IV

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- Ela não é um esquecido! - Agna olha para as sombras e Leo caminha cautelosamente em minha direção. Agna se afasta um pouco - Isso explica a falta de conhecimento sobre os animais e a fraqueza dela. - Leo se abaixa perto da mulher e me encara curioso. "Esquecidos?" Me forço a falar.

- Eu... Eu não tenho intenção de machucar ninguém, só estávamos em busca de alimento, a comida está acabando e temos duas crianças pequenas lá. - Me assusto quando Leo fala. Sua voz é extremamente grave.

- Lá aonde? - pisco algumas vezes e olho para Agna. "Será que vão nos matar??" Ela volta a se aproximar e me encolho.

- Fique tranquila, só estamos surpresos. - ela sorri tristemente. - não é comum ver humanos que não sofreram com as modificações, a última pessoa do nosso grupo morreu a alguns anos. - olho preocupada para ela. "Isso é possível?". Estou incrédula. Viver fora dos abrigos era impossível a alguns anos. Ela se levanta e vai até o fogo pegando um espeto com algo. - Isso é um coelho assado. - ela estende - Você precisa comer.- pego o espeto e me surpreendo, pois é a primeira vez que vejo comida assim, sempre comemos enlatados e não perecíveis.

Levo até a boca e me surpreendo com o sabor. É diferente, um pouco estranho, mas muito saboroso. Olho para a sombra e o grandão sai de lá andando tão silenciosamente que me espanto com a habilidade. Cada passo e a perna que segue tensiona, a pele brilha na luz da fogueira e ele é impressionantemente incrível.

Ele agarra um espeto e me encara antes de voltar para as sombras. Olho para Agna e Leo e eles estão sentados um ao lado do outro e as crianças sentadas em frente. Eles comem e dividem o coelho com eles. Limpo a garganta. Agna vira o rosto em minha direção.

- Qual a idade deles? - pergunto.

- Não contamos idade. Vivemos apenas. - assinto e olho para os pequenos. Uma menina maior, daria uns seis anos para ela e um garotinho que não daria mais que quatro anos.

Observo os cabelos de todos e impressiono. Agna tem duas tranças, uma de cada lado que caem e repousam em seu colo de tão compridas. Leo e as crianças estão com os cabelos soltos. Leo tem cabelos mais claros que Agna, mas diria que ainda é um castanho. Olho para as sombras, mas não vejo muito. Volto a comer o coelho.

Não consigo comer ele inteiro e me fico cheia logo. Limpo a garganta.

- Eu não dou conta de comer mais. - Agna olha para trás e estende a mão. Olho para ela e estendo o espeto. Ela pega e oferece a Leo, depois continua comendo. Junto meus joelhos e passo os braços em torno ficando encolhida. Mesmo com a fogueira sinto frio. Por já ser noite receio que a temperatura caia. Minhas calças moletom estão geladas e não tenho como me aquecer. Olho para eles enquanto terminam de alimentar as crianças. Suspiro. "Onde vocês estão?" Sinto uma dor profunda, mas não só física. Emocional. Foco o olhar na fogueira.

- Aisha... - não sei quanto tempo fico fora, mas pisco algumas vezes - Aisha... - olho para Agna - Vamos tomar nosso banho? - assinto e me forço a levantar, solto um gemido enquanto tento. Depois de segundos estou de pé. Suspiro.

Sigo Agna e sinto algumas tonturas. Me apoio na parede e baixo o olhar para o chão, sinto que vou cair. Tudo se escurece e volta a clarear.

- Aisha? - Agna chama e olho para alguns passos a minha frente. Ela olha para as sombras. - Será que você pode ajudar ela? - o grandão sai das sombras e me encara. Respiro procurando ar e condições para andar.

- Eu... Eu posso fazer isso sozinha. - digo enquanto ele segue com o olhar de cima a baixo sobre mim. Me sinto um pouco desconfortável e volto a caminhar. A tontura ameaça voltar e acompanho Agna. Assim que passamos pelo grandão e piso na escadaria tudo fica turvo e minhas pernas fraquejam.

Madroc - Série Esquecidos - Onde histórias criam vida. Descubra agora