Capítulo 2 - ELA se envolverá com ELE (part.1)

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Acordo na manhã seguinte aos beijos aturdida. A dramatização que os "Marcelos" fizeram para impressionar e arrancar beijos meus havia funcionado perfeitamente. Como uma tola de quinze anos, levanto a coberta, sento na cama e de uma forma bem brega coloco a ponta dos dedos nos lábios, lembrando seu gosto. De um começo arriscado e bastante ousado para um final arrebatador, ele havia conseguido me cativar, uma conquista com toque de arte, original, única, existia poesia naquilo tudo. Para uma pessoa como eu que sempre sai decepcionada de primeiros encontros, o de ontem foi marcante positivamente. Contudo, em algum lugar da minha cabeça coça um pensamento que pondera o sobrenatural. E se não foi uma cantada muito bem elaborada? E se ele realmente veio do futuro? Aqueles beijos tão diferentes, as roupas, a mensagem, os olhares... Bom, considerando essa hipótese, minha parte machista logo diz: "você foi uma atirada, beijando-o sem explicações". Meu lado romântico, por sua vez, sorri: "vou viver um grande amor com ele". Já meu instinto de preservação pondera: "que motivo o fez voltar? O que acontece no futuro? Por que terminamos?". Levanto da cama e me sentindo mais boba que a menina de 15 anos que havia acordado e colocado as pontas dos dedos nos lábios, ligo o notebook e no site de pesquisa insiro as palavras: "viagem no tempo". O primeiro resultado encontrado é da Wikipédia e ali clico. Leio o primeiro parágrafo que trata sobre a descrença dos cientistas acerca da possibilidade de viagens no tempo; uma frase pula em meus olhos: "Stephen Hawking sugeriu que a ausência de turistas vindos do futuro é um excelente argumento contra a existência de viagens no tempo". No meu caso, isso cairia por terra, já que conhecei (e beijei) um lindo turista do tempo. Sigo a leitura e o texto indica teorias, muito embrionárias, com nenhuma possibilidade de aplicação prática, como os tais "buraco de minhoca" e "rotação de cilindros feitos de cordas cósmicas". De fato, não havia nenhuma possibilidade que em 01 ano apenas, o homem tivesse descoberto um jeito, construísse essa máquina ou o que quer que fosse e voltasse no tempo e, pior, para proporcionar, entre tantas coisas possíveis, que um homem assistisse o primeiro encontro com sua namorada. Embora eu fosse adorar, sem dúvida, Marcelo não iria me buscar para jantarmos nas cortes imperiais com aqueles vestidos pomposos, assistir Beethoven tocar ao vivo, conhecer os dinossauros, ou conversar com a Monalisa para decifrar seu sorriso. É uma cantada! É óbvio - meu lado racional grita, me sacode, espantando o poliedro fantástico de Amanda para debaixo do tapete da mente. É hora de levantar da cadeira, tomar banho, café, me arrumar e enfrentar mais um dia de trabalho na redação.

- Bom dia, mãe – cumprimento-a enquanto sento à mesa para tomar o café.

- Bom dia, filha.

Pego o toddynho gelado, tiro o canudinho e furo a embalagem. Dou a primeira puxada no achocolatado e, em seguida, cato o pão francês para começar a cortá-lo enquanto minha mãe faz questão de ser aquele clichê, igual a todas as outras mães, leitoras assíduas dos movimentos corporais dos filhos.

- Como foi a noite ontem, minha filha?

- Foi boa. Fui com a Bianca jantar.

- Vi que chegou tarde, entrou, depois o interfone tocou, aí saiu de novo e voltou em cinco minutos – diz a fuxiqueira.

- Pois é – respondo demonstrando que não queria mesmo conversar. Mas mãe não para, ignora todas as tentativas de afastamento e prossegue. - Quem era no interfone a essa hora?

- A Bianca, mãe, a Bianca. Ela tinha esquecido a carteira dela comigo – minto, primeiro porque não queria mesmo ficar falando sobre meus beijos quentes no carro ou mesmo os românticos no portão de casa e, segundo, principalmente, sobre o homem que veio do futuro me reencontrar.

- Mas por que ela deixou a carteira com você? – Meu Deus, ela é persistente mesmo!

- Por que ela estava sem bolsa, não queria ficar com a carteira solta, aí me deu para guardar e esqueceu-se de pegar – digo com o tom de quem efetivamente está terminando o assunto e não vai responder mais perguntas acerca dele.

O Homem do Futuro do PresenteOnde histórias criam vida. Descubra agora