Capítulo 4 - Ela amará Ele (part. 7)

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Por ter trabalhado até tarde, no dia anterior, acordo na quinta-feira um pouco mais tarde e chego à redação por volta das onze da manhã. Em pouco tempo já era a parada do almoço... Em pouco tempo já estava na hora de voltar pra casa. Todo esse tempo, claro, pensando na hipótese de ter encontrado Marcelo no Maracanã. Alguns segundos de diferença e talvez estivéssemos saindo pela mesma porta. Seria muito azar ou muita sorte? Não sei. Essas ausências de respostas acerca de tudo relacionado ao Marcelo, ao mesmo tempo em que me deixava agoniada, inflamava meus sentimentos por ele. As incertezas me mantinham alimentando os pensamentos em sua pessoa, pagando o alto preço do aluguel dele no meu coração. Eu queria descobri-lo melhor, eu queria saber a verdade, eu queria confirmar as hipóteses, eu queria amá-lo. Sem dúvida, vê-lo me fez mal, eu estou angustiada, com a minha cabeça sem saber processar tantos dados. Resolvo então, já saindo da redação, mandar uma mensagem para Bianca confirmando o chope e ela me responde positivamente em caixa alta e com cinco exclamações ao final. Ótimo, eu iria conversar com minha amiga, desabafar, quem sabe ela também desabafasse do caso inexplicável dela com Murilo, a bebida ia descer, falaríamos besteiras, ficaríamos alegres e eu esqueceria o idiota do meu namorado do futuro. Chego em casa, dou boa noite para minha mãe que já preparava o jantar, separo a roupa que irei sair, tomo um banho, sento à mesa e me sirvo do maravilhoso risoto de queijo brie com rosbife feito com carinho de mamãe. Volto ao meu quarto e começo a me arrumar. Mesmo uma simples ida ao barzinho merece uma produção feminina, ainda mais no desamparo sentimental em que me encontro. Tenho que me sentir bonita, ser notada, enfim, erguer minha autoestima. A produção tem que ser caprichada, contudo, não pode ser chamativa. Os outros devem enxergar a beleza de relance, não em função de um clarão. Visto, então, um short preto e uma blusinha branca, me maqueio, chamo o uber e desço. Hoje, eu voltaria para casa bem melhor, sem as lamúrias sobre o sumiço de Marcelo consumindo minha cabeça, ele seria afogado em um copo de cerveja e o corpo restaria perdido no fundo do copo, em sacolas pretas.

Como sempre, chego antes de Bianca. Peço ao garçom uma mesa para duas pessoas e, com o bar cheio, como toda sexta-feira, ele me pede para aguardar. Fico na porta, olhando as pessoas e mexendo no celular. Aquele buchicho do bar lotado, pessoas ocupando todas as mesas e muitas outras bebendo confortavelmente em pé, na calçada mesmo, já me causa boas sensações, elas estão felizes, conversam entusiasmadas, riem, contam histórias, os homens tirando vantagem de algum envolvimento sexual (será que meu caso com Marcelo foi jogado à mesa e recebido com altas gargalhas? Homem do futuro? Risos, posso ver muitos risos, com certeza), as mulheres fofocando, como sempre. Enfim, há vida, vida fora das lamentações. O garçom então chama e me leva até uma mesa encostada com a grade. Ele puxa a cadeira para que eu me sente e me entrega o cardápio, após o ter recolhido de outra mesa. Sem nem olhar o menu e antes que o garçom desaparecesse para atender as pessoas de outra mesa que já o chamavam aflitas, peço um chope. O relógio marca nove e meia e meu copo encontrava a sua metade, quando, Bianca, pontualmente atrasada, chega. Ela demora a me achar, naquele formigueiro de gente, tenho que dar uma levantadinha, balançar a mão para que Bianca consiga me ver. Assim que nossos olhares se encontram ela abre um sorriso e caminha em minha direção. Cumprimentamo-nos com dois beijinhos e ela se senta a minha frente.

— Nossa, está cheio demais isso aqui hoje – diz.

— Muito. Quinta-feira, mó calorão, povo quer beber mesmo.

— Mas e aí, me conta, como você está? Ele apareceu afinal? – ela faz a pergunta sem nem pestanejar, com um largo sorriso, cuja resposta pôde facilmente decifrar pela minha expressão que se fez presente antes das palavras.

— Nada, desapareceu completamente do mapa – respondo, exterminando o sorriso da face dela, que se compadece com meu sofrimento. Ela se detém a me olhar, antes de prosseguir, como se me analisasse e quisesse decifrar exatamente a natureza e a profundidade da minha dor.

O Homem do Futuro do PresenteOnde histórias criam vida. Descubra agora