sonhadora

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Dormi rapidamente. Não imaginei que estivesse tão cansada, mas a verdade é que de fato estava.
Acabei sonhando com aquele homem,  meu hóspede ferido, que sofrera um ataque quase mortal e que estava dormindo no quarto ao lado.
"Sonho"
Eu estava no bosque e parecia perdida, meu consciente dizia que isso era impossível porque  conhecia aquele bosque como a palma da minha mão. Caminhava em várias direções e nenhuma delas me levavam à minha casa. Começava a ouvir uma voz rouca me chamando e quando me virava lá estava ele. Lindo sem nenhum ferimento ou hematoma. Ele me olhava e seus olhos cinzentos demonstravam tanto desejo que me senti ficar corada e completamente encharcada. Ele me dizia que tinha vindo me salvar e em alguns minutos estávamos em minha casa. Já no terraço da casa ele me puxava e me beijava ardentemente e nos perdíamos em beijos e abraços.
"Fim do sonho"
Estranhei, pois mesmo na parte do sonho em que nos beijavamos eu continuava ouvindo sua voz me chamar.
Levantei num sobressalto e  constatei que não era sonho, ele estava realmente me chamando. Vesti o roupão e corri para lá.
Quando entrei ele estava gemendo de dor e gritando meu nome.
- Carlos me fala onde é  a dor?
- Aqui. Ele fala apontando o lado direito do abdômen.
- Você fez algum esforço? Tentou levantar?
- Não. Eu acho que esqueci e acabei me virando dormindo.
- deixa eu te examinar.
Peguei a maleta e fiz um exame clínico, porém só um raio x me daria a  dimensão do problema. Ele estava com febre alta e isso poderia ser sinal de sepse devido aos traumas internos e externos.
- Carlos preciso te levar ao hospital. Temos que fazer um raio x e alguns exames de sangue.
- POR FAVOR NÃO! Gritou pra mim. - faz qualquer coisa, me dá um remédio, uma injeção, me deixa morrer, mas não me tira daqui. Eu não estarei seguro em lugar nenhum enquanto não souber quem sou e porque fizeram Isso comigo.
Ele fala e grita de dor pelo esforço. Me vejo desesperada pela primeira vez em anos de medicina, não sei o que fazer para salva-lo. Tudo que preciso está no hospital.
- Carlos não posso te deixar morrer.
- Ana eu não quero morrer. Só não me leva daqui.
Nesse momento lembro que tenho as injeções de penicilina em algum lugar. Saio do quarto correndo e entro no meu procurando as injeções no meu armário de medicamentos.
Peguei uma das ampolas e rapidamente preparei a seringa. Falei pra ele que iria aplicar no braço e que não se mexesse pois ia doer um pouco. 
Quando peguei no seu braço para posicionar de modo a facilitar o meu trabalho  senti um tremor no corpo e isso não passou despercebido aos olhos dele. Penso que sentiu também, pois me olhou de um modo diferente.
Depois da injeção sentei na poltrona e pedi que descansasse um pouco.
Passei o restante da noite olhando para aquele belo exemplar de homem na minha frente e imaginando quem poderia querer fazer mal a ele.
Por volta das 4:30 da manhã verifiquei e ele já estava sem febre. Dormia um sono tranquilo e com a respiração leve. Resolvi sair do quarto e ir cuidar dos meus afazeres.
Fui para o jardim, precisava respirar aquele ar fresco e gelado para amenizar o turbilhão que estava dentro de mim. Precisava entender o que aconteceu comigo e por mais que tentasse só consegui pensar mais ainda nele.
Já eram quase oito horas quando resolvi ir ver como ele estava. Para minha surpresa, e devo confessar alegria, ele estava bem e me deu um sorriso de molhar a calcinha.
- Como se sente Carlos?
- estou ótimo. As dores passaram e sinto que se você me der uma mãozinha consigo ir ao banheiro tomar um banho.
- dou sim, vem vou te ajudar a levantar.
O ajudo a levantar da cama e lhe entrego as roupas que comprei para ele.
- Não precisava Ana. Quando eu lembrar quem sou acertarei tudo com você.
- Não há com o que se preocupar.  Você não poderia ficar aqui sem roupas não é mesmo. "Bem que poderia sim". Falou meu consciente e me fez corar igual a um tomate.
- vou fazer o café da manhã para nós. Avisei e sai correndo do quarto antes que ele percebesse.
Quando estava tudo pronto na cozinha o vi chegando. Jesus, o homem é um Deus grego. Mesmo com os machucados ele era lindo.
- senta aqui.  Falei apontando uma das cadeiras para ele.
Servi nosso café e comemos em silêncio. Era melhor assim.
Quando terminamos coloquei uma poltrona reclinável na varanda lateral da casa. Eu iria trabalhar na horta daquele lado e poderia ficar de olho nele pra o caso de alguma emergência. Trabalhei incansavelmente por três horas e todas as vezes que olhava em sua direção ele estava me olhando atentamente.
Já eram quase meio dia quando fui fazer o almoço para nós.
- Nada de comida pesada. Falei servindo o almoço. Filé de peixe à parmegiana, arroz com cenouras e salada de folhas verdes com uvas.
- Está uma delícia Ana. Além de excelente médica ainda é uma exímia cozinheira. Parabéns.  Falou erguendo o copo de suco para brindar.
Terminamos o almoço e o ajudei a deitar. Ele estava melhor, porém não era bom abusar da sorte. Dei suas medicações e em pouco tempo ele adormeceu. Voltei para minha rotina me perguntando o que seria de nós se ele nunca recobrasse a memória.
Sempre pensei que não conseguiria, mas depois de tantos anos, ter companhia estava sendo bom.

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