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  Apesar de ter em mente inventar uma desculpa qualquer e dizer a Blake que não iria, fui até minha mãe e perguntei se podia sair por alguns minutos com um amigo.
  Eu não pretendia ir com ele, mas... Seria mais fácil voltar cedo do que tarde sem um aviso.
  Esperei em meu quarto até ver seu carro parar em frente a minha casa.

  Eu não sabia o que havia pensado ou sentido ao ler a mensagem, mas sabia que havia franzido o cenho.

  Blake estava do lado de fora do seu carro, encostado na porta do passageiro.
  Não se deu o trabalho de desviar o olhar enquanto eu me aproximava e também não o fiz.

  — Oi — eu disse.

    Blake estava como quase sempre. Calça, moletom, tênis e cabelo bagunçado. Mas, droga, o que o fazia ser tão atraente?
  Não conversamos muito na noite de domingo, quando Blake perguntou se eu o odiava. E estava tudo bem, porque éramos assim, certo? Não éramos amigos, apenas... Conhecidos?

  — Oi — Blake abriu a porta do carro para mim, se apoiando na mesma. — Não achei que seria assim, tão fácil te convencer.

  — Eu disse que não iria — falei, não me movendo. — E desde quando você me chama pra sair?

  — Desde hoje — deu de ombros. — É só um passeio. Te deixo em casa em, no máximo, duas horas.

  Talvez... Duas horas não eram muito. Eu estava entediada e minha mãe deixara. Qual o problema em sair com Blake? Não queria dizer nada.

  — Temos duas horas, Gray — eu disse, entrando em seu carro e pude ver seu sorriso convencido antes de fechar a porta.

  Não falamos muito no caminho além de comentar sobre as músicas que tocavam em uma rádio aleatória.
  A companhia de Blake, apesar de estressante na maior parte do tempo, também era boa. Talvez a gente pudesse ter uma amizade.
  Estávamos cada vez mais alto na cidade, dando uma vista incrível e iluminada de Los Angeles.
  Era maravilhoso.

  — Uau... Isso é incrível — olhei para Blake, admirada. Apesar de conhecer o ponto turístico, nunca tive a oportunidade de ir até ali, até aquele momento. — É agora que diz que é seu lugar preferido na cidade e que eu sou a primeira que trás aqui?

  Tinham alguns carros do outro lado, mas em geral estávamos praticamente sozinhos.

  — É um dos meus lugares favoritos da cidade, sim — disse, ao parar o carro. — Mas sabe que eu estaria mentindo se dissesse que nunca trouxe ninguém.

  Ele desceu do carro e fiz o mesmo.
  A resposta já era previsível e eu não esperava que ele negasse. Não me incomodava, pela nossa falta de relacionamento.
  Aqueles ciúmes dos outros dias não passavam de orgulho ferido.

  — Então você trás garotas aqui, para acreditarem em seu lado romântico — nos sentamos no chão, ao lado do carro. — E usa a tática de "você é a primeira?"

  — Não — Blake arqueou uma das sobrancelhas. — As trago aqui porque é vazio e tem privacidade.

  Fiz uma careta ao me virar pra ele, que piscou, rindo da minha cara.

  — Eu, definitivamente, não queria saber isso, sabe? — Blake deu de ombros. — E por que eu estou aqui?

  — Uma vez você citou que gostaria de vir aqui algum dia — disse. Eu me lembrava disso. — Quis fazer algo legal. Mas se quiser, também podemos testar aquilo da privacidade.

  Ele não me olhou ao dizer, o sorriso nos lábios contendo uma risada. Dei um soco em seu braço, o que o fez rir.

  — Não seja um idiota — eu disse entre um sorriso. — E obrigada por me trazer até aqui, realmente gostei.

  Ele sorriu em resposta.
  Qual é, onde estava o garoto que todo mundo dizia ser um idiota? Blake tinha os seus momentos de menininho mimado, mas não passavam de momentos.
  Ficamos em silêncio por alguns minutos, apenas observando as luzes a frente, a cidade tão movimentada e bonita, que agora parecia tão pequena.

  — Fiz algo idiota — Blake disse - mais murmurou - enquanto olhava para a frente, o rosto sério. O brilho das luzes da cidade refletiam em seus olhos.

  — De que tipo de idiotice estamos falando? — Indaguei, o olhando de soslaio enquanto franzia o cenho.

  — Do tipo que alguém pode me odiar. Alguém que eu não quero que me odeie— deu de ombros.

  Apesar do gesto de indiferença, ele parecia sim se importar, e bastante.
  Olhei para Blake por alguns segundos.

  — Não faço a mínima ideia do que tenha feito — comecei. — Mas pode ser concertado?

  — Eu espero que sim — ele suspirou pesadamente, culpa parecia o incomodar.

[...]

  Ficamos em silêncio.
  Falamos coisas aleatórias sobre nós mesmos.
  Mas no fim, eu sorria, contente por ter aceitado ir.
  A amizade entre nós podia sim ser real. E eu estava começando a gostar da ideia.

  — Já passa da meia-noite, acho melhor te levar para casa — disse Blake.

  — Está ótimo aqui, mas... Temos aula amanhã — o respondi.

  Mas, apesar de estarmos de acordo, nenhum dos dois ficou de pé.
  Minha mãe começaria a me ligar se eu não estivesse em casa em dez minutos.
  Fiquei de pé.

  — Foi legal, Gray — eu disse. — Fico feliz que não tenha me empurrado lá embaixo por jogar, propositalmente, um copo de vodka em você.

  O garoto riu, levantando a cabeça antes de me olhar.

  — Sabemos que eu mereci aquilo — deu de ombros. — Mas na próxima, você vai parar dentro da piscina.

  Foi minha vez de rir.

  — Talvez possamos ser amigos, afinal — eu disse ao entrar no carro.

  Ele ligou o carro e deu partida antes de responder, um pequeno sorriso em seus lábios, que eu também tinha.

  — Conto com isso, princesa — Provocou.

  — Não me faça mudar de ideia — revirei os olhos.

  Seu sorriso não voltou depois de eu dizer isso.

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Xoxo, Gabs<3

Perfectly WrongOnde histórias criam vida. Descubra agora