mundo o dom da magia se revelasse muito mais como uma árdua provação do que uma benção? No Império de Cerne, pessoas p...