Cicatrizes da Magia - Memórias de Outrem

Equivalências - A troca

Donato

As ruas da grande feira onde se encontrava fervilhavam de gente ruidosa, feirantes gritando, pedintes, pessoas comprando e crianças correndo. Era feita de inúmeras barracas de tecido grosseiro, variando de 2 até 5 metros quadrados, em diferentes tons pastéis. Estavam cheias de terra arenosa das redondezas.

As barracas se grudavam umas nas outras criando uma espécie de labirinto, cada espaço sendo muito disputado, e sendo difícil "cortar" do meio de um corredor para outro. Donato usava um enorme capuz de tom terroso que cobria o corpo todo, escondendo seus pertences de conjurador.

Estava muito distante da capital das Terras Centrais, uma cidade chamada Alvorada, já quase na grande barreira das atuais Terras Quentes com o restante do pais de Cerne, pertencente ao imperador Ghali, a região onde estava sendo uma que acabou ficando entre as terras do Império durante a separação.

A maioria das pessoas ali provavelmente não saberiam distinguir os Leais de um Ego, tão esquecida pelo Império a região era, mas o cancioneiro sempre evitava chamar a atenção. Por sorte, as pessoas da região usavam peças de roupas largas, embora leves, em virtude do sol ardido.

Ainda sentia-se solitário viajando sozinho, logo ele que fizera isso a maior parte da vida! Era dero admitir, mas sentia bastante falta do ex-companheiro de viagens, Lúcio, era difícil não lembrar dele sempre que chegava em locais diferentes como aquele. Ele provavelmente falaria um monte de besteiras, tomaria alguns foras das garotas bonitas (embora às vezes achasse alguma louca que aceitava os flertes) e faria troça do jeito de vestir dos habitantes locais, com aquela risada barulhenta e divertida.

Talvez não fossem tão loucas assim, pensou involuntariamente. Lúcio era o típico rapaz baixo e troncudo, era imaturo mas habilidoso, se deixava levar fácil pelas paixões e tinha um queixo bonito, emoldurando o rosto entre o negro e o claro, que combinava com seu gênio impetuoso.

Com a convivência reparou que ele havia aprendido a rir mais também, nas últimas viagens estava bastante empolgado com o quão próximo estavam do que ele procurava. Um sorriso tão grande, dentes tão bonitos! Será que me odeia pelo que aconteceu?

A verdade é que era provável: ouviu falar que estava preso perto da região central do império, queria ter obtido mais informações. Ele sabia dos riscos - começou a dizer a si mesmo - Ele teria feito a mesma coisa, ele nunca deu qualquer sinal de que eu fosse particularmente especial para ele...

Pareciam anos desde que havia decidido leva-lo consigo na última hora, naquela invasão ao Forte Secular, meses atrás, onde o viu pela primeira vez.

O estava seguindo de longe desde o início, havia achado seus poderes úteis, mas foi quando passou por ele caído no chão por efeito de sua flauta... os cachos negros por cima da tez morena...Estava tendo algum sonho muito bom (o que geralmente acontecia quando usava Torpor) pois abriu um sorriso dormindo bem na hora em que estava passando por ele, aquela forma de sorrir, aberta, que lembrava tanto...

Eu preciso me concentrar no meu objetivo - lembrou a si , interrompendo a lembrança. Lúcio era um conjurador talentoso, não iriam se desfazer dele facilmente, não nos tempos atuais, em que se falavam em terríveis demônios ao extremo-Sul.

Decidiu forcar-se. Desviou de uma vendedora bonita, sentada em um balde, que tentou puxa-lo pela manga e lhe disse que daria duas moedas por seu cabelo comprido, e parou na última barraca daquela fileira, uma tenda bem encardida, que vendia artefatos de tabacaria.

- Pois não? - disse o atendente robusto, de pele clara avermelhada pelo Sol. Estava sozinho na tenda, atrás de uma grande mesa de madeira com diversos cinzeiros, objetos ornamentados, fumo, especiarias, cigarros de ervas, entre outras coisas.