XIV

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Aisha se viu estrema mente irritada e perturbada. "Quem eles pensam que são?" ela se livrou do toque de Madroc a tempo de caminhar furiosa em direção ao edifício, mas antes que pudesse sair da floresta seus passos diminuíram com a realidade batendo forte. Ela estava indo em direção ao edifício para gritar com Leandro que já era graninha para fazer o que quisesse, mas se esquecia o motivo. "Todos ouviram?" seus olhos marejaram e ela quis desaparecer. Todos teriam ouvido ela e seria vergonhoso tentar se defender na frente de tantas pessoas, além disso tinha Lisandra e seu ódio por ela. Certamente ela seria uma má pessoa assim que colocasse os olhos sobre ela. Ela parou de caminhar finalmente e sem que pudesse notar uma lagrima correu pelo seu rosto. Estava imersa em pensamentos e na sua cabeça isso tudo era tão novo e tão de outro mundo. Ela não queria ser taxada como uma prostituta ou algo parecido. Seria cruel demais com ela. Talvez ela não estivesse preparada para conhecer alguém que realmente a atraísse e quando chegou o momento ela agiu como se nada ao redor importasse ou existisse, mas existia afinal. E estava ali olhando para ela. Essa realidade dura estava ali a condenando. Um soluço saiu de sua garganta e Aisha se abaixou triste sem saber como proceder. "Será que eu deveria dizer como me sinto? Por que estou me escondendo?"

Madroc olhava para ela com certa incompreensão. Primeiro, que se eles tinham dito isso sobre ela mesmo sabendo o temperamento forte dela era sinal que não conheciam verdadeiramente Aisha. Para ele ela era corajosa até demais e isso era realmente interesante vindo de uma mulher que não fazia parte dos esquecidos. Sua mãe contava histórias para ele de que as mulheres ganharam voz aos poucos, mas que repercutiu bastante no mundo pós-apocalíptico que se encontravam. Dizia também que ainda existiam pessoas que eram extremamente frágeis e mulheres que acreditavam que só conseguiriam algo com a ajuda de um homem, bem... Para ele a mãe dele nunca precisou de um homem. Talvez ela dependesse de seu pai, mas como não tinha conhecido ele não conseguia enxergar dessa forma. Aisha parará e agora se abaixava e o som que ela emitia lhe garantia que ela estava chorando. Ok! Aquilo tinha tirado ele da base. Madroc se aproximou e se abaixou ao seu lado.

-Aisha? - ela simplesmente não respondeu e isso o deixou mais puto ainda com Leandro. Era briga que ele queria? Então ele ia ter! Ele já estava frustrado demais para permitir que qualquer coisa ferisse a pobre garota. Engoliu seco na tentativa de resistir a vontade louca que crescia de arrebentar o nariz do fracote.

- Não sei o que fazer... Estou me sentindo tão mal... - sua voz era trêmula e cortou o coração de Madroc ouvir aquilo. Talvez a culpa fosse dele já que quis ela sobre seus domínios desde que colocou os olhos nela. Ele olhou em volta apertando o maxilar. Leo, Roger e Tarço se aproximaram e encaravam ele. Roger parecia tão zangado quanto Madroc e Tarço parecia indiferente a tudo. O problema? Madroc sequer tinha estado nessa posição. Nao sabia nem o que dizer já que não entendia por que Aisha estava agindo dessa forma. De uma coisa ele tinha certeza, ele queria bater em Leandro por insinuar que os esquecidos eram selvagens sem humanidade só por qué tinham vivido uma realidade diferente da deles que passaram a maior parte do tempo sendo protegidos por paredes tecnológicas que ele jamais chegará a conhecer. Leo sinalizou para ele conversar com a garota antes de voltarem para o edificio. Roger limpou a garganta quebrando o silêncio que estava enquanto o choro sentido de Aisha soava alto o suficiente para fazer Madroc quase entrar em colapso. Odiava ver alguém chorando e definitivamente ela era a última pessoa que ficava feliz ao ver chorando.

- Vou te assumir ok... O pessoal ainda não acordou... Isso tudo foi ontem a noite e acalmam os ânimos de todos, mas que deu para ouvir em alto e bom tom o que faziam... - Leo socou Roger a tempo de impedir ele de terminar a frase. Roger olhou inconformado para Leo e ele disse palavras inteligíveis para que Roger se calasse. Leo, de todos, era o que mais sabia como Aisha se sentía e de certa forma queria poder tirar ela dali e levá-la para um lugar tranquilo para ela se acalmar, mas decidiu que isso irritar ia Madroc e ele não compreenderia. Seria melhor ensinar o amigo a procurar briga para tentar ajudar a guerra no interior de Aisha. Não era uma briga física, mas sim algo moral dentro dela que ele sabia que ela nunca tinha enfrentado, mas que para seu povo era tão claro quanto a água cristalina de um rio corrente. Eles não tinham problemas com nada e lidavam com naturalidade em relação a convivência de todos. Tinham aprendido da pior maneira que quando se vive a mercê do mundo e da natureza você aprende a agir tão naturalmente quanto ela e para de banalizar tudo ao redor, mas claro que ela não entendia isso e sabia disso pela forma tão descuidada que agia com todos. Roger se afastou resmungando e Tarço encarou Leo tentando entender o que fazer. Tarço literalmente não sabia lidar com nada relacionado a emoções e parecia perdido ao lidar com a situação. Leo olhou para Madroc certo que deveria sair, mas o olhar confuso de Madroc para Aisha fizeram ele desistir. Se amaldiçoou por se sentir responsável pela situação já que sua mulher tinha encorajado Aisha a tentar ser sincera com o que sentia. Fechou as mãos em punho querendo apenas sair dali e voltar para o edifício. A raiva dentro dele em relação a Leandro também batia forte. Agna quase voou no garoto na noite anterior e parecia furiosa. Ele foi obrigado a prendê-la por debaixo dele e segurar ela contra a vontade. Agna tinha cortado a mão dele com os dentes e realmente parecia histérica quando Leandro começou a dizer as merdas sobre os esquecidos. Nunca foi tão difícil acalmar sua mulher, mas ele tinha conciencia do gênio forte de Agna. Era a mulher mais corajosa que conhecia e qualquer ser vivente esperto teria cuidado com ela. Ela morreria, mas seus princípios e valores jamais seriam questionados sem que ela pudesse se defender apropriadamente e ver ela defendendo Aisha só deixou claro que escolherá a mulher certa para ser mãe de seus filhos. Se abaixou e Tarço fez o mesmo se sentando no chão. Leo colocou a mão no ombro de Madroc e conseguiu sua atenção. Léo olhou para Aisha que agora se virava e escondia seu rosto contra Madroc. Ele talvez não entendesse tão bem Aisha. Ela parecia determinada até se abaixar e começar a chorar.

Madroc - Série Esquecidos - Onde histórias criam vida. Descubra agora