3154 - caprichei!
Capítulo: A segunda guerra.
'N A R R A D O R A'
|Preparem os arsenais [...]|
O dia amanheceu estranhamente tranquilo para Maya, ou talvez fosse por conta do sono recém desperto, mas ela estava se sentindo leve, mesmo com os acontecimentos da noite passada.
Tudo passou pelos seus olhos como uma avalanche gigantesca, uma avalanche de memórias que ela gostaria de apagar de si. Não, ela não queria lembrar de cada momento que viveu naquela alcatéia.
Foram tempos difíceis que teve que passar sozinha, sonhos atrás de sonhos e a cada dia via que algo estava errado com a sua própria família e com as pessoas que moravam ali.
A forma como olhavam para si como se fosse algum tipo de aberração — esta que merecia morrer para pagar pelos seus pecados — isso tudo na cabeça deles, nunca passou pela cabeça de Maya que seria fruto de uma morte planejada.Maya não passava da garota que foi usada por Gautti para matar a grande Guerreira Negra.
Foi esse tipo de pensamento e ação que envolveu a garota numa guerra de sentimentos. O que sentia? O que eles queriam? Por que faziam?
A raiva era tanta que cegou o povo contra a menina, cegou sua própria família.E assim ela viveu, sendo feita de chacota pelas crianças da escola, pelos adultos por onde passava e tratada de forma diferente pelos pais.
Sentiu-se culpada por toda a vida, via o sofrimento de sua mãe toda vez que ela chorava desolada num canto qualquer da casa, e, de alguma forma sentia essa dor.
Maya cresceu sob a raiva de outras pessoas, sendo que nem ela entendia o real motivo para tanto ódio.
Até que começou a sonhar, toda vez as mesmas cenas se repetiam com sussurros mal-entendidos.
Uma mulher deitada sobre uma maca, com semblante cansando e saúde frágil, de olhos opacos e quase sem vida. Toda vez tremia quando um dos homens a chamava de Maíra, e sentia uma imensa vontade de chorar toda vez que a mulher morria depois de ter a sua filha.
Qual era a relação? Não sabia.
Foi nesse mesmo período que começou a ser atormentada pelos seus piores demônios da vida passada.
Dois palhaços que fizeram da sua existência um inferno.
Mortes e mais mortes foram acrescentadas no seu currículo imaginário e a única forma de por um fim em toda a matança na vila foi mandá-la para a prisão.
Talvez o pior erro da vida de Angel e Willian, jogar Maya em uma prisão com pouca idade foi o ápice que a garota podia aguentar.
Eles a odiavam? Não a queriam mais?
Por um lado ela entendeu, no começo de sua pena Maya entendeu o que fizeram, era errado matar as pessoas, não era? Pensava fitando as paredes imundas da sua cela no subsolo da prisão. Mas não era culpa dela se não sabia o que fazia, entrava numa espécie de transe e só acordava quando sentia os pés molharem com o contato do sangue quente de suas vítimas.
O que ela não entendeu foi a ausência de sua família, cada dia ela esperava ansiosa pela visita de sua mãe, sentia saudades dos abraços que ela dava, do carinho que seu pai fazia e das brincadeiras com seus irmãos. No entanto, nunca aconteceu.
E quando mais ela crescia, a vontade de vê-los diminuía. A esperança que nutria acabou desaparecendo, seus olhos já não brilhavam mais e o seu coração parecia mais gélido do que o chão gosmento daquele cubículo.
Quando a sua pena acabou, Maya sentiu algo diferente em seu corpo, talvez pelas marcas dos açoites que recebeu? As marcas profundas das lâminas afiadas nos seus braços e pernas? Ou então a grande cicatriz que carregava entre os seios? Maya não sentia dor psicológica de ter sido rejeitada pelas pessoas, ela ficou forte emocionante e fisicamente. Foi vendo os outros presos que Maya se encontrou, quando os via sorrindo toda vez que algum guarda os torturavam. Chorar por que, pequena Maya? Isso não fará de mim melhor e não vai me tirar daqui, e quando perguntou se sentiam dor, a resposta deles a surpreenderam: Dor? Com o tempo as cicatrizes acabam amortecendo toda dor que sentimos, nos tornamos fortes com ela, porque é esse o objetivo da dor existir, não é fazer desistir e sim persistir até você não ser capaz de senti-lá!
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A Guerreira da Morte
WerewolfLembranças. Sempre vão ser nossos piores ou talvez nossos melhores sonhos, são por elas que decidimos seguir em frente ou não. O legado dos lobos de matar ou morrer ainda segue firme nos corações dos que sobreviveram à primeira guerra da profecia d...