XV

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"Queria não estar vivendo essa experiência horrorosa." pensou Aisha enquanto se distanciava de todos. Agna vinha logo atrás. Parou assim que viu-se a uma distância considerável dos outros. Se escorou em uma árvore e encarou Agna.

- Todos vão me olhar com olhares de julgamento não é? - sua voz soava tão sentida e amedrontada. Nunca tinha experimentado o julgamento antes e estava prestes a ver isso. Quer dizer, ela acreditava tanto que tinha cometido um crime que estava a ponto de se auto castigar em resposta a sua indecência. Agna olhou para ela com tanta confusão que já não sabia o que pensar.

- Não entendo... - Agna soltou. Claro, seu olhar confuso já diziam a Agna que estava sem entender o que acontecia. Tinha que explicar a Agna como se sentia e não sabia como fazer isso sem se sentir tão suja.

- Eles vão me julgar... - sua voz tremia - Eu estava tão inerte a tudo ontem que não percebi que estávamos sendo indecentes... Eu sinto muito... Me perdoe... Eu jamais... - sua voz falhou. Ela sentia que falhará também. Falhará em ser a mulher que sua mãe queria. Uma mulher respirável da visão de sua mãe. - Eu vou esclarecer que não estão abusando do meu corpo ou algo assim... - tentava manter-se firme enquanto falava, mas era quase impossível. - Eu fiz tudo porque eu não sei! - ela esbravejou gesticulando frustrada. Estava furiosa agora. Nem mesmo sabia se explicar e seu mal humor foi preenchido com a risada de Agna. Ela ria tão alto que Aisha se perguntava o por que da risada tão divertida. Ela estava em um impasse e dando tudo de si para se explicar para Agna. Agna gargalhava e seus olhos marejaram de tanto rir. Aisha mordeu o interior das bochechas segurando as lágrimas. "Pareço tão estúpida assim?!" Agna balançou os braços.

- Desculpe! Meu Deus! - ela lutava para recuperar o fôlego. A graça de tudo estava na mudança de humor de Aisha. Era tão indecifrável que quando ela fazia parecia estar brincando. Assim que se recuperou se colocou de pé de forma ereta. - Aisha ... - tentou iniciar e seu riso morreu assim que viu que ela segurava o choro. "Pare de zoar a garota!" - Aisha ... - Iniciou novamente con mais ternura - Você não fez nada do que tenha que se arrepender. - disse tentando parecer o mais sincera e bondosa possível. - Eu sei que parece loucura para você... Quer dizer, você está abalada pelo que Leandro disse certo? Ele foi um infeliz ao fazer aquele tipo de comentário sexista. - disse raivosa. Aisha escutava atentamente e não entendeu nada. "Mas todos agora sabem que estou..." a palavra sequer podia ser dita em pensamento que se sentia julgada. O olhar de Agna era o mais carinhoso e compreensível possível e aquilo a deixava tão à vontade. Ela estava ali morrendo de medo de ser acusada de algo e Agna estava conversando com ela sem nenhum problema. Ela admirava Agna ainda mais pela forma tão simples que lidava com tudo. - Ninguém aqui está te julgando. - Agna sorriu de forma maldosa. - Na verdade estou impressionada. Deixando Madroc te pegar em qualquer lugar sendo que parecia tão inocente. - Pronto! Era o fim! Aisha queira ter um buraco para se esconder. Como não tinha pensado nisso. Eu estava em cima de uma árvore no turno de Madroc e fiz... A vontade chorar voltou. Seu rosto devia estar queimando em um vermelho intenso. Seria tarde mais para se retratar com todos?

- Agna... - começou temerosa. - Foi tão alto assim? - Agna assentiu olhando para ela com certa malícia e um sorrisinho descarado.

- Eu quase pedi a Leo que conseguisse algo para tampar os ouvidos das crianças, sorte que estavam dormindo tranquilamente e não ensinamos eles ainda a ficar alerta a qualquer barulho. Imagina! Como eu explicaria a meus filhos que homens e mulheres transam se eles nem sabem ainda o que é gostar de alguém dessa forma. - Aisha definitamemte se sentiu pior. A mãe dela tinha razão. Ela não tinha mais nenhuma honra a defender. Acabará de se conformar com isso. Seu rosto devia ter se tornado tão penoso que ela mesma não sabia a extensão de seu pesar. Agna ficou ainda mais preocupada. Por que ela ainda estava tão triste? Ela acabará de dizer que Madroc e ela tinham algo puro e forte demais para controlar e ela estava ali reagindo daquela forma. Apenas ouviu seu sexto sentido que gritava. Só abrace ela. Abraçou Aisha. - Ei... Você deveria estar feliz. Você domou um cara difícil de lidar sabia... Ele é o diabo para meus filhos. - aquela afirmação a deixava irritada. Madroc era muito cruel com as crianças. Ele simplesmente se trocava com as crianças se elas diziam algo que ele não gostava. As vezes ela se perguntava se Madroc tinha deixado de ser criança ou ainda tinha o cérebro de uma. - Você não fez nada indecente ok! Aquele Leandro que foi indecente com suas insinuações. Primeiro, os homens dos nossos grupos espalhados por aí não pegam mulheres a força. Segundo, nenhum deles sente prazer em maltratar para causar dor. Terceiro, não trocamos nada por proteção. Proteger é mais importante do que essas convenções estranhas criadas para se beneficiar. Quarto, mulheres não são frágeis a ponto de permitir-se serem tocadas. Antes podia ser, mas somos treinadas desde pequenas a lutar para nos defender. Se um homem vir realmente para nos maltratar sabemos truques para desacordar um em segundos. - ela murmurou as próximas palavras - Não que precisemos usar isso para nos defender. - De alguma coisa ela tinha certeza. O horror que ouvia de sua mãe. O horror que seus avós contaram a ela sobre os anos antes do chamado apocalipse não pareciam existir ali. Era um respeito tão grande entre eles que ela já não sabia como agir. Se Agna dizia que ninguém ligava então ela tinha sido ensinada de forma errada. Então não era um pecado? O que era então? Ela não sabia o que pensar, mas Agna garantiu com certeza a calma de seu coração. Se afastou de Agna e olhou para ela agradecida.

Madroc - Série Esquecidos - Onde histórias criam vida. Descubra agora