Capítulo 3 - Ela se apaixonará por Ele (part. 8)

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É óbvio que já havia acontecido algo no passado entre eles ou, no mínimo, ela queria muito que acontecesse. Diminuo o passo para observar um pouco mais e ouço a voz esganiçada: que coisa horrível. E que colar brega que carrega no pescoço! Aproximo-me, já dando as mãos para Marcelo. Ele, ao menos, não hesita em me apresentar:

- Essa é a Amanda. Amanda essa é a Sabrina.

Ela me cumprimenta com um sorriso falso de educação, o qual retribuo da mesma maneira.

- Estão namorando? – a sirigaita pergunta fazendo questão de ser inconveniente. Respondo antes que Marcelo negasse.

- Há seis meses – e sorrio amarelo.

Marcelo se vira para mim desentendido e Sabrina me olha como se não esperasse a resposta, ela sabe que é mentira, ou, talvez, deve ter pensado que me fez de corna. Não passam sequer mais dez segundos e a tal de Sabrina trata de se despedir e caminhar para o meio da pista. Visto uma face falsa, de quem não havia se importado com a presença da mulher e continuo dançando normalmente. Marcelo faz questão de explicar de onde conhecia a mulher, talvez por meu teatro não ter sido digno de aplauso, talvez por ele tentar se fazer de inocente, onde a culpa está nítida:

- Minha amiga da faculdade. Gente boa.

- Humm...

- Não sabia que estávamos namorando há seis meses...

- Não mesmo? – volto a alfinetar.

A conversa não evolui e, assim, continuamos a dançar, beijar e beber, cerveja, dançar beijar e beber, caipivodca, dançar, beijar e beber, drinks, dançar, suar, beijar, suspirar, beber, vodca com energético, dançar, beijar, beber... Marcelo me encosta na parede. A música da pista da piscina acaba e todos sobem as escadas, se dirigindo para a pista principal. Nossos corpos grudados e seus olhos seguindo os exatos movimentos dos meus, seus lábios muito próximos, consigo sentir sua respiração, acho que já estou ficando um pouco bêbada, ele é lindo, seus olhos me perseguem:

- O que está me olhando? – pergunto enquanto ele delicadamente acaricia meus cabelos.

- Não posso ficar te olhando? – com um sorriso doce.

- Pode...

E ele me olha por um longo tempo, mira fixo, compenetrado, com uma mão na minha cintura e a outra em meus cabelos, na bochecha, por trás da orelha e volta a escorregar os dedos pelos meus fios. Até que me beija com vontade, muita. Com as duas palmas de sua mão no meu rosto e os dedos alcançando a nuca, Marcelo me traz para ele, controlando o movimento do beijo, um ritmo forte. Nervosa, desgrudo o beijo, mas ele não para, continua: meu rosto, meu pescoço... Na orelha deixa leves sopros de uma respiração acelerada, sexual. Quando nos soltamos, nos encaramos, há uma grande, enorme, tensão. Eu nunca havia sido beijada desse jeito. Ele me quer e eu o quero, mas a profecia do Marcelo do Futuro não pode ser cumprida, não hoje.

- Vamos subir?

- Vamos pegar mais uma bebida aqui e subimos.

Concordo, ele então diz que precisa ir ao banheiro também e me pede para esperá-lo no bar, com as bebidas. A fila para o pedido dos drinks está um pouco demorada, tempo suficiente para alguém me abordar:

- Olá, Amanda – diz Vítor, o cara do trabalho. Que inferno!

- Olá, Vítor – cumprimento com dois beijos protocolares no rosto.

- Não foi você que disse que não viria de jeito nenhum.

- Pois é, mudança de planos.

- Que bom que você veio.

- Está esperando alguma amiga?

- Na verdade, estou esperando um cara que estou ficando – Vítor assimila como um golpe.

- Entendi... Tá bom, vou ali, legal de te ver – e me faz um afago nas costas antes de subir para a pista principal.

Cinco minutos depois, eu já com os drinks na mão, Marcelo retorna. Reclamo da demora, até conto que um cara chegou em mim, mas ele coloca a culpa na fila grande do banheiro masculino. Subimos, então, para a pista principal dentro do casarão. Com a luz baixa e o som altíssimo, naturalmente, os corpos se libertam mais, como se o escuro e o barulho formasse um véu, onde, por trás, os desejos pudessem se revelar, enfim, menos despudorados. Entre os raios de luzes, azul, vermelho, amarelo, verde, sob o olhar atento superior de um globo brilhante e patrocinados pelo álcool as pessoas dançam, pulam e se engolem. No meio da pista, enquanto passamos, um rapaz olha a menina que vem na direção oposta e quando se encontram, sem trocar nenhuma palavra, se beijam por apenas dez segundos e seguem, cada um seu rumo, para os nortes originais.

- Você viu isso? Meu deus... – digo.

- Normal.

- Ele nem falou nada, saiu beijando.

- Às vezes não se precisa de palavras para falar. O desenrole é com o olhar. Ele diz que quer, ela concorda e eles se beijam, tudo apenas com o olhar.

- Impressionante.

- É por que você nunca foi ao carnaval da Bahia.

- Não tenho mais idade para essa muvuca, já quis ir, mas o tempo passou.

- Você não tem noção da energia que é, é uma felicidade extrema.

- Você fala com uma propriedade. Já deve ter feito igual a esse cara muitas e muitas vezes.

Ele responde rindo e com a maior falsidade do mundo:

- Que isso... Óbvio que não.

Ignoro a mentira e sigo, na tentativa de extrair o lado do universo masculino:

- Mas me explica, pra que dar um beijo de dez segundos e sair andando?

- O nome disso é beijo de sapo.

- Como é que é? Beijo de sapo?

- É, ora, beijo de sapo. Esse beijo assim rápido, que dá tempo de só uma linguada – responde botando a língua pra fora e imitando um sapo. Obviamente, tenho que rir da idiotice.

- Eu nunca tinha escutado essa! Beijo de sapo.

- Você quer experimentar um beijo de sapo?

- Quero - tenho que entrar na brincadeira - Me dá um beijo de sapo.

- Vai, então, se afasta. Vem de lá q eu venho de cá e nos encontramos no meio.

Afasto-me, damos alguns passos pra trás e Marcelo faz o mesmo. Ele dá o sinal e caminhamos, marcando bem os passos, numa sensualidade brega.

- Sensualiza mais com o olhar, diz que me quer – ele grita para que eu escutasse no meio da barulheira.

Levanto as sobrancelhas e dou uma leve beliscada nos lábios. Ele sorri em aprovação. Sem tirar os olhos um do outro, quase um jogo de sério, nos encontramos e Marcelo me agarra, como um golpe de arte marcial, um mata-leão, me beija, passando a língua exagerada na minha língua, me babando e solta. Gargalhamos em seguida.

- Pronto. Você agora ganhou um beijo de sapo.

Eu o examino, viro, reviro, olho de cima a baixo. Marcelo, contudo, não consegue entender a piada brega que está por vir. Minha expressão é de estranheza. Dessa vez meu teatro está bom:

- Que estranho. Beijei o sapo, mas não virou príncipe.

Voltamos a rir alto e nos abraçamos felizes. O momento está tão gostoso. Tão besta, bobo, talvez infantil, mas tão divertido. Entretanto, no meio da gargalhada, vejo de relance algo muito esquisito. Volto o rosto para analisar melhor. Tenho que chegar perto para ter certeza, enquanto Marcelo vem atrás de mim, já percebendo que há algo de errado.

O Homem do Futuro do PresenteOnde histórias criam vida. Descubra agora