Ele não responde. Não com palavras, sua expressão marota traduz suas intenções. Com a água já quase no meu peito, seus dedos se entrelaçaram nos meus cabelos e me traz para seus lábios novamente. O beijo é molhado e salgado, não só pela água do mar - nós ardemos. Marcelo desce a mão do meu pescoço, desliza fácil pelas minhas costas até concretizar o objetivo de toda sua esperteza previamente tramada. Ele é safado, canalha, me mostrando com todos os sinais que me deseja e eu o deixo aproveitar um pouco, antes de, sem parar o beijo, pegá-lo pelo pulso e devolver sua mão às minhas costas. Ele entende que estou gostando, o aperto é bom, mas que haveria de colocar limites. Abro levemente o olho direito para ver se haveria alguma reação de frustração em seu rosto e encontro os castanhos dele abertos.
- Tenho que tomar cuidado para não levarmos uma onda na cabeça. Um olho na onda, outro na gata. Não é assim o ditado? – diz rindo para voltar logo a encontrar meus lábios entreabertos pelo sorriso que dou como resposta.
O balanço do mar dita a intensidade do maravilhoso beijo. No indo e vindo das ondas nossos corpos colam e descolam. Marcelo larga minha boca apenas para percorrer meu pescoço úmido, morde a pontinha da orelha e me faz suspirar involuntariamente, deixo a cabeça cair. Subimos e descemos de acordo com o volume do mar e a temperatura da água cada vez esquenta mais, a ponto de ferver. Cedo um pouco e acabo entrelaçando minhas pernas em sua cintura. Um curioso que da areia olhasse nossos movimentos assanhados poderia ver o vapor que sobe para o céu azul. Quem sabe deixamos uma nuvem se formar? Nossa! Como há espaço para devaneios de uma poetisa de segunda categoria no meio desse beijo tão sexual?
- Chega! - num ímpeto de sobriedade - As pessoas estão olhando – completo com uma dedução inventada.
- Claro que não – responde tentando voltar a me beijar.
- Marcelo, vamos retornar para a areia. Continuar com isso não vai dar muito certo né? Até deixei você já ir longe demais, não acha? – pergunto retoricamente com a sensatez que me resta.
- Tudo bem – diz frustrado – A gente ganhou a fama, mas não deitou na cama, era melhor...
- Marcelo, Marcelo, sossega...
Vou nadando e logo percebo que ele não me acompanha.
- Você não vem?
Quando viro ele está repetindo incessantemente:
- Abajur, abajur, abajur, abajur...
- Abajur? Que isso, homem? Enlouqueceu?
- Não dá pra ficar perto de você. Vai indo na frente. Não posso sair agora – diz rindo com uma mistura de safadeza com constrangimento. Entendendo seu "problema" não me contenho e abro um largo sorriso.
- Abajur?
- Abajur, é. Tenho que pensar em algo completamente assexuado para poder, você sabe...
Dou uma gargalhada. Que figura! Deixo-o meditando sobre o abajur e me viro para sair do mar com uma expressão satisfeita: era abrasador, bom demais se sentir desejada daquele jeito. Caminho pela água, não rebolando, mas provocativa, daquele jeito que toda mulher sabe fazer, sem ser vulgar, mas hipnótica. Antes de sentar na cadeira, me agacho para ajeitar e fixá-la bem na areia e, nesse movimento, me viro lentamente para encará-lo com um olhar falsamente inocente, como uma ré obviamente culpada que, só por provocação, insiste em negar a autoria do crime.
Ele responde o olhar lascivo da criminosa fingida com a expressão raivosa de um perdedor que não sabe como absorver o duro golpe que levara. Faço a leitura labial dele repetindo o abajur, enquanto sento na cadeira, sem deixar de mostrar meus olhos de sonsa e o sorriso sacana. Após um minuto, ele se percebe apto a sair da água e vem se sentar ao meu lado, com o sorriso mais cafajeste que já havia me proporcionado, como se fosse uma resposta ao meu malvado atiçamento.
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O Homem do Futuro do Presente
ChickLitUm homem desconhecido surge repentinamente e afirma que voltou no tempo para reencontrar Amanda exatamente no dia em que se conhecem. No futuro, eles foram namorados, mas algo irá separá-los. Ao mesmo tempo em que se envolve com Marcelo do Futuro...