XXIV

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Ouvir Madroc deixou ela meio depressiva. Ele tinha visto a mãe morrer na sua frente. Ele realmente não se surpreenderia com mais nada na visão dela. Quem se surpreenderia? Viver nessa era já era uma grande surpresa. Ela só podia imaginar como era cinquenta anos atrás.

- Quantos anos você tinha? - ela não queria se estender no assunto, mas queria saber quando ele tinha perdido a mãe. Ela estava se doendo e tão triste. Ele tinha ficado sozinho e não teve carinho por muito tempo. Era triste demais pensar nisso. Em que momento a humanidade desandou? Se perguntava qual era o erro que eles cometeram que permitiu tal destruição. Era algo tão surreal que ela queria acordar e ter certeza de que aquilo era um sonho ruim e na verdade ela vivia no mundo de meio século antes... Onde tudo era diferente. Ela não sabia como era andar em um carro. Não sabia como era pilotar uma moto. Não conhecia a mágica dos celulares. Não tinha ideia de como era viver antes e só podia viver das histórias de seu pai. Tudo que ela ouvia parecia tão improvável que ela apenas acreditava que fosse uma lenda. Assim como os pássaros, os peixes que ela tinha descoberto recentemente. Madroc era uma lenda para ela. Nunca chegou a imaginar que realmente existissem humanos que poderiam sobreviver a queda mundial da humanidade. Eles não eram apenas sobreviventes fortes. Eles eram escolhidos. Ela tinha certeza que o sangue que corria nas veias dele não corriam nas suas por que era insano o modo que eles agiam e eram. Claro, ela tinha visto mudanças nos animais, porém cinquenta anos fez o ser humano alcançar um estágio de evolução que ela desconhecia. Seria loucura dizer a alguém do século passado que eles sofreriam aquilo e que os sobreviventes agora se nomeariam esquecidos. Eles viviam o inferno em terra e ela se perguntava o porquê de ser eles. Todos os outros estavam mortos e a violência que eram expostos ali à Deus dará era imensa. Queria apenas roubar de Madroc toda a dor que ele estava sentindo, mas sabia que era impossível uma vez que ele não sabia nem mesmo o que era dor direito. Dor para ele era física. E quando a dor psicológica transcedia o pensamento e apertava seu peito sabia que estava sofrendo, mas era dor física. Simplesmente era simples... Não complicaria as coisas procurando motivos ou explicações científicas. Para ele não era necessário. Ele era força. E força bastava naquela mata fechada. Ela o admirava. Ela realmente o admirava. O quão forte uma pessoa pode ser? Ela sabia... Agna era forte. Leo era forte... Lisandra era forte... Todos ali eram fortes de dentro para fora. Eles pareciam amar viver e ela realmente entendia o que era se apegar a vida... Ela estava passando a amar a vida justamente por que podia perdê-la. Bastava um passo em falso dentro daquela floresta sombria, mas agora ela tinha uma certeza convicta.

Ele era um cara que não estava pronto para perder e a defendería com unhas e dentes. Isso bastava para ela se apegar a vida.

- Quinze... - Madroc olhava para a fogueira e cuidava dos peixes. Já había assado alguns. A conversa tinha se alongado e eles estavam realmente entretidos ali.

Ela tentou mudar de assunto e conseguiu, ele não ofereceu resistência para sair daquele assunto. Queria falar sobre o que houve até ali, mas era muito pesado para ele. Sentiu-se aliviado com a mudança de assunto. Ele podia parar de apertar o espeto com tanta força e podia relaxar depois que mudaram de assunto. Ela podia não notar, mas aquilo lhe causava uma dor tremenda que ele sabia que ia além da capacidade física dele de se proteger da dor. Era uma dor descompensatoria que não podia se comparar a nenhum dos ferimentos que ele já tinha adquirido. A garota, Vivi, havia acordado momentos depois e se sentiu agradecido por ela não ter ouvido nada. Ele não gostaria de contar sua vida para outra pessoa além de Aisha. Já era demais estar contando para ela. Teria que apagar Vivi se ela pudesse ouvir.

Agna e Leo retornaram pouco depois e todos já estavam comendo. As tranças em Aisha tinham realmente ficado boas, ela podia dizer que era uma esquecida se não sorrisse e mostrasse a arcada de dentes retos. Foi exatamente naquele jantar com a maioria dos esquecidos reunidos ao redor da fogueira que Agna tinha acendido mais cedo que conexões foram estabelecidas. O ambiente parecia menos tenso e claro, Leandro se mostrava arrependido dos acontecimentos. Sabia que tinha reenvidicado uma pessoa que nunca seria dele. Soube disse quando Madroc fez questão de empurrar a gola do moletom de Aisha enquanto ele encarava ela. Não que quisesse brigar por Aisha uma vez mais, porém ainda a achava o ser mais lindo do mundo e não podia deixar de olhá-la. Até Madroc fazer aquilo e encarar ele enquanto passava a língua sobre os dentes afiados. Ele realmente não tinha chance alguma lutando com aquele cara. Ele nem sabia estabelecer até onde ia a humanidade daquele cara enorme. Era irracional como era assustador. O ombro de Aisha estava roxo, mas não era una pancada. Ele preferia que fosse para ela simplesmente parar de ver ele como um bom homem, mas quer saber... Leandro também admitia para si que perdia para ele em outros quesitos. Certamente ele era um bom homem e cuidaria de Aisha melhor que ele. Estava em paz.

Madroc - Série Esquecidos - Onde histórias criam vida. Descubra agora