Capítulo 1 Ela conhecerá Ele(part. 6)

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- Dona Amanda, o Marcelo está aqui na portaria. Disse que precisa falar com você.

- Tudo bem, avisa que já estou descendo.

Enquanto eu recolocava o sapato pensava: "o que será que ele quer?", "será que esqueci algo no carro?" Olho a minha bolsa e parece tudo estar lá. "Um brinco, talvez, perdido naquela confusão de mãos?" Também não, confiro e eles adornam a minha orelha ainda. Saio de casa, chamo o elevador e quando abro a porta e o avisto no portão do prédio simplesmente não posso acreditar. Ele está com a camisa social verde dobrada, o relógio de couro, uma calça completamente diferente da que vestia o "Marcelo do Presente". Saio já falando desde longe:

- Não acredito – e rio alto – não acredito que você fez isso. Você se trocou só para fazer essa cena?

- Eu não me troquei, Amanda, meu eu do presente já deve estar chegando em casa a essa hora. E aí, agora acredita em mim? Não disse que hoje seria o dia que nos conheceríamos e daríamos o nosso primeiro beijo?

- Você não pode estar falando sério, até onde você vai com essa brincadeira? – respondo chegando mais perto e sinto o maravilhoso cheiro do perfume dele.

- Não tem nenhuma brincadeira aqui. Não foi maravilhoso nosso primeiro beijo?

- Sério, Marcelo, a gente ficou, você conseguiu o que queria... E você quer saber? Adorei seu beijo, sua companhia, quero te ver de novo, mas essa história já deu. Eu preciso dormir, amanhã eu trabalho, tenho que acordar cedo, me deixa subir...

- Você não entende. Eu voltei no tempo para relembrar nossos momentos. Daqui a um ano exatamente nós vamos nos separar e eu queria viver isso de novo... Eu precisava disso...

- Tudo bem, homem do futuro. Você quer mais um beijo? Eu estou cansada dessa cena, mas, vamos lá.

Ele aproxima o rosto bem devagar, com a feição completamente diferente daquela anterior, ele me olha meloso, terno. 

E quando nossos lábios se tocam não há nem vestígio daquele furacão. É um beijo de amor, não de paixão. Nós beijávamos devagar, lentamente, de olhos bem fechados,apertadinhos, um beijo de saudade, com os lábios valorizando cada toque, cada segundo dentro do outro. 

Ele para, me olha nos olhos, e me encara com os olhos agradecidos, como alguém que há muito implorava por viver aquele momento de novo, e volta a beijar, deixa a ponta do lábio repousada no meu e eles grudam. O beijo é de um casal que se conhece há muito tempo, de um casal que já se pertencia, de um casal que se ama. Suas mãos encostam meu rosto e me acalmam, me fazem sentir segura, de que nada pode nos atingir. 

Saio deste beijo mais desequilibrada do que com o dado no carro. Havia sido maravilhoso, eu estava arrepiada, tinha tanta emoção, tanto sentimento que eu não tenho capacidade sequer de falar nada. Atordoada, abro o portão e entro no prédio sem me despedir, sem emitir nenhum som, enquanto ele, com as mãos nas grades e a cabeça entre elas, como se não pudesse perder um instante sequer da minha figura, me acompanha ir.

O Homem do Futuro do PresenteOnde histórias criam vida. Descubra agora