PRÓLOGO - GÊNESE

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NO ANTES. NO MEIO. NO FIM. NO SEMPRE.

No existir ainda não conhecido por todos, o Não-Começo nunca houve, só o Negro conceitual, uma senciência fluída, sem forma, suprema, uníssona e infinita pulsava.

O Ûnico, já existia. Olodumarê, O Primevo. Uma vida mais perfeita do que sempre existiu, mesmo antes da vida.

Perene.

Infinito em sua completude, solitário e indistinto ao Tempo, Matéria, Dimensões, Som ou Luz. Conceitos que ainda não existiam, distinções que lumificaram sua efetivação após o Começo, o pensamento esboçado em definição.

Uma bolha de energia pura, como um feto, surgiu daquele infinito. Pulsante.

Auto contida nela mesma. Concentrada no plano que o detinha, que o continha, era o pensamento que proporcionava a mudança.

Seu idealização causou o novo e suas reações criativas.

Uma fagulha, mescla de seu princípio. Um conjunto de um, que continha dois. Híbrido, sem definição, sem meio, só fim.

Empuxo e lançamento, batendo e vibrando, rodopiando em si.

Sem feições, nem máscaras, buscando uma individualidade, sem poder escapar um do outro. Revoluteando em e sobre si.

Imensurável desde sempre, sem forma, apertados, agitados entre si.

Eram pura força que animava, reagindo numa massa etérea infinita de gases. Densa, agitada e caudalosa, sem rosto, em conflito constante.

Identificaram-se. Eram. Estavam. Definiram-se em estados e gêneros distintos.

Juntos, crescendo incontroláveis e cada vez mais apertados, um partindo do outro, ligados, agitados, girando, levou-os a constantes revoltas e então existiram numa fagulha infinita de consciência.

Os Criados, envoltos em si, contra si, lutam criando o novo, expulsando respectivamente, suas matérias escuras e brilhantes, individualizadas e maduras e então, num súbito momento de grande tensão e atrito entre esses híbridos, expande-se de tal forma dentro dessa bolha, rasgando sua membrana.

Brilham. Queimam. Num urro de luz.

Explodem em seguida, violentamente, em todas as direções, infinitamente misturando, fundindo, destruindo, juntando materiais diferentes.

Criando e separando a Matéria, o Tempo, Som, a Luz, as Dimensões. O Universo, sua casa expande-se em contrações ritmicas.

O feminino por causa do brilho da Luz crua ainda em expansão no Cosmos, cobriu seu rosto com uma máscara negra de Matéria, pois queimara-se naquela essência.

Tenta a todo custo inverter sua posição com o masculino que reage violentamente a ela. As feridas dos opostos ameaçam a tudo.

Olodumarê, O Primevo interfere. separando-os de vez, seus filhos colocavam em risco seu plano.

Mesmo contidos, fatores dessas reações bioquímicas, físicas e quânticas mudam constantemente.

Uma parte dessa massa desprendida tornou-se o ar, e a outra parte torna-se a matéria que dará origem a tudo o que virá, de planetas a estrelas.

Há um hiato. Calma.

O tempo foi apacentando.

O Duplo, dividido, mesmo sem querer, com características distintas dos outros elementos desprendidos de Olodumarê, experimentaram o ar, o pensamento e a divindade.

Os milênios passavam rápido, os sistemas já eram realidade, movendo-se num espaço maior e ao misturar-se com o caldo da vida, formou-se água, vapor e lama.

Na confluência das dimensões o Aiyê (Terra) torna-se o meio das nove existências.

O local de nascimento de tudo.

Um lugar inóspito, ainda sem utilidade ao Plano inicial do Primevo.

Com as transformações que a água e o ar em movimento sempre impõem, dias e noites fizeram aparecer um montículo de terra firme.

Nenhum elemento o esfriava, quente, avermelhado e duro, sobressaiu-se e Olodumarê soprou sobre ele animando-o de vida.

Iangui, o primeiro Exu, a montanha de laterita quente, passa a existir.

Mesmo passado tanto tempo, Olorum olhou os Seres Inquietos, sempre envoltos em si mesmos, egoístas, apertados por querer, sem conhecer outra coisa, brigando infinitamente e intervêm novamente.

Vendo o conflito das energias que eles encerravam, separa-os drástica e violentamente. Examinando-os, viu que seu fruto eram um Homem e uma Mulher.

Deu o nome de Oxalá, ao albino e o inflou-o do poder para governar o ar e chamou de Oduá, a mulher negra mascarada com um olho cego e inquieto que governaria as águas e a terra, e instruiu-os de que completassem o restante do trabalho que planejou.

Em harmonia, sempre juntos e que espalhassem seu Plano.

Nas mãos dos dois, nada saiu como esperado, pois Oduá era irascível e temperamental, dotada de um poder descomunal e imprevisível, usou seu ciúme e criou o Aiyê como ficou conhecido.

A sua imagem e semelhança.

Ludibriado por si mesmo, quebrando seu tabu principal, Oxalá completou a missão, com a criação dos seres humanos, animais.

Um sempre tenta suplantar ao outro, enganando-se mutuamente. Mas, numa dessas brigas, já ao término de sua tarefa principal, Oxalá suplanta o poder de Oduá para controlá-la, apaziguando-a a contragosto.

Submissa a contragosto e sem aceitar seu novo status, Oduá jura vingança e recolhe-se às profundezas da terra, junto a lama abismal, rancorosa.

Esperando o dia seguinte, onde o esquecimento compromete a vida.

Planejando desde sempre e sem descanso seu retorno.

Suas descendentes iriam aplicar seu desejo sobre a criação, pois elas traziam seu sinônimo dentro de si.

Retornaria para refazer-se e refazer a tudo e nesse dia os pilares da sua Criação ruiriam e dos escombros faria tudo a sua imagem e semelhança.

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora