Capítulo 4 - Ela amará Ele (part.1)

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Que barulho infernal é esse? Haja paciência... Meu celular! Não interessa, deixa tocar. Deve ser minha mãe. Que horas são? Olho para a cabeceira e o relógio marca onze e meia. Finalmente o barulho do celular cessa. Esfrego os olhos e me localizo: estou no quarto do Marcelo. Sim, disso tenho consciência, sei bem o que acabei fazendo ontem à noite. Meu deus, que ressaca é essa? Pra quê beber tanto? Minha boca está seca, a cabeça dói. Marcelo pelo visto, tem um sono pesado: não acordou com o toque ensurdecedor.

A noite foi ótima, maravilhosa, mas foi uma noite de sexo, daquele jeito que os homens classificariam como descartável. Fui contabilizada em sua vasta lista. Não me sinto suja com isso, eu queria, fiquei excitada, é normal, é humano. Também tenho minhas necessidades, meu corpo demanda satisfazer a libido e não há nada de errado nisso. O que está errado é transformar essa realização sexual maravilhosa que tive em uma entrega emocional que, sem dúvida, vai me frustrar e me machucar. Marcelo mostrou ontem, com sua postura, a insistência em transar comigo de qualquer maneira, usando de artifícios mil para conseguir seu intento, que outra coisa não posso esperar senão lembrar dessa quente noite de sexo. "Não se preocupe comigo, relaxa, meu prazer é te ver tendo prazer" - ele disse antes que nossos corpos se misturassem. Talvez ele me procure, faça um convite para sair e com isso consiga ter mais uma ou duas noites de sexo, porque, não há como negar, foi muito bom também para ele. Depois disso, Marcelo sumirá, começará a investir em outra mulher e repetirá o processo, o prazer da conquista. O ciclo do cafajeste. É bom que eu entenda isso de uma vez e corte essa relação antes que a queda ganhe altura, antes que me machuque. Impossível mentir, estou envolvida, entretanto, os danos de um sumiço ainda são contornáveis. A companhia dele é ótima, a noite foi maravilhosa, divertida, nós temos muita química, mas preciso entender que a nossa relação termina aqui. Provavelmente, a história do namorado do futuro tenha sido criada só para que ele alcançasse seu objetivo. Em breve, Marcelo acordará rindo, confessando toda a história e tirando sarro da minha cara de otária. O celular volta a tocar. Minha mãe, assim como Marcelo, é muito insistente.

- Filha? Onde você está? Daqui a pouco temos que ir para o almoço da sua avó!

- Desculpa, mãe. Acabei dormindo demais.

- Já são onze e meia. Sua avó marcou uma da tarde lá!

Marcelo se remexe, o toque do celular não o acordara, mas minha voz sim. Ele se vira, está nu, com os olhos semicerrados, tenta entender o que a maluca está fazendo falando alto naquela hora da "madrugada".

- Tá bom, Mãe. Já estou indo. Se me atrasar, você pode ir na frente que te encontro lá.

- Ok –  assente com um tom de reprovação da filha irresponsável que sai pra beber e perde a hora dos compromissos.

- Sua mãe?

- Era – sento na borda da cama, de costas pra ele. Também estou nua. Só em novelas que as pessoas transam e depois se cobrem desesperadas com os lençóis ou se vestem em seguida. Marcelo se aproxima e beija delicado meu ombro.

- Que noite maravilhosa...

Não respondo, ainda absorvo tudo o que havia acontecido. Ele faz carinho nas minhas costas e depois passa a mão nos meus cabelos.

- Quer dizer que você vem aqui, transa comigo e vai embora assim? É isso? Vai me usar desse jeito? – ele diz rindo.

- Engraçadinho, fica fazendo piadinhas mesmo. Conseguiu o que queria e agora fica de gracinhas.

- Só eu que queria?

Não respondo. Marcelo se aproxima, beija meu pescoço por trás, puxa meu ombro e me faz deitar na cama. Ele se ajeita e deita de lado, coladinho. Faz questão de me observar, como se buscasse extrair o que estava dentro da minha mente, o que eu havia achado da noite. Não que eu não tivesse deixado claro com minhas reações corporais e inconscientes, mas ele faz questão que meus olhos repetiam, Marcelo gosta do explícito, precisa que minha alma grite o quanto havia sido maravilhoso, para só assim satisfazer seu ego gigante de conquistador. Espia até tornar a me beijar na boca, me envolvendo em seus braços. O beijo não tem rodeios, a conotação sexual é evidente. Os dois nus. Os corpos rapidamente entram em ebulição. Alguns suspiros depois, ele deita em cima de mim.

- Marcelo, não dá. Tenho que ir para o aniversário da minha avó. Já estou atrasada, inclusive.

Ele não mostra nenhuma reação as minhas palavras, é como se eu não tivesse as falado. Quando Marcelo quer alguma coisa, parece que nada o impede. E assim, afoga a cabeça no meu pescoço, peito, abdômen... A intensidade com que nossos corpos haviam combinado na noite seguinte não permite que eu insista para que a coisa pare. Eu também quero muito, pulso. Decido que devo ao menos tentar controlar a situação danosa:

- Bem rapidinho então – digo entre suspiros e gemidos.

Ele me beija e, após alguns longos segundos, liberta os lábios da minha boca para, enfim, responder:

- Não sei fazer rapidinho... – e torna a deitar sua boca sobre minha pele.

Minha mãe deve ter me ligado umas cinco vezes, mas o barulho do celular não consegue tirar nossa concentração. Eu opto por escutar o sermão a ter que perder mais deste encontro de corpos. Minha mente esvazia e jogo os problemas para o futuro, desfrutando cada segundo do amor que havia inventado sentir por ele, para o momento, para mim, e que logo mais repousaria como passado, adormecido, irremovível,imutável, boas lembranças.

O Homem do Futuro do PresenteOnde histórias criam vida. Descubra agora