Capítulo 01

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Revirei os olhos e me joguei no sofá, minha mãe sempre fazia um drama quando me ligava. Se ela algum dia precisasse trabalhar e não estivesse mais casada com o milionário Juan Von Uckermann eu a aconselharia a se tornar atriz ou dar aulas de teatro dramático.

- Sim mãe, todo dia eu olho pra ver se tem uma pessoa estranha na rua antes de entrar no prédio, não importa se é de dia ou de noite... Mas não esqueça que eu estou morando no centro da cidade, o que eu mais vejo são pessoas diferentes.

- Mas ai que você tem que tomar o dobro de cuidado, se deixasse seu padrasto colocar o rastreador no seu celular...

- Mãe, por favor, não começa... Mesmo que pudesse me rastrear, de Juárez até aqui leva algumas horas, você não poderia fazer muita coisa se algo me acontecesse.

- Eu sei, mas você sabe porque eu faço isso. - ela murchou do outro lado da linha. 

Ah não de novo não!, pensei contendo um suspiro e revirando os olhos. 

Dona Marichello sempre voltava no mesmo ponto, quando via que eu me sentia sufocada ela dizia que fazia isso pelo que houve com meu pai. Era a arma dela pra me convencer das coisas, mas ultimamente eu andava resistente. 

Nós duas brigamos feio quando arrumei meu emprego na capital e ela tentou me convencer a ficar em Juárez, onde tudo lembrava meu pai e minha adolescência antes e depois dele. Por fim Juan a convenceu e pude me mudar. E sinceramente esse foi o melhor mês dos últimos anos. 

- Sim mãe eu sei, mas fica tranquila eu sei me cuidar ok? Agora tenho que desligar, amo você, beijos. 

- Também te amo filha. - minha mãe respondeu chorosa, mas desligou. 

- Poxa sua mãe é super protetora né? - Maite sorriu pra mim quando desliguei. 

Sorri pra minha colega de apartamento e fui pra cozinha pegar meu café. 

- Ela tem medo de cidade muito grande... Acha que eu vou me perder, essas coisas...

- Meus pais também, mas faz um mês que você ta aqui, ela devia ficar mais tranquila, você já se habituou... Acho que ela tem medo da violência da cidade grande. - Maite deu de ombros. 

- Pode ser, mas Juárez é considerada a cidade mais violenta do país, disso ela não lembra quando tenta me convencer a voltar, não é à toa que foi lá que... - emudeci mordendo os lábios. 

- Lá o que Any? - Maite estreitou os olhos me estudando. 

- Nada! - respondi me virando pra pia.

Me senti gelar por dentro ao lembrar do meu pai e da violência que presenciei ele sofrer. Eu só tinha 14 anos e de dentro do carro vi meu pai ser morto a tiros friamente. Levei a mão na boca, como fiz aquele dia pra conter meu grito de horror e desespero.

Maite era legal, havíamos nos conhecido quando me mudei e ela não conhecia a história. Na verdade eu não falava disso com ninguém, por mim que preferia me preservar de olhares de pena e pela minha mãe que morria de medo da história cair em mãos erradas.

Eu ainda sofria pela falta que meu pai fazia e como tinha sido tirado de mim. Por conta do que houve eu passei por um período de 02 anos de rebeldia com os hormônios à flor da pele. Depois disso me tornei uma pessoa muito sozinha e reservada. Nunca havia namorado sério, não tinha muitos amigos e sofri calada a maior parte dos anos. Pra mim não parece que faziam 10 anos.

- Any...

A voz da minha amiga me trouxe de volta e forcei um sorriso a encarando.

- Oi?!

Irresistível - O Caso Portillo ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora