Capítulo 5 Ela namorará Ele (part.3)

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Nunca fui tão feliz em minha vida. Os seis meses mais intensos. É sério. A briga parece que foi um marco. Realmente como profetizado pelo Marcelo do Futuro, o Marcelo do Presente me ligou no dia seguinte, conversamos e nos acertamos. Encontramo-nos à noite, selamos a paz e após o beijo da reconciliação, soltei o "te amo" que havia dito na noite anterior. Eu já estava libertada. Ele, mesmo um pouco assustado, surpreso, me devolveu as palavras. Desde então, vivemos um sonho, tal verdade parece que abriu o caminho para andarmos sobre as nuvens.

Ele não parece de verdade, talvez seja mesmo do futuro, talvez seja fruto da minha imaginação ou pedi para por encomenda a uma equipe de cientistas (sim, o amor é clichê). O fato é que ele me completa de todas as maneiras, desvenda os meus olhares com apenas um, destrói meus joguinhos de ciúme com frases lindas e irônicas, me beija apaixonado na escada rolante, me dá os livros que ele acabou de ler para discutirmos depois tomando uma cerveja, me leva pra ver filmes ótimos, afastados dos recordes de bilheteria, revolucionou minha vida sexual, despertou uma mulher suja e selvagem que eu sabia que existia dentro de mim, mas que nunca tive coragem de colocar para fora totalmente, me deixa louca com qualquer toque e fala besteiras no meu ouvido nos momentos mais inoportunos, aperta minha bunda em locais públicos sem que ninguém veja, transa comigo na praia, no elevador, no carro, na hora do almoço no meio do expediente, me manda mensagens engraçadas durante o dia, me leva pra jantar em lugares diferentes e transa comigo quando chegamos em casa, claro, após um tempo de digestão, pois comemos iguais mamutes, transa comigo no domingo de manhã, me acordando de surpresa, discutimos os nomes dos nossos filhos e o quanto ele quer ter primeiro um menino e colocar a camisa do América nele (coitado!), me leva para as festas, nos divertimos bebendo, dançando, bebendo mais, chegando em casa alucinados para mais uma noite de amor (quando ele não dorme nas minhas coxas, é sério, já rolou isso duas vezes!), me faz rir, sempre com tiradas rapidíssimas, o cérebro dele deve funcionar mais rápido que o normal, me faz rever meus conceitos e preconceitos que talvez eu sequer conhecesse e, se conhecesse não saberia a origem, me recebe sempre com um beijo intenso, com saudades, ainda se no mesmo dia tivéssemos acordados juntos, me dá uns mimos fofos de surpresa e não em datas comemorativas comerciais, conhece todos os atalhos do meu corpo, se preocupa com meus problemas, encaixa comigo na conchinha como se fosse uma peça de lego (o amor também é brega), releva meu comportamento quando estou naqueles dias, faz questão de contar meus orgasmos, não, não me faz esquecer os outros homens do mundo, eu sei que estão lá, mas eu simplesmente não tenho interesse por eles, pois ele me entrega todos os dias o meu bilhete premiado, a sorte, a grande sorte de um amor tranquilo.

Há o único porém: ele, meu namorado do futuro. Nos cincos meses maravilhosos de namoro que vivemos, Marcelo nunca admitiu a farsa, sempre se manteve como desentendido e, em determinado momento, isso virou um tabu entre nós. É um mistério, uma dívida que me corrói. Quando a verdade aparecerá? Será que aparecerá algum dia? Como isso terminará? Será que quando fizermos um ano de namoro e o tal evento que nos separa não ocorra, ou ocorra...

Enquanto arrumo minhas malas para a viagem que faremos juntos hoje, recordo-me das aparições, pois é, tem um "q" de aparições fantasmagóricas, talvez até ele, o do futuro, seja mesmo um fantasma, não descarto nenhuma hipótese. Lembro saboreando as vezes que trai meu namorado com ele próprio vindo do futuro. Depois da primeira vez, Marcelo do Futuro aparece para matar suas saudades e eu o acolho de forma tenra. Meu amante é meu namorado.

O interfone toca e me retira do mundo do futuro, que foi presente, que agora já é história, é passado. É a nossa primeira viagem juntos, me sinto meio adolescente, ansiosa por esse momento completamente nosso, em Porto de Galinhas. O elevador toca o térreo e vejo Marcelo me esperando dentro do uber, logo em frente ao portão do meu prédio. Ele sai do carro para me receber, me dá um beijo – "Olá, amor", pega minha pesada maleta e coloca no porta-malas que o motorista já havia previamente destrancado.

O Homem do Futuro do PresenteOnde histórias criam vida. Descubra agora