Verônica
- Tem certeza de que quer ir? Quem vai cobrir as costas de sua capitã da próxima vez que ela se exceder?
- A capitã fala como se fosse de se meter em brigas que acha que vai perder - respondeu Violante, aproximando a voz.
Jafári e seus companheiros a aguardavam montados ao longe, mas pareceu não ouvi-las. Não pode ler ao certo a expressão da magíster, com seu chapéu de couro por cima das tranças, e o tapa-olho repleto de pequenas medalhas de entidades cultuadas ao norte, emitindo um reflexo incomodo.
- Que tola eu seria se o fizesse - disse sem concordar nem discordar.
O cheiro de terra molhada cercava a casa, mas o tempo cedera em um clima bom para a despedida, após cinco dias chuvosos em que a casa e o acampamento externo montado pareceram pequenos para tanta gente. No entanto algumas rajadas de vento ocasionais deixavam incerto se o clima se firmaria.
- Acredita que vai conseguir reencontrá-los? - Donovan, o demônio, referia-se a enorme família de Violante que ficara nas Terras Quentes. Apesar das reservas de todas as partes, a chuva e o tédio fizera todos conversarem muito nos últimos dias.
- Acredito que ao menos algum deles, sim. Eram tantos, uma renca, como dizíamos! - sorriu, aquele sorriso muito alvo e cativante que tinha - Só espero que ainda lembrem de mim.
- Eles se lembrarão. Se foi importante ficou marcado, é pra sempre, não importa quanto tempo tenha passado - respondeu Donovan com seu sotaque carregado e o jeito gentil de sempre. Vê-lo fazia-a ter uma impressão de estranha humanidade. Seriam os outros, do tal rei, tão ruins assim?
Donato, Eva e Hiroto já haviam se despedido de manhã, iniciando o processo diário de identificação de terreno e rastreio dos demais demônios. Quando voltassem, os demais já teriam partido.
O próprio Donovan quisera ir com eles, parecendo a Verônica ansioso demais em encontrar os demais companheiros de espécie, mas insistira que permanecesse com ela mais tempo.
Verônica sempre julgara-se muito boa em avaliar as pessoas. Acreditara que Lúcio e Donato colaborariam, mesmo com as enormes barreiras e hostilidades que erguiam, sentia que era para se protegerem, enxergara algo bom neles e acreditava agora ainda nisso. Também gostara do ínamo (sempre tinha de forçar-se a lembrar de chamá-lo assim, como sua espécie chamava a si), mas tinha de ser muito cuidadosa. Embora algo a fizesse sentir que já estava na hora de colocá-lo em campo e utilizar seus conhecimentos.
- Se acalmem também, Violante lhes retornará. Vai apenas praticar com sua mestre pra ser capaz de nos ajudar. E rever os seus, finalmente! - Damiana, a mulher das Terras Quentes que parecia muito próxima a Hiroto, iria com Violante, Jafári e os outros.
Parecia muito confiante de que seriam capazes de encontrar os familiares da anuladora quando atravessassem de volta a fronteira.
Informariam a rainha de Donovan sobre sua chegada e colaboração na causa comum, ao que Violante tentaria aprender a auxiliar Jafári na travessia através da Grande Barreira das Terras Quentes, para que soubessem se seria possível ou não transportas mais pessoas (ou mesmo um exército) através desta.
Era impossível a Verônica imaginar tal absoluta barreira anti-magia sendo burlada, mas se havia alguém capaz de quebrar regras da magia, tinha de admitir que seria a Magíster Jafári da Travessia, como ficara conhecida na Insurreição. Ainda assim, sozinha, a magister parecia ter encontrado limitações.
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Cicatrizes da Magia - Memórias de Outrem
خيال (فانتازيا)E se a queda do mundo houvesse criado uma era medieval mágica, onde existe um império repleto de elementos brasileiros? E se nesse mundo o dom da magia se revelasse muito mais como uma árdua provação do que uma benção? No Império de Cerne, pessoas p...